sábado, 12 de outubro de 2013

'Vou andar, brincar e correr', diz menino que perdeu as pernas no AC

Luan perdeu a irmã e as duas pernas após serem atropelados por ônibus.
Garoto de 9 anos vai começar a usar próteses.

Yuri Marcel Do G1 AC
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Dia das crianças, menino (Foto: Yuri Marcel/G1)Luan perdeu as pernas em novembro de 2012 (Foto: Yuri Marcel/G1)
Até um ano atrás, o menino Luan de Lima Pereira, de nove anos, levava uma vida normal. Vivia com a mãe Maria José de Lima Pereira e a irmã Laiane de Lima Pereira, de 10 anos, em Cruzeiro do Sul (AC), onde vivia, gostava de brincar e jogar vôlei com os amigos. O revés em sua vida ocorreu em novembro de 2012, quando ele foi vítima de um acidente que matou sua irmã e fez com que ele tivesse as duas pernas amputadas.

"Eles costumavam ir para aula de manhã e estavam próximos à escola. Na hora em que eles iam atravessando, um ônibus veio em alta velocidade e acertou os dois. Eu estava em casa quando vieram me avisar que o ônibus havia matado meus dois filhos, saí as pressas e quando cheguei encontrei minha filha morta, coberta no asfalto e soube que tinham levado o Luan para o hospital. Me desesperei", lembra a mãe.

Do acidente e dos 12 dias que ficou na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) poucas lembranças restaram para Luan. Quando o menino tenta lembrar o que aconteceu é possível notar a angústia que sente. No entanto, apesar de perder as duas pernas não é da sensação de mobilidade que ele mais sente falta. "Sinto muita falta da minha irmã", diz.
Luan de Lima Pereira (Foto: Yuri Marcel/G1)Mãe fala dos desafios que enfrenta com o filho desde o acidente (Foto: Yuri Marcel/G1)
Saga
Desde o acidente a mãe de Luan o acompanha e modificou completamente sua vida para dar suporte ao filho. Ao ouvir dos médicos ainda em Cruzeiro do Sul que dificilmente o filho poderia voltar a andar, mesmo com o uso de próteses, ela não hesitou em fechar o comércio que possuía e viajou com o menino para Rio Branco em busca de tratamento.

Na capital acreana ela se mobilizou para conseguir tratamento e um local para que eles vivessem e ainda assim, tentar manter o garoto estudando. "Cheguei em Rio Branco em junho apenas com uma maleta e algumas roupas atrás de conseguir uma prótese para ele. Primeiro fui para casa de uma conhecida, mas tive que sair de lá, depois fui para a casa de uma irmã, mas ficava em uma estrada de terra e não tinha como sair com o Luan na cadeira de rodas e eu tinha que carregá-lo no braço", conta.

Atualmente, eles ocupam um quarto localizado embaixo de um comércio na Avenida Antônio da Rocha Viana, em Rio Branco, mas os problemas de acessibilidade continuam, pois, para sair do local eles precisam enfrentar uma escada estreita com aproximadamente 20 degraus. "Todo dia tenho que subir e descer com o Luan no braço e depois novamente com a cadeira para ele poder sentar. Faço isso no mínimo duas vezes por dia", salienta.

Maria José diz que apesar das dificuldades conseguirá superar a tragédia. "Deus me deu força e coragem e tenho certeza que vou vencer, mas a perda da minha filha é insuportável. Não esqueço e ela não sai do meu coração. Ela era uma pessoa boa, dedicada, me ajudava em casa, era meus pés e mãos", lembra.
Luan de Lima Pereira (Foto: Yuri Marcel/G1)Luan de Lima está pronto para utilizar as próteses  (Foto: Yuri Marcel/G1)
Recuperação surpreende
A recuperação do menino surpreendeu a equipe médica. "No início a gente chegou a pensar que ele não poderia andar devido a lesão [uma amputação no fêmur na região próxima a virilha] ser um pouco alta, mas insistimos e vimos que dava certo e agora estamos em processo final para que ele possa utilizar a prótese", comemora a fisioterapeuta Aline Cremonez, que acompanha o caso.
Segundo ela, o desafio atualmente é descobrir qual a altura e o tamanho do pé que as próteses deverão ter. Porém ela fala da alegria de trabalhar com o menino. "A melhor terapia é o Luan, ele beija, brinca, sorri a gente sabe que a história dele não é fácil, mas quem não sabe, não diz que ele passou por tudo isso", enfatiza.
Na fisioterapia, contrariando os diagnósticos iniciais, ele conseguiu se habilitar para o uso de prótese rapidamente. "Prevíamos começar a tirar medida para a prótese em seis ou sete meses, mas ele conseguiu em cinco meses e sempre para cima, nunca para baixo", comenta a fisioterapeuta.
E Luan diz que já sabe o que vai fazer no momento em que puder ficar novamente em pé. "Pretendo andar, vou brincar e tentar correr", planeja.
'Nunca procurou a gente'
Apesar da situação, a maior reclamação da comerciante é falta de apoio da Real Norte, empresa que era responsável pelo veículo que atropelou Luan. "A empresa nunca procurou a gente. Na missa de sétimo dia minha filha mais velha pediu que eles fizessem 100 camisas com a foto da Laiane, deu R$ 500. Três meses depois chegou a cobrança porque a empresa não tinha pago o valor. Daí mais nada, não nos procuraram", denuncia.

Ela diz se sentir magoada. "Estão sendo muito injustos comigo, quem está me ajudando são pessoas de coração bom. Era obrigação deles arcar com médicos e com o tratamento do Luan. É nosso direito, eu perdi uma filha e meu filho perdeu as pernas", lamenta.

Durante duas semanas, o G1 procurou pelos representantes da empresa, porém, como a empresa não atua mais no Acre, eles não foram encontrados e o advogado dela não atendeu aos telefonemas da reportagem.

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