Em resposta à voz das ruas, os presidentes da Câmara, do Senado e o
ministro da Previdência agiram como se existisse “passe livre” nos
aviões da FAB.
Desde que convenceram os colegas a votar, incessantemente, temas de
grande repercussão popular – de modo que o Congresso desse algum tipo de
resposta à fúria das ruas –, o presidente da Câmara dos Deputados,
Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e o do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), pensavam voar acima dos protestos. Mas foram abatidos em
terra na semana passada. O jornal Folha de S.Paulo revelou que ambos
recorreram a aviões da FAB, mantidos com recursos dos contribuintes,
para cumprir agendas de interesse estritamente particular. O ministro da
Previdência, Garibaldi Alves, a exemplo de seu primo Henrique, também
usou jatinho da FAB para ir ao Rio de Janeiro assistir à final da Copa
das Confederações. Para choque do país, os passeios aconteceram após a
onda de manifestações de junho. Ficou a certeza de que os três nada
aprenderam com os protestos. Ou melhor, de que aprenderam, inspirados
nos manifestantes, a usar um “passe livre” nos aviões da FAB.
As viagens não poderiam ser mais simbólicas no atual momento. Henrique
Alves pediu um jatinho para deslocar-se de Natal, onde estava, na
sexta-feira, dia 28, para o Rio de Janeiro, a fim de acompanhar o jogo
do Brasil contra a Espanha na final da Copa das Confederações no
domingo, dia 30. Sem enrubescer, ofereceu carona para a mulher, filhos e
amigos, num total de sete passageiros embarcados para o Rio. Após o
jogo, o grupo subiu feliz na aeronave para retornar à capital potiguar.
Renan Calheiros viajou de Maceió para Porto Seguro, na Bahia, no dia 15
de junho, num jatinho igual ao usado por Alves, para testemunhar o
casamento de Brenda Braga, uma das filhas do líder do governo no Senado,
Eduardo Braga (PMDB-AM). Após o casório, Renan e sua mulher, Verônica,
rumaram para Brasília. Garibaldi disse apenas que usou o avião para
voltar de um compromisso oficial em Fortaleza para o Rio, em vez de
Brasília, pois também planejava assistir ao jogo.
Para se defender, Henrique Alves afirmou de improviso que seguiu para o
Rio porque tinha encontro de trabalho com o prefeito carioca, Eduardo
Paes. Só admitiu como erro ter convidado familiares e amigos para
acompanhá-lo. Pressionado, afirmou ter ressarcido aos cofres da União R$
9.700 (valor correspondente à ida e à volta em voo comercial entre
Natal e Rio de Janeiro) e não os custos (mais de 15 vezes isso) de uso
de um jatinho. Diante da pressão, Renan informou na sexta-feira, dia 5,
que devolveria R$ 32 mil aos cofres públicos.
A legislação é clara quanto ao uso dos aviões da FAB pelos chefes de
poderes, ministros de Estado e comandantes das Forças Armadas: em casos
de segurança e emergência médica, viagem a serviço ou deslocamentos para
locais de residência permanente. É evidente que os casos de Alves,
Renan e Garibaldi não se enquadram em nenhuma dessas situações. A
depender do corporativismo na Câmara e no Senado, Henrique Alves e Renan
não têm motivos para preocupação. Ninguém falou até agora em punição.
Quanto a Garibaldi, cabe à Procuradoria-Geral da República ou ao Comitê
de Ética da Presidência tomar alguma atitude. É inaceitável o silêncio
daqueles que continuam se recusando a ouvir a voz das ruas.
Fonte: Época
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