domingo, 21 de dezembro de 2014

Líder comunitário do Alemão é enterrado no Subúrbio do Rio

Líder comunitário do Alemão é enterrado no Subúrbio do Rio

Luiz Moura, do Conjunto das Casinhas, foi morto a tiros no sábado.
Autores do crime seriam ocupantes de um carro.

Lilian Quaino Do G1 Rio
O líder comunitário foi enterrado em Inhaúma (Foto: Lilian Quaino/G1)O líder comunitário foi enterrado em Inhaúma (Foto: Lilian Quaino/G1)

presidente da Associação de Moradores do Conjunto das Casinhas, na comunidade da Fazendinha, no conjunto de favelas do Alemão, Zona Norte do Rio, foi enterrado na tarde deste domingo (21), no Cemitério de Inhaúma, no Subúrbio. Luiz Moura morreu baleado na tarde de sábado (20), por volta das 17h30.  Durante o enterro, um integrante da secretaria de Assistência Social do governo do estado do Rio afirmou ter recebido informações de que a ordem para o assassinato pode ter partido do tráfico.
Conhecido como Guinha, o líder comunitário de 41 anos era militante dos direitos dos homossexuais, e foi atingido na frente do Casarão da Cultura. Segundo a polícia, os tiros foram disparados por ocupantes de um carro, que passou pelo local e fugiu.
No enterro, Cláudio Nascimento, superintendente de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos da Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos afirmou que recebeu, de fontes anônimas, duas hipóteses sobre a motivação do crime. A primeira é que o assassinato pode ter sido uma represália de remanescentes do tráfico na região que não concordavam com o fato de que Luiz teria sido a favor da implantação das UPPs e permitia a participação de policiais nos projetos sociais que conduzia dentro do conjunto de favelas do alemão.
A segunda hipótese sobre a qual Cláudio afirma ter sido informado é de o crime foi uma represália de traficantes ligados a setores fundamentalistas de igrejas instaladas no conjunto de favelas, que não aprovaram a realização de uma parada gay na região em setembro. Cláudio afirmou que encaminhou as denúncias para a Secretaria de Segurança.
O economista Marcos Santos, amigo de Guinha, também esteve no velório disse que foi pego de surpresa com a noticia de sua morte. Ele estava fora do Rio e até achou que fosse um trote. E disse que não tem ideia do que pode ter acontecido. "Ele era uma pessoa família e se dava bem com todos. Em todos os escalões. Só fazia o bem. Era carismáticas, inteligente e articulado".
Parentes de Guinha estavam muito emocionados no velório e não quiseram dar declarações.
Guinha foi assassinado na tarde de sábado no conjunto de favelas do Alemão (Foto: Reprodução facebook)Guinha foi assassinado na tarde de sábado no conjunto de favelas do Alemão (Foto: Reprodução facebook)

Policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Fazendinha foram ao local após ouvir os disparos. Segundo a coordenação das UPPs, ao chegar à Rua 2, na localidade conhecida como Casinhas, encontraram Moura caído no chão já sem vida e Leonardo Garcia dos Santos da Silva, de 18 anos, que estava com Guinha, sendo socorrido por moradores.
Leonardo foi inicialmente levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Alemão e depois transferido para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, no Subúrbio. Segundo a assessoria da Secretaria Estadual de Saúde, ele passou por uma cirurgia e está estável, mas seu estado de saúde ainda é considerado grave, neste domingo (21).
A Divisão de Homicídios da Capital (DH) investiga o caso. Os policiais vão ouvir testemunhas e aguardar a liberação médica de Leonardo para que ele possa prestar depoimento.
Guinha fala sobre homossexualidade, pacificação e violência em vídeo
Em um vídeo publicado no canal Youtube, Guinha conta como um pouco da sua trajetória, fala sobre homossexualidade, da paixão pelo futebol e também da violência. “Foi uma das maneiras que eu achei para fugir dessa violência. Quando nosso time chegava achava que era o time dos v....Mas, na verdade, só tinham dois gays, que era eu e meu finado amigo Alan, que morreu vítima da Aids”, diz Guinha.
Ele também falou sobre a ocupação da polícia na comunidade e lamentou as condições com que os moradores continuam vivendo mesmo depois da instalação das UPPs. “Não houve mudança, só trocou o personagem, porque antigamente você via o traficante, hoje você vê o policial. Mas se você for parar para ver o lado que realmente interessa que é o lado da população, da comunidade, muita coisa foi deixada pra lá, não foi feita”, concluiu.
O líder comunitário também faz questão de enfatizar que homossexualidade não tem relação com criminalidade. "Homossexualidade não é coisa do diabo. Eu sou gay e não tenho vínculo nenhum com o demônio. Muito pelo contrário, eu ajudo um monte de gente. Eu só faço o que está lá nos 10 mandamentos: amar e ajudar o seu próximo, é o que eu mais faço. E detalhe, eu não blasfemo, eu não me meto, eu não pratico violência, eu não faço nada, só faço o bem", afirmou.
Durante a entrevista, que tem duração de cerca de 10 minutos, o líder comunitário também lembra da época que conheceu travestis e cafetões e acabou indo parar nas ruas. "Acabei indo para a rua me prostituir. Eu não tinha opção", afirma Moura, lembrando que nessa época acabou se tornando travesti e apenas no ano de 2000 resolveu mudar de vida e voltou a estudar e concluiu o ensino médio.

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