quarta-feira, 9 de abril de 2014

Alimentos e transportes empurram inflação para cima

Alimentos e transportes empurram inflação para cima

Por Redação, com Reuters e ABr - do Rio de Janeiro

O gráfico mostra a evolução dos preços e dos juros, desde 2000
O gráfico mostra a evolução dos preços e dos juros, desde 2000 – Fonte: Reuters
A forte alta nos preços de alimentos e transportes elevou a inflação oficial, demonstrada no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a 0,92% em março, maior avanço para esses meses em 11 anos e acima das expectativas, ultrapassando o patamar de 6% no acumulado em 12 meses mesmo após um ano de aperto da política monetária.
A inflação oficial do país atingiu 6,15% em 12 meses em março, ante 5,68% em fevereiro, quando havia avançado 0,69% na comparação mensal, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira. Com isso, o IPCA aproxima-se cada vez mais do teto da meta de inflação do governo, de 4,5%, com margem de 2 pontos percentuais para mais ou menos.
A taxa mensal foi a maior para março desde 2003, quando subiu 1,23%, e ficou acima da visão mais pessimista em pesquisa da Reuters de alta de 0,90%. O mesmo aconteceu para a inflação acumulada em 12 meses. De acordo com o IBGE, o principal responsável pelo resultado mensal de março foi o grupo Alimentação e Bebidas, que sozinho foi responsável por 51% do IPCA todo. Com alta de 1,92% em março, após avanço de 0,56% no mês anterior, o grupo teve impacto de 0,47 ponto percentual no indicador.
Entre os destaques neste grupo aparecem produtos importantes na mesa do consumidor como tomate, com alta mensal de 32,85% e batata inglesa (35,05%).
– A seca na lavouras foi a principal causa da alta dos alimentos e afeta o pasto do gado e o custo da agropecuária – afirmou a economista do IBGE Eulina Nunes dos Santos, que destacou ainda a possibilidade de especulação de preços e do impacto defesado do dólar mais alto.
A alta dos preços dos alimentos já vinha pressionando os índices inflacionários recentemente. A expectativa agora é se essa alta ao consumidor vai começar a arrefecer, acompanhando a descompressão no atacado. A primeira prévia de abril do IGP-M, divulgada mais cedo, mostrou desaceleração da alta dos preços de produtos agropecuários no atacado, mas no varejo o avanço da alimentação superou 1%.
“Alimentação provavelmente vai desacelerar porque já foi transferida com totalidade a pressão do atacado para o varejo. Acho que o pior já passou e já se refletiu”, avaliou a economista da CM Capital Markets Camila Abdelmalack.
Impacto individual
O grupo Transportes também pesou sobre o IPCA de março, com alta mensal de 1,38%, após a queda de 0,05% em fevereiro. Com isso, teve o segundo maior impacto no indicador, com 0,26 ponto percentual no mês passado. Esse avanço é resultado do comportamento dos preços das passagens aéreas, que tiveram alta de 26,49% em março, após queda de 20,55% no mês anterior, e registrando o principal impacto individual no IPCA, de 0,12 ponto percentual.
– Como o carnaval foi em março este ano, a procura por passagens aumentou e os preços subiram mais – explicou Eulina, do IBGE.
Juntos, os grupos Alimentação e Bebidas e Transportes responderam por 79% do índice do mês, destacou o IBGE. Mesmo assim, o índice de difusão do IPCA subiu a 71% em março, sobre 64,3% em fevereiro, nas contas do banco Fator.
As expectativas para o comportamento da inflação neste ano vêm se deteriorando gradualmente, também em meio à perspectiva de risco dos custos de serviços e dos preços administrados, estes ressaltados pelo próprio BC. Em março, a alta do índice de serviço desacelerou mas ainda assim permaneceu ligeiramente acima de 1%, acumulando em 12 meses avanço de 9,09%, segundo o IBGE.
Juros mais altos
Já os preços administrados tiveram variação negativa de 0,02%, após alta de 0,40% em fevereiro, mas em abril vão sofrer pressão de aumento da tarifa públicas em importantes localidades, como energia elétrica em Belo Horizonte e ônibus urbano em Porto Alegre.
De olho na inflação, o BC elevou a Selic em 0,25 ponto percentual, a 11%, na semana passada, num processo de aperto iniciado em abril do ano passado. Mas embora ele próprio tenha ressaltado anteriormente o cenário adverso de preços, sinalizou que o fim do ciclo está próximo.
– O fato de as pressões inflacionárias serem altamente generalizadas e as expectativas continuarem se deteriorando, aumentam as chances de que o BC tenha que elevar a Selic em mais 0,25 ponto na reunião de maio – escreveu em nota o diretor de pesquisa econômica do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos.
Após o resultado acima do esperado do IPCA, ligeira maioria das apostas no mercado futuro de juros indicava nova alta de 0,25 ponto na reunião de maio, mas o tom era de cautela à espera da ata da última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que será divulgada na quinta-feira.
Não estava descartada a possibilidade de manutenção da taxa básica de juros no próximo mês, encerrando o atual ciclo de aperto.

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