Fogo deixa herança sombria em Minas
Estado, que enfrenta uma semana de chamas na Serra do Cipó e ontem teve duas cidades entre as 10 com mais focos de incêndio no país, deve esperar anos até que a natureza se recupere por inteiroFauna e flora castigadas: queimadas causam estrago que dura anos, apesar de plantas mais resistentes brotarem nas primeira chuvas |
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Minas Gerais lidera o número de queimadas do país nas últimas 48h
Parque Estadual Serra do Rola-Moça fica vulnerável a constantes queimadas
Áreas queimadas em unidades de conservação neste ano superam a média histórica em 33%
Nas queimadas, os prejuízos são inúmeros, com destruição de diversas formas nativas de vegetação e morte de insetos, répteis, anfíbios e outros organismos. Cobras e aves são espécies bastante atingidas, o que leva a desequilíbrio em toda a cadeia alimentar, obrigando animais a percorrer grandes distâncias em busca de alimentos. Outro dano imperceptível, mas extremamente sério, pelo efeito-cascata que desencadeia, é a destruição da microfauna. Trata-se de um conjunto de organismos microscópicos essenciais para a alimentação de animais herbívoros que, por sua vez, são alimento dos carnívoros.
As queimadas em matas alteram também a qualidade e a quantidade de água que chega às cidades. No Parque da Serra do Rola Moça ficam seis dos mananciais que abastecem Belo Horizonte e região metropolitana. Com a destruição da vegetação, o solo fica menos permeável, uma vez que são as raízes que permitem a penetração da água da chuva. Com isso, menos água chega ao lençol freático e há mais erosões dos terrenos.
O professor Bernardo Gontijo, do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destaca o poder destrutivo do fogo, mas lembra que, com a chegada da chuva, a natureza mostra sua capacidade de recuperação. Ele, porém, explica que as plantas que voltarão a brotar nessa áreas atingidas são, geralmente, as de raízes profundas, o que as faz ter proteção maior contra os incêndios.
Seca fora dos padrões
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, sobrevoou ontem o Parque Nacional da Serra do Cipó, na Região Central de Minas, uma das áreas de proteção nacional atingidas pelo fogo no estado. Segundo ela, o Sudeste vive uma estiagem “fora da curva”. “É uma época de muita seca, talvez uma seca única, do ponto de vista do que está acontecendo aqui no Sudeste”, disse.
Segundo boletim divulgado pela administração do parque nacional ontem, a unidade de conservação já havia perdido 7.052,73 hectares de vegetação, o que representa 22,3% da área total. Está empenhada no combate uma equipe de 47 brigadistas do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), 14 do Ibama, integrantes da Brigada Municipal de Jaboticatubas, além de cerca de 20 voluntários, que atuam diretamente nas frentes de fogo e em atividades de apoio logístico, como distribuição de alimentos, água e em funções administrativas.
Segundo dados da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), do início do ano até este mês os incêndios atingiram 6,9 mil hectares apenas em áreas de preservação sob responsabilidade do estado. Outros 8,8 mil hectares no entorno dessas unidades também foram afetados. As áreas de preservação estaduais em Minas, que somam cerca de 100 mil hectares, são divididas em estações ecológicas, reservas biológicas, parques estaduais, monumentos naturais e refúgios de vida selvagem. O total de focos de incêndio no estado ultrapassou o do ano passado. Até este mês, foram 10.608 pontos, contra 7.180 em outubro de 2013.
A Grande Belo Horizonte é uma das regiões mais afetadas. Já foram registrados incêndios em áreas urbanas, como nos bairros Sion e Belvedere, Região Centro-Sul de BH, ou próximo à rodovia MG-020, no Bairro Ribeiro de Abreu, Norte da capital, e nas proximidades da BR-381, no km 435, em Sabará. Em Vespasiano também houve queimada em vegetação. Ontem, segundo relatório dos Bombeiros, foram registradas, até as 17h, 18 ocorrências de incêndio em vegetação na região metropolitana, 15 em matas e três em lotes vagos.
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