"Acho que ainda há bolsões de intolerância muito fortes e não declarados no Brasil", declarou o atual presidente do STF
Da Redação
O atual ministro e presidente do Supremo Tribunal
Federal (STF), Joaquim Barbosa, concedeu uma entrevista polêmica ao
jornal O Globo, que foi publicada na edição deste domingo (28). Dentre
os temas abordados na conversa com a jornalista Míriam Leitão, Barbosa
afirma que o Brasil não está preparado para um presidente da República
negro e afirma que já sofreu com o racismo em sua trajetória
profissional.
"Acho que ainda há bolsões de intolerância muito
fortes e não declarados no Brasil. No momento em que um candidato negro
se apresente, esses bolsões se insurgirão de maneira violenta contra
esse candidato", declarou, citando que já existem casos deste tipo na
mídia. Como exemplo, refere-se ao que considera uma invasão de
privacidade do jornal Folha de São Paulo, que expôs a compra de um
imóvel nos Estados Unidos feita por Barbosa.
O ministro também aproveitou para criticar os gastos
públicos do Brasil: "O Brasil gasta muito mal. Quem conhece a máquina
pública brasileira, sabe que há inúmeros setores que podem ser
racionalizados, podem ser diminuídos". Ele também afirmou que no dia 1º
de agosto irá anunciar a data em que serão analisados os recursos dos
réus do mensalão, mas preferiu não dizer se estes serão presos ou não.
Em relação ao preconceito racial, Barbosa acredita
que há um caminho muito maior para o país percorrer. "Ainda não vejo
essa ascensão dos negros como algo muito significativo. Há muito caminho
pela frente. Ainda há setores em que os negros são completamente
excluídos", disse. Em sua opinião, o ministro também salienta que é
preciso discutir abertamente o problema, caso se queira resolvê-lo.
O presidente do STF ainda confirmou que ele mesmo já
foi alvo de racismo em suas experiências profissionais: "Discriminado
eu sempre fui em todos os trabalhos, do momento em que comecei a galgar
escalões. Nunca dei bola. Aprendi a conviver com isso e superar. O
Itamaraty é uma das instituições mais discriminatórias do Brasil".
E, falando especificamente sobre o caso sofrido no
Itamaraty, ele aproveitou para dar uma alfinetada: "Passei nas provas
escritas, fui eliminado numa entrevista, algo que existia para eliminar
indesejados. Sim, fui discriminado, mas me prestaram um favor. Todos os
diplomatas gostariam de estar na posição que eu estou. Todos".
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