domingo, 29 de dezembro de 2013

Comissão da Verdade investiga nova versão sobre morte de Jango

Comissão da Verdade investiga nova versão sobre morte de Jango

Para os familiares, João Goulart não morreu de parada cardíaca. Ele teria sido envenenado no período da ditadura militar

Jango foi deposto pelos militares, que instauraram a ditadura no país
Pedido da família de João Goulart foi aceito pela Comissão Nacional da Verdade
PUBLICADO EM 29/12/13 - 12h50
Brasília - A versão sobre a morte do ex-presidente João Goulart, deposto com o golpe militar de 1964, pode ser revista, após 37 anos. Este ano, a pedido da família, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) iniciou uma investigação sobre a causa da morte do ex-presidente. A versão oficial diz que Jango, como era chamado, morreu de ataque cardíaco, mas para os familiares ele foi envenenado no período da ditadura militar, na chamada Operação Condor.
Jango governou o país de 1961 a 1964, quando foi deposto pelo golpe militar. Após o golpe, ele se exilou com a família no Uruguai e, depois, na Argentina, onde morreu, no dia 6 de dezembro de 1976 em Mercedes, cidade do Norte do país. A partir de março de 2013, quando foi anunciada a investigação, a CNV começou a reunir documentos que mostram que Goulart era constantemente vigiado pela ditadura.
Para a família, Jango foi vítima de envenenamento, como parte da Operação Condor, ação coordenada entre os regimes militares de países sul-americanos contra seus opositores.
Além da documentação, a versão da família se baseia no depoimento de Mario Neira Barreiro, um uruguaio que atuou na repressão militar em seu país. Em 2006, ele declarou à Polícia Federal que o ex-presidente foi envenenado tendo seus comprimidos, que tomava por causa de um problema cardíaco, trocados. Mario disse ainda que atuou com o apoio da CIA, o Serviço de Inteligência Americano, e do delegado Sergio Fleury, então chefe do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo. “Foi uma operação muito prolongada e a gente não sabia que teria como objetivo a morte do presidente João Goulart”, relatou.
Em maio, foi anunciada a exumação dos restos mortais para serem periciados. O trabalho, feito em novembro envolveu, além da CNV, o Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul, a Secretaria de Direitos Humanos e a Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.
A exumação foi um dos trabalhos mais importantes feitos pela CNV em 2013. A equipe de peritos de diversas disciplinas forenses, coordenada pelo Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, contou com o apoio de técnicos argentinos e uruguaios e da Cruz Vermelha Internacional que, com o conhecimento adquirido em casos como o da exumação dos restos mortais do ex-presidente chileno Salvador Allende, exerceram a função de peritos independentes.
Após terem sido exumados, os restos mortais estão sendo submetidos a exame antropológico, como medição de ossada, tomografia e radiografia, e de DNA, para confirmação de identidade. As amostras de cabelos, ossos e tecidos também passarão por exame toxicológico, com o objetivo é verificar a hipótese de morte por envenenamento.
Os peritos procuram traços de remédios que eram usados por Jango, além de substâncias que podem levar à morte. As amostras serão enviadas para laboratórios no exterior, que já foram definidos, mas que não serão divulgados para não comprometer os resultados e a transparência do processo.
O estado em que o corpo foi encontrado surpreendeu os legistas da CNV e, na prática, segundo os peritos, isso deve colaborar para um resultado mais preciso dos exames.
Embora a exumação tenha surpreendido os peritos, o resultado dos exames poderá não ser conclusivo, devido ao grande espaço de tempo entre a morte e a exumação.
A expectativa da comissão e dos parentes de Goulart é que os resultados sejam entregues no fim do primeiro semestre do ano que vem. Segundo a portaria que criou o grupo de trabalho para conduzir o processo, as atividades serão encerradas após a entrega do laudo oficial conclusivo das atividades periciais à ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos, e à Comissão Nacional da Verdade.

COM AGÊNCIA BRASIL

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