Terminou sequestro em hotel do Mali. 27 corpos encontrados
Capacetes azuis revelaram que encontraram 27 corpos em dois dos andares do hotel Radisson de Bamako
Os
capacetes azuis encontraram 27 corpos no hotel de luxo em Bamako, no
Mali, que hoje foi atacado por 'jihadistas' com ligações à Al-Qaeda.
Fonte oficial da ONU disse à Reuters que 12 dos corpos estavam na cave
do hotel e outros 15 no segundo andar, citando um relatório que ainda é
preliminar. Os capacetes azuis, soldados da ONU, continuam a auxiliar as
autoridades do Mali nas buscas que estão a realizar no hotel.
Oficialmente
estão apenas confirmadas três vítimas mortais, segundo disse porta-voz
do ministro da Segurança Interna, ao início da tarde, que indicou que as
nacionalidades estavam a ser verificadas. O mesmo responsável disse que
os reféns foram libertados graças à intervenção das forças especiais e
referiu que havia "dois ou três" assaltantes.
Disparos
de armas automáticas foram ouvidos no hotel, com 190 quartos,
localizado no centro da capital maliana, na manhã de hoje. "Está tudo a
acontecer no sétimo andar, os 'jihadistas' estão a disparar no
corredor", descreveu uma fonte de segurança à agência noticiosa francesa
AFP.
Os
disparos foram também confirmados por um agente de segurança à Reuters.
"As forças de segurança estão a agir dentro [do hotel] e estão a
garantir a segurança de cada andar, libertando os reféns que estão nos
quartos. São dezenas, talvez uma centena, que continuam lá dentro",
afirmou.
França
anunciou que tinha enviado 40 polícias de uma unidade de elite da
polícia militarizada ("gendarmerie") e ainda uma dezena de elementos da
polícia científica.
O
Presidente francês, François Hollande, havia afirmado que França iria
fazer "todo o possível" para conseguir a libertação das pessoas feitas
reféns. "No contexto que todos conhecemos, pedimos aos nossos cidadãos
que tenham uma cautela extrema. (...) A vida não para, nem tão pouco a
atividade económica, em todos os países que precisam de nós, mas é muito
importante que pensem também na segurança", assinalou o chefe de Estado
francês.
Grupos com ligações à Al-Qaeda reivindicam ataque
Os
grupos terroristas Al-Qaida no Magrebe Islâmico (AQMI) e Al Murabitun
reivindicaram o "ataque conjunto" de hoje. A reivindicação foi feita
numa declaração por telefone à agência de notícias privada da Mauritânia
Al Ajbar, considerada bem relacionada com grupos 'jihadistas' da região
do Sahel, em que os dois grupos afirmam que realizaram o ataque contra o
hotel de luxo Radisson Blu numa ação conjunta. Esta é a primeira vez
que as duas organizações 'jihadistas' declaram ter operações conjuntas. O
Al Murabitun, liderado pelo argelino Mokhtar Belmokhtar, é um dos
grupos mais ativos na região do Sahel.
Alerta para a possibilidade de mais ataques
A
ONU em Bamako está "em máximo alerta", dado existirem ameaças em
relação a outros pontos da capital maliana, disse Carla Lopes Duarte,
funcionária da Missão das Nações Unidas no Mali.
"Há
possibilidade de haver outros incidentes (...) ainda hoje, portanto
estamos em máximo alerta", disse a portuguesa, contactada
telefonicamente em Bamako, onde se encontra há seis meses.
Carla
Lopes Duarte indicou que a representação da ONU foi aconselhada pelos
serviços de segurança malianos a ter "muito cuidado neste momento porque
há vários pontos de ameaça". "Não sabemos quem fez as ameaças",
adiantou. A portuguesa tinha informações de que "foram mortos alguns
funcionários do hotel" e que entre os reféns se encontrarão consultores
da ONU: "Em princípio há três colegas nossos que estão lá dentro, pode
haver mais."
Embaixada portuguesa em Dacar está a acompanhar a situação
O
Governo português não dispõe, até ao momento, de informação sobre
vítimas entre cidadãos nacionais no Mali. Fonte oficial do Ministério
dos Negócios Estrangeiros afirmou que o ministério está a acompanhar a
situação através da embaixada de Portugal em Dacar, no Senegal.
A
embaixada está "a contactar representantes das empresas portuguesas com
elementos a trabalhar no Mali", mas a mesma fonte do ministério indicou
que a maioria está sediada em Dacar.
O ministério adiantou também que "não há registo de problemas com os militares nacionais" que se encontram naquele país.
Não
há nenhuma missão portuguesa neste momento no Mali mas Portugal tem
destacados 13 militares no Mali, dos quais dois na missão da ONU
(MINUSMA), no quartel-general da missão, em Bamako, e 11 na missão da
União Europeia, de treino e formação das Forças Armadas daquele país.
Dos 11 militares na missão de treino da UE, oito estão noutra cidade, no
centro de treino de Koulikoro, de acordo com o porta-voz do Estado
Maior General das Forças Armadas.
O
cantor guineense Sékouba 'Bambino' Diabate, que se encontrava no hotel e
que foi um dos reféns libertados pelas forças especiais, garantiu à
Reuters que os assaltantes falavam inglês. "Ouvi-os dizer em inglês:
"Carregaram-na [a arma]? Vamos". O artista lamentou no entanto não os
ter conseguido ver.
A agência noticiosa
chinesa, Xinhua, afirmou que pelo menos sete cidadãos nacionais estavam
entre os reféns, enquanto a companhia aérea turca Turkish Airlines
informou que sete funcionários foram apanhados no ataque. O ministério
das Relações Exteriores da Índia confirmou à AFP que também havia 20
cidadãos indianos entre os reféns no hotel Radisson Blu.
Entre
as pessoas alojadas no hotel, encontravam-se também uma delegação da
Organização Internacional da Francofonia e participantes num encontro de
novas tecnologias, disseram fontes de segurança e trabalhadores do
hotel à agência de notícias EFE.
Ibrahim
Boubacar Keita, o presidente do Mali, interrompeu uma viagem ao Chade,
para uma cimeira regional, e terá regressado ao país.
Mali tem sido alvo de vários atentados
A
7 de março deste ano, um atentado contra um bar-restaurante em Bamako
fez cinco mortos, entre os quais um cidadão belga e um francês,
tratando-se do primeiro ataque deste tipo realizado na capital do Mali.
Em
agosto passado, ocorreu uma outra tomada de reféns de mais de 24 horas
num hotel da cidade do Mali, que provocou a morte a quatro soldados e
cinco funcionários da ONU, bem como aos quatro atacantes.
Os
grupos islâmicos têm levado a cabo ataques no Mali desde junho, apesar
de um acordo de paz entre os rebeldes tuaregues no norte do país e
grupos armados rivais pró-Governo.
O
norte do Mali esteve entre março e abril de 2012 sob controlo de grupos
'jihadistas' com ligações à Al-Qaeda, na sequência de um golpe militar.
Os
grupos foram dispersados e perseguidos após uma intervenção militar
internacional lançada em janeiro, por iniciativa da França, cujas forças
militares se mantêm ainda no país.
No entanto, há várias zonas que escapam ao controlo das forças militares malianas e estrangeiras.
Há
muito concentrados no norte do país, os ataques 'jihadistas'
estenderam-se desde o início do ano para o centro e, desde junho, para
sul do território.
(Notícia atualizada às 15:28)
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