"Vila Olímpica não pode virar Disney", diz dirigente do COB
A contagem regressiva para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro
em 2016 começou de vez, agora que faltam menos de 500 dias para a
cerimônia de abertura, em 5 de agosto do ano que vem. No esporte, a
corrida contra o tempo
é ainda maior para preparar as equipes com o objetivo de atingir aquilo
que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) traçou como meta: o top 10 no
quadro de medalhas.
A BBC Brasil conversou com o superintendente executivo do COB, Marcus Vinícius Freire, ex-atleta do vôlei masculino e medalha de prata
na Olimpíada de 1984, sobre a expectativa das equipes brasileiras para
os Jogos. O dirigente revelou conversas com Estados Unidos e
Grã-Bretanha para "aprender" a fazer uma boa preparação e conseguir
resultados expressivos em casa. E uma das lições foi um cuidado especial
com um local-chave da competição: a Vila Olímpica.
"Não podemos fazer da Vila Olímpica uma Disneylândia, abrindo para
qualquer um entrar", disse Freire. Apontando o vôlei e o judô como os
principais "contribuidores" para o Brasil atingir a meta traçada para
2016, o dirigente garantiu que, apesar de desafiador, o objetivo do
Brasil nos Jogos do Rio é "possível e real". Leia a seguir os principais
trechos da entrevista com Marcus Vinícius Freire.
Mudança no Esporte
"Nós temos uma chance única de mudar completamente o esporte no Brasil com essa Olimpíada, e nós usamos isso nos últimos cinco anos. Os brasileiros estão aprendendo sobre novos esportes,
badminton, tiro com arco, hipismo...coisas que eles nunca tinham ouvido
falar. E é muito bom para os três níveis de governo entenderem a
importância do esporte, e também para ter mais patrocinadores. Todos os
patrocinadores querem estar conosco agora para os Jogos em casa, nosso
objetivo é mostrar para eles que eles devem continuar conosco depois.
Nós temos um monopólio do futebol no Brasil e os Jogos Olímpicos são a
chance de mudar isso".
Medalhas
"Nossa meta para o Rio (top 10 no quadro de medalhas)
é a maior que já tivemos na História, para realmente mudar
completamente nossa participação nos Jogos. Quando você olha para o
quadro de medalhas, tem o primeiro grupo, que são os melhores - Estados
Unidos, Rússia e China
-, que conquista mais de 80 medalhas; o outro grupo, que também ainda
não é pra nós, que tem Grã-Bretanha, Austrália, França, Alemanha, que
ficam entre os 8 primeiros. A briga para nós é do nono lugar até o 17º,
que é o que ficamos em Londres. É uma briga de dez países. É uma meta
gigante, mas é uma meta possível e real. Temos potencial de medalha em
10 esportes, chegar a 28 medalhas no total é nossa meta. E essa é a
grande oportunidade de mudar completamente a mentalidade e as
possibilidades do esporte no Brasil, não só pra 2016, mas para o
futuro".
Delegação brasileira deve ter entre 400 e 500 atletas nos Jogos do Rio
"Normalmente temos seis ou sete modalidades com grandes chances de
medalhas. Agora precisamos de 10, 11 ou 12 pra atingir a meta. Nós temos
dois esportes que são a meta principal, que são judô e vôlei. Os dois
tiveram medalhas em Londres, o judô teve 4 e o vôlei também 4 contando o
vôlei de praia.
Nossa meta para o Rio é 6 ou 7 no judô e pelo menos 4 ou 5 no vôlei.
Precisamos que esses dois esportes correspondam a uns 33% da nossa meta.
Os dois esportes mais fortes para o Brasil nos Jogos em casa são judô e
vôlei. Os novos que tivemos bons resultados em mundiais seriam, por
exemplo, ginástica feminina e masculina, canoagem, tiro com arco.
Investimos bem em técnicos, porque entendemos que isso é importante, é
essencial para resultados, e também na ciência do esporte, investimos
bastante dinheiro nisso. A pequena diferença para o resultado está na bioquímica, fisiologia, psicológico, na ciência do esporte em geral".
Pressão
"Conversamos bastante com Estados Unidos e Grã-Bretanha sobre essa
pressão de jogar em casa. Entendemos que há a vantagem de jogar em casa
por conhecer o clima, o local de competições, ter torcida, mas tem a
desvantagem, que é a pressão de jogar em casa, a pressão dos familiares,
etc.
Para trabalhar isso, nós começamos dois meses atrás, com o apoio de
vários técnicos, a ter ideias juntos para entender qual é a melhor
estratégia para a equipe brasileira. Aprendemos com o time britânico,
por exemplo, que a Vila Olímpica precisa estar fechada para amigos,
namorados (as) e é preciso de outro espaço onde o atleta tenha contato
com a família, em vez de liberar a Vila Olímpica e fazer dela
uma Disneylândia. Outro exemplo, falamos com os técnicos sobre mídias
sociais, não é fácil controlar, porque eles usam o tempo todo, mas
queríamos entender o tempo de usar".
Futebol
"Entendo que temos um apoio maior agora, porque a CBF, por exemplo,
precisa da Olimpíada, eles precisam de um bom resultado agora porque
ainda não têm medalha de ouro nos Jogos. Está sendo feita a melhor
preparação para eles agora. Para as mulheres também. E nós precisamos
dessas duas medalhas pra atingir nossa meta.
Não é por causa do resultado ruim na Copa
que eles precisam do resultado na Olimpíada. Falávamos disso antes da
Copa. A Copa do Mundo, nós temos cinco, a Olimpíada, nós não temos
nenhuma. Essa é a ideia. Nós precisamos usar essa oportunidade de jogar a
Olimpíada em casa para finalmente conseguir isso".
Expectativa
"Acho que vai ser a melhor Olimpíada da história para o Brasil. Eu
estive em 12 Olimpíadas, eu pude ver como as equipes que jogavam em casa
conseguiam melhores resultados. Acho que a preparação foi melhor,
porque tivemos apoio de todos os lados, todos entendem que nós
precisamos ter a melhor equipe. Tivemos também o apoio de federações
internacionais, das federações de esportes que não temos tradição, eles
ajudaram a gente com
nossas equipes para termos atletas melhores nos Jogos. E tudo isso
somado vai fazer com que tenhamos o melhor resultado em casa, como a
Grécia teve, como a China teve, e a Grã-Bretanha.
Entendemos que para termos mais crianças praticando esporte, precisamos
do exemplo. Bons resultados nos esportes vão inspirar mais crianças a
praticá-los. Existe essa conexão. E usamos isso para dois planos, um é
pra jovens de 16 anos, porque a segunda parte da nossa meta é manter os
resultado para os Jogos de Tóquio (em 2020) e além de Tóquio. Usamos
como exemplo o vôlei. Começamos a máquina quando fomos medalhistas em
1984, depois 1992, depois só fomos evoluindo. Precisamos ter a mesma
coisa em outros esportes. Ter esse apoio ao esporte em todas as
instâncias é muito mais importante para o futuro do que pros próximos
500 dias".
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