domingo, 14 de dezembro de 2014

Moradores protestam contra linha do bondinho no Leme

Moradores protestam contra linha do bondinho no Leme

Jornal do BrasilAugusto Mello
Moradores do bairro do Leme, na Zona Sul do Rio de Janeiro, fizeram mais um protesto na manhã deste domingo (14) contra o projeto de instalação de uma nova estação do teleférico no Morro do Leme. A concessionária Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar pretende construir a nova estação em uma área de proteção ambiental que pertence ao Exército e onde funciona o Forte Duque de Caxias.
Uma barraca foi montada para reunir assinaturas contra a nova estação. Lá eram vendidas camisetas a R$ 5, para arrecadar verba para fabricar banners e instalá-los nos prédios do Leme. Patrícia Rocha, líder do movimento ‘Salvem o Leme’, falou com o JB sobre o risco que o bairro corre, já que enfrenta dificuldades de mobilidade. Ela rebate o argumento de que o projeto visa atender mais turistas, citando cidades como Paris e Roma.
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“A Torre Eiffel não atende todo o público, nem o museu do Louvre, nem o Coliseu. Então o que deve ser feito aqui no Rio é criar condições melhores para o público, fazer vendas antecipadas, por exemplo”, disse. “Tem gente de fora do Rio e até de fora do Brasil que é contra essa nova linha do teleférico. Pessoas que fizeram esse caminho e se encantaram. A sociedade diz não. A Unesco diz não.”
O engenheiro Pedro Paulo da Poian, de 76 anos, que mora no bairro desde os anos 1950, também cita a trilha: “Já existe esse caminho que vai da escola do exército até lá em cima, no Forte Duque de Caxias. A caminhada é linda, bem cuidada, bem sinalizada. A gente está querendo sensibilizar o Exército para que ele se posicione contra”, declarou.
>> Para pressionar Exército, moradores marcam protesto contra bondinho no Leme
“Querem alterar algo que já é tombado. O caminho é ecológico, aprazível. Esse bondinho vai contra o modelo de turismo que é tendência mundial. A pessoa pode fazer uma caminhada, de 20 minutos, conhecer a vegetação, a fauna do lugar”, afirmou Gilda Fittipaldi, que também mora no Leme. “O exército tem que se manifestar contra esse projeto. Nós estamos enviando cartas aos generais para que eles se posicionem.”
Ney Helou é psiquiatra, tem 63 anos, e morou quase a vida inteira no bairro. Ele lembra a dificuldade de mobilidade que pode piorar ainda mais com a instalação da nova linha do bondinho no bairro. “Nós só temos uma saída do Leme hoje, que é pela avenida Atlântica. Às vezes demoramos até meia hora só para chegar na avenida Princesa Isabel”, diz ele, lembrando que pode ser um problema ainda mais grave, em casos de emergência. Ney garante que não se trata de bairrismo, já que, segundo ele, a mudança pode repercutir negativamente em outros bairros também. “O Leme tem uma convivência entre morro e asfalto e que serve de piloto para toda a cidade”.
Estela Menezes, 68 anos, publicitária aposentada e moradora do Leme também protestou: “É uma coisa tão irresponsável em matéria de circulação. Onde vão ficar todos esses ônibus de turismo. O que a gente ganha com isso? Se pelo menos tivéssemos alguma contrapartida, daria para negociar”, diz ela.
O autônomo Dinei Medina, de 33 anos, é morador do morro do Chapéu Mangueira. Ele alerta que a obra pode provocar uma grande remoção de moradias em sua comunidade. “O teleférico tem que ser debatido também com os moradores da Babilônia e do Chapéu Mangueira. As favelas do Rio estão sumindo. Estamos sendo excluídos desta cidade cara, com essa falsa especulação imobiliária. A gente sofre com isso. Enquanto o preço do metro quadrado está lá em cima, temos esgoto a céu aberto”.
Álvaro Maciel também mora no Chapéu Mangueira e é descendente de um dos primeiros moradores do morro. Ele elogia o movimento: “É importante para unirmos os moradores. A favela também faz parte do Leme”.
Abílio Tozini, morador de Botafogo (bairro vizinho), fez duras críticas ao projeto: “Estão querendo descaracterizar a cidade e acabar com o patrimônio histórico, como fizeram com o Centro. Temos que exigir o fim dessa destruição. E eles só querem o lucro fácil. Em vez de investir em outras áreas da cidade que também têm potencial. Querem pegar financiamento do BNDES para beneficiar uma família, um clube e construir esse trambolho no alto do morro”. O grupo de aproximou da área do exército e alguns manifestantes fizeram discursos. Em seguida., todos gritaram juntos: "Exército brasileiro, diga sim à preservação! Teleférico não!".
A assessoria de imprensa da Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar, empresa que administra o teleférico, informou ao Jornal do Brasil que não haverá estação no Leme e nem venda de bilhetes no Forte. Se os turistas subirem pela trilha, não será possível comprar bilhetes para o teleférico. A empresa também esclarece que “a nova linha se limita a fazer a ligação entre o Morro da Urca e o Morro do Leme (Forte Duque de Caxias) não havendo descida por teleférico  para o Bairro do Leme e nem venda de tickets no Forte”.

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