Desagravo ao presidente da Câmara esvazia depoimento na CPI da Petrobras
12/03/2015
Fonte: por Hylda Cavalcanti, da RBA
PEDRO LADEIRA/FOLHAPRESS
Cunha disse aos parlamentares que se for preciso coloca seus sigilos à disposição
Elogios,
defesas, felicitações e pedidos para que seja dado “tratamento
isonômico” aos nomes citados na lista da Operação Lava Jato foram os
principais pontos abordados no depoimento do presidente da Câmara,
deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), concedido nesta quinta-feira (12) à
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras. Com o apoio de
deputados de vários partidos, Cunha negou todas as acusações contra ele e
disse que houve “utilização política” por parte do procurador-geral da
Republica, Rodrigo Janot, para colocá-lo na lista.
O
presidente da Câmara colocou seu sigilo à disposição dos parlamentares,
mas tanto o seu depoimento como as declarações de apoio a ele irritaram
deputados presentes à CPI, que consideraram a sessão de hoje muito mais
um ato de desagravo do que propriamente uma prestação de
esclarecimentos à comissão.
“A
sucessão de louvores começou com o PSDB e desfilou por todos os
partidos, à nossa exceção. Antes mesmo do início da fala de Eduardo
Cunha, alertei ali que não poderia acontecer uma sessão laudatória, de
mera manifestação de apoio ao presidente sob investigação, mas não teve
jeito. Não é essa a função de uma Comissão Parlamentar de Inquérito”,
reclamou o líder do Psol, deputado Ivan Valente (SP).
'Tratamento diferenciado'
A
sessão foi dividida em dois temas específicos. De um lado, as críticas
feitas por Cunha, por aliados peemedebistas e por deputados de outros
partidos de que houve tratamento diferenciado em relação aos critérios
estabelecidos para a inclusão dos nomes na lista. Posição que foi
defendida também pelo líder do PSB na Casa, Júlio Delgado (MG).
“A
crise política atinge o Parlamento, e não só Poder Executivo. O
Legislativo tem co-responsabilidade com isso e não vamos fechar os
olhos, porque a sociedade está acompanhando. Mas é preciso separar o
joio do trigo”, acentuou Delgado.
Outro
item bastante discutido foi se os demais deputados citados na lista da
PGR deverão tomar ou não a atitude de depor na CPI, além da forma de
tratamento a ser dado aos integrantes da comissão que receberam doações
de campanha de empresas que estão sendo processadas por participação na
Lava Jato.
A
posição crítica por parte de Cunha e Delgado ao procurador-geral foi
rebatida pelos deputados Sibá Machado (PT-AC) e Maria do Rosário Nunes
(PT-RS), que disseram não acreditar em politização por parte da PGR.
Mas
quanto à situação dos demais deputados, não se chegou a um consenso
sobre o que fazer. O presidente da comissão, deputado Hugo Mota
(PMDB-PB) repetiu que, a princípio, os políticos citados na lista vão
ter as portas abertas para dar esclarecimentos, se assim desejarem, mas
não serão feitas convocações a eles.
Eduardo
Cunha também ressaltou, ao ser mencionado sobre isso, que não gostaria
de constranger ninguém com sua ida até a CPI, mas sentiu-se na obrigação
de comparecer por ser o presidente da Câmara e ter tido amplo apoio dos
colegas durante a eleição que o consolidou no cargo. Vários integrantes
da comissão destacaram, ainda, a importância de se entender que as
investigações ainda indicam que ninguém tem a culpa comprovada e que são
necessárias apurações e provas mais contundentes para que venha a ser
aberto um processo ao longo do período.
‘Execração pública’
“Espero
que ninguém seja submetido a um julgamento de exceção. Temos que
arrolar provas e essas provas têm que estar nas petições de abertura de
inquérito. Não vamos permitir a execração pública”, ressaltou o deputado
Afonso Florence (PT-BA).
Para
a deputada Clarissa Garotinho (PR-RJ), filha de um inimigo histórico de
Eduardo Cunha, o ex-governador fluminense Anthony Garotinho (PR), o
resultado da sessão foi “vergonhoso”. “O que vi aqui foi uma reunião de
felicitações quando, na verdade, cabe a esta comissão indagar,
perguntar, questionar, inquirir”, ressaltou.
No
início da tarde, logo após o depoimento de Cunha, começou a prestar
depoimentos o ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli. Segundo
Gabrielli, era impossível para a companhia descobrir o esquema de
corrupção antes da investigação policial ter sido realizada, uma vez
que, além das comissões terem sido decididas em contratos muito bem
feitos, desde antes das suas assinaturas, auditorias internas do
Tribunal de Contas da União não chegaram a detectar anormalidades.
Além
disso, explicou o ex-presidente, os ex-diretores que operavam o esquema
agiam sempre de forma particularizada neste caso de corrupção, o que
ajudava a encobrir tais crimes. A audiência prossegue.
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