quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Especialista diz que desastre seria menor com lama retida em usina

Especialista diz que desastre seria menor com lama retida em usina

Samarco não disse se possibilidade foi pensada e porque lama vai ao mar.
Ibama diz que serão construídos diques de filtração em Santarém.

Ingrid Castilho Do G1 ES
Peixes morrem com lama presente no Rio Doce (Foto: Carlos Dório Costa/ Arquivo Pessoal)Peixes morrem com lama presente no Rio Doce (Foto: Carlos Dório Costa/ Arquivo Pessoal)
Doutores em áreas do meio ambiente do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) visitaram, nesta segunda-feira (16), regiões afetadas pela lama proveniente do rompimento da barragem de Fundão da mineradora Samarco, cujas donas são a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton. Na visão dos especialistas, o impacto na bacia do Rio Doce poderia ser menor, caso as empresas responsáveis pelo desastre tivessem optado por reter a lama no reservatório de alguma usina pela qual passou.
O rompimento da barragem de rejeitos de minério aconteceu no dia 5 de novembro e causou uma enxurrada de lama no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na região Central de Minas Gerais. A lama chegou a Baixo Guandu, está perto de Colatina e deve chegar em Linhares nos próximos dias.
Os pesquisadores visitaram os municípios mineiros de Aimorés e Resplendor, em Minas Gerais; e de Baixo Guandu e Colatina, no Noroeste do Espírito Santo.
Em todos os pontos, foram coletadas amostras da água do Rio Doce que serão encaminhada para análises laboratoriais. A expedição ao Rio Doce também contou com a presença de cerca de 40 alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária Ifes.
Especialistas são professores do Instituto Federal  (Foto: Ingrid Castilho/ G1 ES)Especialistas são professores do Instituto Federal (Foto: Ingrid Castilho/ G1 ES)

O doutor em Recursos Hídricos e engenheiro agrônomo, Marco Aurélio Caiado, ressalta que, com a contenção da lama, o material presente nela poderia ser analisado, o que seria fundamental para determinar quais impactos e em quais proporções atingiriam o meio ambiente.
“É necessário saber quais elementos estão presentes na água com precisão e em que quais quantidades estão, para assim se verificar as melhores formas de solucionar esse problema. O impacto seria muito menor e as chances de conservar a bacia seriam maiores, caso essa lama fosse segurada. A decisão empresarial de liberar a água de rejeitos trará um impacto muito grande para o Espírito Santo, assim como trouxe para Minas Gerais”, ponderou Caiado.
O doutor em Ciências e engenheiro de Minas, Aurélio Azevedo Barreto Neto,disse que está claro que as empresas responsáveis têm a intenção de fazer com que a lama chegue ao mar, uma vez que, neste ambiente, a depuração do conteúdo poderia ocorrer de forma mais fácil. Mas ressalta que o preço que se paga por isso é a contaminação de todo o leito do Rio Doce.
“Caso houvesse a retenção poderia se usar um floculante, fazer com esse sedimento afundasse. Depois é possível dragar esse material, ou encontrar outra solução. O prejuízo ambiental seria bem menor, mas também teria um custo econômico muito alt, e alguém teria que pagar essa conta. O  problema é que com a passagem da lama, você vai degradando todo o percurso do vale do Rio Doce, toda bacia. Agora está tudo contaminado”, afirmou o doutor.
Mineradoras
Procurada pela reportagem do G1, a Samarco não informou se esta possibilidade foi pensada e não justificou o fato da lama estar sendo direcionada ao mar. A empresa disse, em nota, que “contratou uma empresa especializada para a realização de diagnóstico de toda a área atingida pela pluma de sedimentos, o qual subsidiará a elaboração do plano de recuperação por uma companhia com experiência internacional”.
Um dos pontos de parada dos pesquisadores foi a Usina Hidrelétrica Eliezer Batista, cuja a dona é também a Companhia Vale do Rio Doce (com 51% de participação), em associação com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig ).  A estrutura é conhecida como Usina de Aimorés, por se localizar no município mineiro, mas a hidrelétrica tem a sua caixa de força localizada no município de Baixo Guandu, no Espírito Santo.
A Vale também foi questionada pela reportagem do G1 sobre o fato da lama também não ser contida em nenhum local, inclusive na usina que pertence à mineradora. A empresa informou que “o trabalho de contenção e limpeza, assim como as análises do rio, está a cargo da Samarco”.
Ibama
Diversas possibilidades  para retenção da lama foram avaliadas pela Samarco. As usinas mantiveram vazão mínima para que não houvesse danos às estruturas, mas não era possível fechamento total das comportas.
O Ibama determinou à Samarco a adoção de medidas emergenciais para a contenção dos impactos ambientais. A empresa realiza nesta quarta-feira (18), próximo a barragem de Mascarenhas, o lançamento de floculantes e coagulantes para reduzir a carga de sedimentos no leito do rio.
Além disso, devem ser construídos diques de filtração na barragem de Santarém, para que a água que passe não continue carregando rejeitos para rio. Também serão instalados 20 km de barreiras flutuantes para evitar que a lama chegue a áreas sensíveis no estuário.
EDP
A EDP informou, em nota, que, de forma preventiva, a operação em Mascarenhas foi paralisada em virtude do volume de lama presente nos próximos dias no Rio Doce. "Para não comprometer o funcionamento das turbinas, até que a lama seja dispersada, a água será desviada para o vertedouro e seguirá o curso do rio", diz a empresa.

A empresa ainda esclareceu que a paralisação em Mascarenhas não influencia o abastecimento de energia elétrica para os clientes, uma vez que a concessionária faz parte do Sistema Interligado Nacional.
Novo infográfico barragens Mariana atualizado (Foto: G1)

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