Sabesp deveria ter feito um novo Cantareira em dez anos
Hoje, o Cantareira abastece a Região Metropolitana com 31 m3/s, sendo 24,8 m3/s para atender o consumo da população
por Agência Estado
Nos dez anos da outorga do Sistema Cantareira, que se encerra em agosto
de 2014, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
(Sabesp) deveria ter aumentado sua oferta hídrica para a Região
Metropolitana de São Paulo (RMSP) em 25 metros cúbicos de água por
segundo. Esse volume, equivalente à vazão atual do Sistema Cantareira
para abastecimento público, seria necessário para atender o aumento
populacional da região no período e, ao mesmo tempo, reduzir a
dependência do sistema. É o que informa um documento sobre a
"criticidade e dependência hídrica da Região Metropolitana de São
Paulo", juntado ao inquérito civil instaurado pelo Grupo de Atuação
Especial do Meio Ambiente (Gaema) do Ministério Público (MP) estadual em
Piracicaba para acompanhar a renovação da outorga.
De acordo com a promotora do Gaema, Alexandra Facciolli Martins, o
compromisso de reduzir a dependência do Cantareira, que nesta
quarta-feira, 09, está com apenas 12,5% da capacidade, foi assumido pela
Sabesp na renovação da outorga em 2004, mas nesse período pouco se fez
para ampliar o abastecimento. "Tanto que, mesmo numa situação de grave
crise hídrica, continua sendo retirado um volume de água acima da vazão
primária máxima para a Região Metropolitana, com risco de colapso do
sistema e em detrimento da bacia do PCJ (Piracicaba, Capivari e
Jundiaí)", disse.
Hoje, o Cantareira abastece a Região Metropolitana com 31 m3/s, sendo
24,8 m3/s para atender o consumo da população. A água dos rios que
formam o sistema abastece também municípios das regiões de Piracicaba e
Campinas, mas a vazão máxima liberada para o interior é de 5 m3/s.
Em documentos encaminhados à Agência Nacional de Águas (ANA) e ao
Departamento de Água e Energia Elétrica (Daee), os promotores do Gaema
manifestam preocupação com as informações contidas no Plano Diretor de
Aproveitamento dos Recursos Hídricos para a Macrometrópole, de que até
2035 serão necessários 60 mil metros cúbicos de água por segundo para
abastecer a metrópole paulistana, expandida pelas regiões metropolitanas
de Campinas, Vale do Paraíba, Baixada Santista e Sorocaba. Desse
volume, 25 metros cúbicos por segundo serão para abastecimento público,
"o que significará mais um Sistema Cantareira para atender à nova
demanda", segundo o documento.
A Sabesp deveria ter feito um novo Sistema Cantareira em dez anos (Foto: Divulgação/Sabesp)
Conforme a promotora, a proposta de renovação da outorga por mais dez
anos mantém a dependência do Sistema Cantareira. Em razão da crise
hídrica, as negociações para a renovação foram suspensas pela ANA e a
outorga atual deve ser prorrogada por um ano. O MP quer que a pauta
inclua as demandas futuras das regiões que formam a macrometrópole
paulista. "Está havendo uma saturação de atividades, empreendimentos e
crescimento populacional e não se impõem limites. Até onde existirão
alternativas de abastecimento para atender a esse crescimento
desenfreado?", questionou a promotora.
Investimentos
A ANA informou que as informações solicitadas pelo Ministério Público
estão sendo respondidas e que as demandas futuras são consideradas na
concessão de outorgas. A Sabesp informou ter investido R$ 9,3 bilhões de
1995 a 2013 para elevar a integração do sistema de abastecimento e o
volume de água disponível para a Região Metropolitana de São Paulo.
Nesse período, a capacidade de produção subiu de 57,6 para 73,2 m3/s -
só esse aumento abasteceria Salvador e Fortaleza. O esforço eliminou o
rodízio que vigorou de 1995 a 98, beneficiando 5,2 milhões de pessoas.
Ainda segundo a Sabesp, com a Parceria Público-Privada do Sistema São
Lourenço, um investimento de R$ 2,2 bilhões, serão mais 4,7 m3/s de água
para a região oeste, beneficiando 1,5 milhão de pessoas a partir de
2018. A empresa informou ter investido na redução de perdas, que caiu
oito pontos nos últimos dez anos, e no programa de reúso da água. Para
minimizar os efeitos da estiagem, foram adotadas medidas como criação do
bônus para quem economizar água em toda a RMSP, transferência de água
dos sistemas Alto Tietê e Guarapiranga para usuários do Cantareira,
início das obras para utilização da reserva estratégica (volume morto) e
campanha para incentivar a economia de água.
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