JUSTIÇA PARAENSE SÓ JULGOU 5% DOS CASOS ENVOLVENDO MORTES NO CAMPO DESDE 1985
A pressão nacional e internacional fez do assassinato da missionária Dorothy Stang um caso emblemático para a Justiça do Pará e desnudou mecanismos no código penal brasileiro que contribuem para dar à população uma constante sensação de que os criminosos ficaram impunes.
Comparando com outros casos, a Justiça paraense foi ágil no julgamento
dos cinco envolvidos diretamente na morte da missionária. O autor dos
disparos Rayfran das Neves Sales e seu comparsa, Clodoaldo Batista,
foram julgados e condenados, dez meses após o assassinato. Como ambos
foram condenados a mais de 20 anos de prisão em regime fechado,
enfrentaram mais um julgamento. Rayfran ainda teve direito a um terceiro
júri porque a defesa alegou cerceamento no segundo julgamento. Em 2006,
foram julgados Amair Feijoli da Cunha - o Tato - e Vitalmiro Bastos de
Moura, conhecido como Bida, que foi condenado como um dos mandantes.
Tato foi o intermediário entre os executores e os mandantes.
Condenado a mais de 20 anos, Bida também teve direito a um segundo
julgamento, no qual acabou absolvido, gerando comoção internacional. “As
pessoas não entendiam como uma pessoa condenada a mais de 20 anos em
julgamento poderia ser simplesmente ser absolvida em outro”. O caso fez
com que o Congresso votasse uma alteração do Código Penal extinguindo o
novo julgamento automático para condenados a mais de 20 anos. Bida teve
um terceiro julgamento e foi condenado.
Todos tiveram progressão da pena e já estavam em liberdade. Rayfran,
porém, voltou para a prisão acusado de matar um casal. O caso que mais
tem gerado reclamações é do fazendeiro Regivaldo Galvão, o Taradão,
também acusado de ser o mandante do crime. Julgado e condenado, Taradão
recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), conseguiu um habeas
corpous e poderá aguardar o fim do processo em liberdade. Há duas
semanas, foi visto passeando em um shopping no centro de Belém.
Promotor que atuou no caso, Edson Cardoso diz que, apesar das brechas
jurídicas, considera o resultado positivo, uma vez que os acusados foram
julgados e condenados, o que nem sempre ocorre nesses casos.
De 1985 a 2013, a justiça recebeu 768 inquéritos de assassinatos no
campo na região Amazônia Legal. Apenas 5% chegaram a julgamento e
somente 19 mandantes receberam algum tipo de punição.
Sobre a possibilidade de ter havido um consórcio de empresários por trás
do assassinato da missionária, Cardoso afirma que essas denúncias
deveriam ter sido investigadas mais a fundo. “Não há dúvida de que os
cinco condenados tiveram participação direta no caso. A suspeita do
consórcio merecia uma investigação mais intensificada, já que na época
isso foi muito ventilado”.
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