sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Claudio Puty X Alfredo Costa. DS X CNB. O script se repete?



Por CHARLES ALCÂNTARA e HUMBERTO LOPES


Desde 2001 há uma espécie de ritual nos embates do PT de Belém. As decisões que necessitam dos votos dos filiados são tomadas em dois turnos.No segundo turno enfrentam-se representantes do Campo Majoritário - atualmente Construindo um Novo Brasil - e da esquerda petista, papel desempenhado desde 2005 pela Democracia Socialista.
Considerando os números do primeiro turno das prévias do PT, realizadas em 22 de janeiro, quer-se exercitar algumas reflexões, quais sejam:
a) A proporção de filiados aptos a votar era grande ou pequena?
b) A participação dos aptos foi grande ou pequena?
c) A votação de Alfredo Costa e Cláudio Puty correspondeu ao tamanho de cada um?
d) É possível a prospecção do resultado do 2º turno?
O PT em Belém tem pouco mais de quinze mil filiados.Destes, 9011 quitaram-se para votar em 22 de janeiro. Como esse mecanismo de quitação com antecedência foi utilizado pela primeira vez, não há média histórica que possibilite a comparação.
Mais importante é a informação de que o Diretório Municipal processou onze mil quitações e depois descobriu que duas mil delas foram pagas em duplicidade. O filiado cuja quitação foi constatada em duplicidade teve mais uma anuidade regularizada. Assim decidiu a Executiva Municipal do partido.
Mais que explicitar desorganização, isso é um dos sintomas da alienação do filiado em relação à sua situação interna,assim como da deterioração do papel tanto da liderança quanto do dirigente petista.
O que ocorre no PT é uma delegação de dupla face. De um lado o mandatário delega ao seu militante de base/cabo eleitoral o recolhimento de nomes para compor sua lista de delegados/eleitores nas instâncias partidárias e lhe oportuniza os meios para a participação dos mesmos. De outro lado o filiado de base confia no militante local (líder comunitário, sindicalista, assessor parlamentar) para intermediar sua relação com o partido.
Ora, como o PT se tornou um partido de massa eis que um grande contingente dos seus filiados - mormente os arregimentados após a chegada do partido aos governos federal e estadual - assemelha-se ao eleitor comum: não nega o voto a nenhum candidato com chances de vitória. Assim, surgem as autorizações para dois ou, em casos extremos, três militantes regularizaram o mesmo filiado.
Mas também os mandatos se autonomizaram em relação às tendências.
Cada parlamentar tem sua própria lista de eleitores/filiados. Uma tendência desorganizada e descentralizada acaba tendo nomes sobrepostos. Sem contar os militantes "independentes", que têm ligações com diversos mandatos.
Temos então uma tríade que reflete a atual falta de clareza do petismo: um filiado que há muito deixou de ser militante e tornou-se eleitor; militantes que tornaram-se cabos eleitorais, factíveis de serem cooptados de um mandato para outro e, por fim, mandatários e dirigentes que têm como foco a sua manutenção no poder e/ou emprego, mesmo à custa de sacrifícios organizativos ou programáticos.
A segunda questão pode ser mais simples de ser respondida. Já abordamos o problema das listas pré-fabricadas a partir dos núcleos de disputa do poder no interior do partido. A abstenção de 60% dos aptos reflete a ignorância do filiado em relação à vida de seu partido. Ainda assim, este percentual é o mesmo de 2009, quando o PT estava no governo do Estado. Em termos numéricos, é coerente com a votação histórica na capital. Infla-se a filiação sem muscular a militância.
A terceira reflexão diz respeito à votação obtida pelo vereador Alfredo Costa e pelo deputado federal Cláudio Puty.
o que explica a considerada baixa votação de Alfredo, se este contava com o apoio de duas grandes correntes que, somadas, possuem dois deputados federais, cinco estaduais e três vereadores?
Em primeiro lugar, os mandatos de deputados que o apoiaram tem baixo impacto na capital. Não é correto medir por essa régua.
Uma segunda medida deve ser feita. A aderência real à sua candidatura.
Compulsando o mapa do segundo turno de 2009 com as previas desse ano, vê-se que distritos com lideranças importantes da Articulação Unidade na Luta (Paulo Rocha) ou do PTPráValer (GANZER)mobilizaram aquém do esperado.
O deputado Claudio Puty, por sua vez, também pode ter sido vítima dessas - não digamos traições - abstenções.
É que virou praxe no PT que chegou ao poder a chantagem pela omissão.
Grupos ou filiados não participam do processo de 1º turno para barganharem seus votos em segundo escrutínio. Mas há outro condicionante: os interesses dos candidatos a vereador em 2012 e os reflexos desta eleição em 2014.
Essa questão se LIGA A outra: a previsão do resultado.
Tem-se dito da imprevisibilidade, em função do tamanho da abstenção.
A abstenção, todavia, ficou na média histórica do PT em Belém. E o 2º turno pode desaguar numa participação ainda menor dos filiados.
Por isso, no pano verde, pode-se antever que Alfredo Costa será o candidato a prefeito do PT em Belém, pelos seguintes motivos:
A) A tendência construída a partir de 2007, de virada em favor da CNB nas contendas com a DS;
B) O apoio de Bordalo decidirá a disputa em favor de Alfredo, desde que esse apoio seja efetivo e engajado, e não meramente formal, pois o deputado tem controle rígido sobre seus articuladores de base;
C) Alfredo tem mais condições de manietar os "abstêmios" de seu grupo do que Claudio Puty. Parte considerável das insatisfações no campo majoritário costuma ser resolvida pela via nacional. Os descontentamentos com Puty, resvalam, com freqüência, para o campo pessoalou para um patente interesse Em evitar que a DS recupere poder, pois esteve à frente da gestão petista do governo estadual, que acabou por reabilitar o PSDB no Pará;
D) O esgotamento das alianças da DS. Puty, em se tratando de grupos organizados, ampliou o que foi possível no primeiro turno. apesar da ampliação no arco de alianças, a votação da DS caiu em todos os distritos. Em relação ao segundo turno das eleições para o diretório municipal em 2009, o eleitorado da DS caiu de 2227 (votos obtidos por Suely Oliveira no 2º turno das eleições para o Diretório Municipal do PT) para 1535(votos obtidos por Puty no 1º turno das prévias). Essa diminuição é mais dramática quando pesamos o fato de que setores ligados à Unidade na Luta (que amealham cerca de 100 votos) e Almir Trindade - que obteve cerca de 600 votos em 2009 - já estão no arco de apoio a Puty desde o 1º turno. Ou seja, a DS tem pouca margem de manobra para política geral. (Resta saber se terá folêgo e habilidade para o varejo.)
Pode pesar contra Alfredo o fato de que Puty tem pautado a sua atuação na Câmara dos Deputados pelo bom mocismo, expresso no comportamento fiel às orientações do Palácio do Planalto.
Puty não está metido nas escaramuças da bancada do PT, sempre vota com o governo e seu discurso é sempre positivo à Dilma. Não há razão, supomos, para que a cúpula do PT nacional e o Planalto interfiram na disputa do PT local ao ponto de atritar-se com o deputadoem nome da candidatura a uma eleição que aparentemente não é prioridade para as lideranças do PT.

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