Confusão e
pânico. Enquanto 50 ambulâncias e dois helicópteros levavam os feridos
para 13 hospitais, familiares tentavam desesperadamente encontrar os
seus entes queridos. Ao mesmo tempo, sobreviventes do terrível acidente
deixavam as composições ainda desorientados.
"Vi crianças feridas, mulheres com braços e pernas
partidos, pessoas banhadas em sangue. Foi terrível. E depois. todos
desesperados por sair dali", contava Débora, uma das testemunhas. "Não
vou nunca esquecer essas imagens. Gente com a cabeça aberta. Todos a
gritar no chão e fumaça por todos os lados", descrevia emocionado
Horácio.
"Houve o impacto. As luzes apagaram-se (ainda não havia
amanhecido). Os assentos soltaram-se. Todos fomos parar ao chão e
gritavam", relembra José, passageiro de um dos comboios, ainda em estado
de choque.
Autocarro prensado na plataforma
Eram 6h23 da manhã. Os comboios estavam lotados de
pessoas que seguiam para o trabalho e de crianças que rumavam à escola.
Foi quando um dos comboios envolvidos embateu num autocarro que tentava
atravessar os trilhos. O autocarro foi arrastado até a plataforma da
estação onde ficou prensado.
Com o embate, o comboio descarrilou, avançou pela linha
paralela e chocou contra outra composição que estava parada na mesma
estação mas no sentido contrário.
Todos os 11 mortos eram passageiros do autocarro,
inclusive um bebé. Mais de 24 horas depois do acidente, defesa civil e
polícia ainda trabalham no local.
Buenos Aires tem uma particularidade. A cidade é toda
recortada por ferrovias, mas não há túneis nem viadutos nos cruzamentos
com as ruas. Apenas luzes, sinais sonoros e cancelas que sobem e descem à
medida que um comboio passa. Com frequência, motoristas e pedestres
impacientes desrespeitam as cancelas. E muitas vezes as cancelas não
funcionam corretamente, o que leva os condutores a tentarem passar com a
cancela baixa.
Neste caso, a empresa de comboios Trens de Buenos Aires
(TBA) e o Governo dizem que a cancela funcionava bem e atribuíram a
culpa, em primeira instância, ao motorista do autocarro, morto no
acidente, por não respeitar o sinal.
Cancela estava a 45 graus
Imagens gravadas por câmaras de segurança da Polícia
mostram o autocarro a avançar com a cancela semi-fechada (em ângulo de
45 graus), mas também mostram que a cancela não funcionava bem. Minutos
antes, um funcionário da empresa indicava aos carros que passassem mesmo
com a cancela baixa.
O porta-voz da TBA, Gustavo Gago, admite que nas horas
de ponta passa "um comboio a cada oito minutos em cada sentido" e que
isso representa "um comboio a cada quatro minutos", o que leva "as
cancelas a ficarem mais tempo em baixo do que levantadas" e a permitir a
livre circulação de motos, carros e pessoas.
"Mesmo com a cancela em posição de 45 graus, ninguém
pode passar", afirmou Juan Pablo Schiavi, secretário de Estado dos
Transportes.
Nos últimos nove meses, foram registados cinco
acidentes graves com comboios em Buenos Aires. Só no ano passado, 440
pessoas e 165 veículos foram atingidos por comboios na região
metropolitana de Buenos Aires, e registaram-se 269 pessoas morreram. Ou
seja, em média uma morte a cada dois dias.
Em 2008, a Presidente Cristina Kirchner anunciou por
duas vezes a construção de passagens subterrâneas na linha ferroviária
(Sarmiento) onde ocorreu este grave acidente, mas três anos depois as
obras ainda não saíram do papel.
Veja o acidente:
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