“Eu gostaria de falar que aqui só tem trabalhador, todos somos profissionais qualificados. Estamos há três meses sem receber”, explicou a soldadora Cássia Gonçalves Moreira. “Até agora a gente fica aqui, fala, mas ninguém nos escuta. Eu espero que o governo brasileiro tome uma atitude e nos pague”. A soldadora explicou que não pode procurar outro emprego porque sua carteira de trabalho está presa com a empreiteira. “Eles afirmam que nós não estamos desempregados. Mas como eu não estou desempregada se eu não recebo há três meses, não tenho plano de saúde, vale-refeição, nada?”, disse Cássia. Ela ainda informou que para driblar a dificuldade do momento tem feito empadinhas para vender na rua e conseguir o dinheiro para sustentar a sua família.
Em um carro de som parado na Avenida Chile líderes sindicais pegavam o microfone para informar aos trabalhadores e aos pedestres os planos para os próximos protestos.O soldador Hailton Schuenck informou que se os salários não forem liberados até sexta-feira (13) os três mil trabalhadores lesados irão se reunir durante o Carnaval e atrapalhar os desfiles. "Alguns de nós foram despejados porque não têm como pagar o aluguel. Nós estamos nessa luta porque estamos pagando uma conta que não é nossa", disse. "Eu sou soldador, eu trabalhei lá até sair sangue do meu olho para agora não receber o meu dinheiro? Deus me livre ter que ficar comendo quentinha na rua como temos que fazer agora. Eu sou trabalhador e não mereço passar por isso", disse o soldador.
O ex-candidato a governador do Rio de Janeiro Tarcísio Motta esteve na manifestação dos trabalhadores. “A gente vem como trabalhador e como figura pública para dar todo o apoio para esses trabalhadores. A luta é deles, nós não iremos interferir, os caminhos a serem escolhidos serão deles”, disse. Ele informou que alguns políticos estão montando uma frente parlamentar ampla com participantes de diversos partidos em apoio aos trabalhadores do Comperj com o objetivo de pressionar o poder público a resolver o problema dos trabalhadores. “A luta e a vitória serão construídas nas ruas pelos trabalhadores, mas cabe aos parlamentares aumentarem a pressão sobre a Petrobras para que ela assuma parte das questões que hoje estão sendo postas contra as empresas terceirizadas”.
Protesto fechou Ponte Rio-Niterói
A CCR Ponte informou que dois ônibus pararam no Vão Central – a parte mais alta da Ponte que permite a entrada de navios na Baía de Guanabara – e os manifestantes desceram. O sentido Rio foi o primeiro lado a ser fechado pelos manifestantes. Em seguida, o sentido Niterói também foi paralisado. O trânsito ficou completamente parado e um grande congestionamento se formou.
Depois do protesto na Ponte, os manifestantes seguiram para a Avenida Brasil, onde fecharam a pista lateral em direção ao Centro. Eles caminharam até a Avenida Francisco Bicalho, que também foi fechada ao trânsito. Depois de liberar a Avenida Francisco Bicalho, o grupo seguiu pela pista central da Avenida Presidente Vargas, sentido Candelária, e depois pela Avenida Passos em direção à Avenida Chile, onde fica o prédio da Petrobras. Lá, os manifestantes fizeram um protesto na calçada, sem interdições de vias.
A Secretaria de Estado de Transportes determinou reforço imediato no serviço de barcas, trens e ônibus intermunicipais para atender à população em razão da manifestação que interrompeu o fluxo de veículos na Ponte Rio-Niterói. A medida foi mantida até a normalização do tráfego na ponte e nos acessos ao Centro da cidade.
Por conta dos impactos na Linha Vermelha e Avenida Brasil, os trens da SuperVia eram uma opção para os passageiros que saíam do Centro para a Zona Oeste. As barcas operaram com frota total para a travessia entre o Rio e Niterói e, além disso, a Fetranspor implantou reforço nas linhas de ônibus intermunicipais que partem de Niterói para São Gonçalo, Itaboraí e Maricá.
Comperj
O Comperj é um dos atingidos nos escândalos de corrupção que envolvem empreiteiras e a Petrobras. Houve uma redução no ritmo de obras do complexo e salários pararam de ser pagos, o que causou a demissão de 469 trabalhadores entre novembro e dezembro do ano passado. Os trabalhadores demitidos não receberam metade das verbas rescisórias, estimadas em R$ 2,9 milhões. Outros 2.500 empregados não receberam os salários de dezembro.
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