quarta-feira, 25 de março de 2015

"Vila Olímpica não pode virar Disney", diz dirigente do COB

"Vila Olímpica não pode virar Disney", diz dirigente do COB


A contagem regressiva para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016 começou de vez, agora que faltam menos de 500 dias para a cerimônia de abertura, em 5 de agosto do ano que vem. No esporte, a corrida contra o tempo é ainda maior para preparar as equipes com o objetivo de atingir aquilo que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) traçou como meta: o top 10 no quadro de medalhas.
A BBC Brasil conversou com o superintendente executivo do COB, Marcus Vinícius Freire, ex-atleta do vôlei masculino e medalha de prata na Olimpíada de 1984, sobre a expectativa das equipes brasileiras para os Jogos. O dirigente revelou conversas com Estados Unidos e Grã-Bretanha para "aprender" a fazer uma boa preparação e conseguir resultados expressivos em casa. E uma das lições foi um cuidado especial com um local-chave da competição: a Vila Olímpica.
 Foto: Luiz Pires / Vipcomm
Marcus Vinícius Freire projeta Brasil no top 10 de medalhas em 2016
Foto: Luiz Pires / Vipcomm
"Não podemos fazer da Vila Olímpica uma Disneylândia, abrindo para qualquer um entrar", disse Freire. Apontando o vôlei e o judô como os principais "contribuidores" para o Brasil atingir a meta traçada para 2016, o dirigente garantiu que, apesar de desafiador, o objetivo do Brasil nos Jogos do Rio é "possível e real". Leia a seguir os principais trechos da entrevista com Marcus Vinícius Freire.
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Mudança no Esporte
"Nós temos uma chance única de mudar completamente o esporte no Brasil com essa Olimpíada, e nós usamos isso nos últimos cinco anos. Os brasileiros estão aprendendo sobre novos esportes, badminton, tiro com arco, hipismo...coisas que eles nunca tinham ouvido falar. E é muito bom para os três níveis de governo entenderem a importância do esporte, e também para ter mais patrocinadores. Todos os patrocinadores querem estar conosco agora para os Jogos em casa, nosso objetivo é mostrar para eles que eles devem continuar conosco depois. Nós temos um monopólio do futebol no Brasil e os Jogos Olímpicos são a chance de mudar isso".
Medalhas
"Nossa meta para o Rio (top 10 no quadro de medalhas) é a maior que já tivemos na História, para realmente mudar completamente nossa participação nos Jogos. Quando você olha para o quadro de medalhas, tem o primeiro grupo, que são os melhores - Estados Unidos, Rússia e China -, que conquista mais de 80 medalhas; o outro grupo, que também ainda não é pra nós, que tem Grã-Bretanha, Austrália, França, Alemanha, que ficam entre os 8 primeiros. A briga para nós é do nono lugar até o 17º, que é o que ficamos em Londres. É uma briga de dez países. É uma meta gigante, mas é uma meta possível e real. Temos potencial de medalha em 10 esportes, chegar a 28 medalhas no total é nossa meta. E essa é a grande oportunidade de mudar completamente a mentalidade e as possibilidades do esporte no Brasil, não só pra 2016, mas para o futuro".
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"Normalmente temos seis ou sete modalidades com grandes chances de medalhas. Agora precisamos de 10, 11 ou 12 pra atingir a meta. Nós temos dois esportes que são a meta principal, que são judô e vôlei. Os dois tiveram medalhas em Londres, o judô teve 4 e o vôlei também 4 contando o vôlei de praia. Nossa meta para o Rio é 6 ou 7 no judô e pelo menos 4 ou 5 no vôlei. Precisamos que esses dois esportes correspondam a uns 33% da nossa meta. Os dois esportes mais fortes para o Brasil nos Jogos em casa são judô e vôlei. Os novos que tivemos bons resultados em mundiais seriam, por exemplo, ginástica feminina e masculina, canoagem, tiro com arco. Investimos bem em técnicos, porque entendemos que isso é importante, é essencial para resultados, e também na ciência do esporte, investimos bastante dinheiro nisso. A pequena diferença para o resultado está na bioquímica, fisiologia, psicológico, na ciência do esporte em geral".
Pressão
"Conversamos bastante com Estados Unidos e Grã-Bretanha sobre essa pressão de jogar em casa. Entendemos que há a vantagem de jogar em casa por conhecer o clima, o local de competições, ter torcida, mas tem a desvantagem, que é a pressão de jogar em casa, a pressão dos familiares, etc.
Para trabalhar isso, nós começamos dois meses atrás, com o apoio de vários técnicos, a ter ideias juntos para entender qual é a melhor estratégia para a equipe brasileira. Aprendemos com o time britânico, por exemplo, que a Vila Olímpica precisa estar fechada para amigos, namorados (as) e é preciso de outro espaço onde o atleta tenha contato com a família, em vez de liberar a Vila Olímpica e fazer dela uma Disneylândia. Outro exemplo, falamos com os técnicos sobre mídias sociais, não é fácil controlar, porque eles usam o tempo todo, mas queríamos entender o tempo de usar".
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Futebol
"Entendo que temos um apoio maior agora, porque a CBF, por exemplo, precisa da Olimpíada, eles precisam de um bom resultado agora porque ainda não têm medalha de ouro nos Jogos. Está sendo feita a melhor preparação para eles agora. Para as mulheres também. E nós precisamos dessas duas medalhas pra atingir nossa meta.
Não é por causa do resultado ruim na Copa que eles precisam do resultado na Olimpíada. Falávamos disso antes da Copa. A Copa do Mundo, nós temos cinco, a Olimpíada, nós não temos nenhuma. Essa é a ideia. Nós precisamos usar essa oportunidade de jogar a Olimpíada em casa para finalmente conseguir isso".
Expectativa
"Acho que vai ser a melhor Olimpíada da história para o Brasil. Eu estive em 12 Olimpíadas, eu pude ver como as equipes que jogavam em casa conseguiam melhores resultados. Acho que a preparação foi melhor, porque tivemos apoio de todos os lados, todos entendem que nós precisamos ter a melhor equipe. Tivemos também o apoio de federações internacionais, das federações de esportes que não temos tradição, eles ajudaram a gente com nossas equipes para termos atletas melhores nos Jogos. E tudo isso somado vai fazer com que tenhamos o melhor resultado em casa, como a Grécia teve, como a China teve, e a Grã-Bretanha.
Entendemos que para termos mais crianças praticando esporte, precisamos do exemplo. Bons resultados nos esportes vão inspirar mais crianças a praticá-los. Existe essa conexão. E usamos isso para dois planos, um é pra jovens de 16 anos, porque a segunda parte da nossa meta é manter os resultado para os Jogos de Tóquio (em 2020) e além de Tóquio. Usamos como exemplo o vôlei. Começamos a máquina quando fomos medalhistas em 1984, depois 1992, depois só fomos evoluindo. Precisamos ter a mesma coisa em outros esportes. Ter esse apoio ao esporte em todas as instâncias é muito mais importante para o futuro do que pros próximos 500 dias".

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