terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Veja fatores que levaram à queda de jato com Campos, segundo o Cenipa


Veja fatores que levaram à queda de jato com Campos, segundo o Cenipa

Desorientação e atitude dos pilotos contribuíram para acidente em 2014.
Sobrecarga no comandante pode ter induzido ele ao erro, diz relatório final.


O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) apresentou nesta terça-feira (19) a conclusão sobre a investigação da queda do jato Cessna 560 XLS+, em que morreu o então candidato à Presidência da República Eduardo Campos em 13 de agosto de 2014.

Outras seis pessoas morreram no acidente, que ocorreu em Santos, no litoral de São Paulo.

A investigação do Cenipa, que é um órgão da Aeronáutica especializado na apuração de tragédias aéreas no país, tem como objetivo a prevenção de novos acidentes do mesmo tipo e não aponta culpados. Ainda estão em curso investigações criminal e cível (responsabilização), a cargo da Polícia Federal e Ministério Público Federal.
Segundo o Cenipa, um conjunto de fatores levou à queda, começando pelas dificuldades meteorólogicas do aeroporto de Santos, a falta de treinamento para operar o avião, além do cansaço e as dificuldades de entrosamento entre os dois pilotos, que levaram a uma desorientação espacial e um possível erro. A aeronave estava em alta velocidade quando bateu no chão.

"A aeronave estava descendo em uma situação bem agressiva", disse o tenente-coronel Raul de Souza, chefe da investigação. "O elevado ângulo negativo e a potência dos motores é característica que a pessoa estava desorientada" no momento da queda, acrescentou ele.

Veja abaixo os fatores apontados pelo Cenipa:

Fatores que contribuíram para o acidente
O Cenipa afirma ter certeza que atuaram na tragédia
* Atitude dos pilotos: eles pegaram rota diferente do previsto na carta para a aproximação do aeroporto, não seguindo os procedimentos e perderam a chance de pouso. A ação errada foi causada "possivelmente" pelo excesso de confiança do comandante.
* A desorientação espacial: estresse e alta carga de trabalho no momento de arremeter, com chuva e falta de visão da pista, além das manobras exigidas sem o treinamento adequado, levaram os pilotos a se perderem no que estava acontecendo. O avião caiu com alta velocidade e ângulo negativo (bico para baixo) e motores com alta potência.
* Indisciplina de voo: ao tentar se aproximar da pista, o avião fez uma curva à esquerda, sem motivo, e também desviou da aerovia que deveria seguir. Os pilotos mentiram posições e usaram velocidade errada à recomendada, com pouca possibilidade de conseguirem o pouso. Também não seguiram as regras determinadas pelos manuais para a arremetida.

* Condições meteorológicas: eram mínimas para o pouso e abaixo do mínimo para a arremetida. Eles só fariam a arremetida segura se tivessem feito tudo certo desde o início. Sem verem a pista, com chuva, vento forte e sem informações antecipadas sobre a mudança do tempo, era difícil estabilizar o avião.

Fatores indeterminados
A investigação acha relevantes, mas não conseguiu comprovar até que ponto interferiram no acidente

* Aplicação dos comandos: o fato do avião ter aumentado muito o ângulo negativo (bico para baixo) e a velocidade "pode ter sido resultado de aplicação de comando exageradas", segundo o relatório. Ou seja, os pilotos podem ter aumentado a velocidade achando que estavam subindo, e não descendo.

* Sobrecarga de tarefas: possibilidade do comandante ter acumulado tarefas na arremetida, devido a uma possível dificuldade do copiloto em ajudá-lo, podem tê-lo induzido a erros de pilotagem ou desorientação.

* Características da tarefa: a rotina de campanha de Eduardo Campos criava uma autopressão nos pilotos para a conclusão das programações, levando-os a operar com pouca segurança.

* Dinâmica da equipe: pilotos tinham dificuldade de integração devido à pouca convivência e diferença de formação. Segundo o relatório, o comandante tinha postura impositiva e confiante, e o copiloto, uma ação passiva.
* Fadiga: resultados de análise de voz mostraram fadiga e sonolência no copiloto.

* Formação, capacitação e treinamento: os pilotos não tiveram treinamento para arremeter no Cessna 560 XLS+, a aeronave envolvida no acidente, o que pode ter exigido grande esforço e apreensão. Eles também não sabiam as diferenças entre os aviões antigos da família Cessna, que eram acostumados a pilotar, e o que estavam operando.
* Fraseologia do órgão ATS: o aeroporto de Santos não informou nas mensagens ao piloto as condições de visibilidade da pista. A falta destas informações pode ter levado os pilotos a accreditarem que o tempo estava como o previsto.
* Memória:  como o comandante já tinha feito uma aproximação visual por um sistema chamado FMS no avião, ele pode ter achado que poderia fazer o mesmo procedimento, mas o manual para este avião prevê uma sequência de comandos específica.
* Percepção: pilotos não tinham percepção ideal das condições meteorológicas na pista e por isso não se preocuparam com a segurança
* Planejamento de voo: o mapa meteorólogico que os pilotos viram antes da decolagem e que previa chuva e degradação rápida do clima, mostrava que isso mudaria até o pouso. Eles podem não ter feito uma boa análise dos dados.
* Processos organizacionais: pilotos tinham uma habilitação ampla para operarem aeronaves da família Cessna 560, e não foram questionados por quem os contratou sobre a experiência em usarem o avião de um modelo bem mais moderno. Não havia um sistema formal de recrutamento, seleção e treinamento dos pilotos para este modelo.
Sistemas de apoio: apesar de terem a habilitação, os pilotos não fizeram instrução e teste em voo. Eles também tinham recebido apenas treinamento em versões anteriores do avião que pilotavam. Um mês antes do acidente, uma nova norma da Anac passou a exigir um treinamento específico, mas os pilotos só precisariam provar esta especialização, quando fossem renovar a habilitação.
 O Cenipa aponta uma falha no sistema em vigor no Brasil para a programação de pousos e decolagens (chamado de DCerta) que, na época, não recusou plano de voo mesmo com a nova norma em vigor.
Infográfico acidente Eduardo Campos (Foto: Editoria de Arte/G1)Infográfico acidente Eduardo Campos (Foto: Editoria de Arte/G1)

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