Dólar dispara e fecha a R$ 2,83, maior valor desde novembro de 2004
O dólar avançou mais 2% sobre o real nesta terça-feira (10) e fechou na maior cotação em mais de dez anos, refletindo as dúvidas sobre a capacidade do governo de aprovar as medidas de ajuste fiscal e a piora da perspectiva de crescimento da economia, com o risco de racionamento de energia e a crise na Petrobras aumentando o temor de um rebaixamento do rating soberano do Brasil. No exterior, o mercado refletia o estresse com a possibilidade de a Grécia deixar a zona do euro e com a desaceleração econômica da China.
A moeda norte-americana encerrou o dia com forte valorização de 2,12%, cotada a R$ 2,8365 na venda, após atingir R$ 2,8398 na máxima da sessão. É o maior valor de fechamento desde 1º de novembro de 2004, quando a moeda valia R$ 2,854.
Segundo dados da BM&F, o movimento financeiro foi melhor do que na véspera, ficando em torno de US$ 1 bilhão. Na segunda-feira, o volume ficou em cerca de US$ 436.
Na semana e no mês, o dólar já acumula valorização de 2,09% e 5,47%, respectivamente. No ano, a alta chega a 6,68%.
Nesta sessão, as preocupações com a fraqueza da economia da China, importante parceiro comercial do Brasil e referência para investidores em mercados emergentes, foram corroboradas por dados que mostraram que a inflação ao consumidor chinês atingiu em janeiro o menor nível em cinco anos, destacou mais cedo a Agência Reuters.
O número alimentou o mau humor dos investidores internacionais, já afetado pelo temor de que o impasse entre a Grécia e seus credores force o país a sair da zona do euro, o que poderia enfraquecer ainda mais a economia global.
No mercado interno, dúvidas sobre a capacidade do governo em aprovar as medidas de ajuste fiscal no Congresso e a piora da perspectiva para a economia, com o crescente risco de racionamento de energia e crise na Petrobras, colocam em xeque o cumprimento da meta de superávit primário de 1,2% do PIB neste ano, o que aumenta o risco de um rebaixamento do rating brasileiro, de acordo com a Agência Valor Online.
Esse risco tinha diminuído com o anúncio das medidas de ajuste fiscal pela nova equipe econômica, mas voltou ao radar após o resultado fiscal pior que o esperado de 2014, que mostrou déficit primário de 0,6%. Além disso, a crise na Petrobras tem afetado a confiança dos investidores na economia e deve ter impacto relevante sobre o PIB. Essa piora da percepção de risco em relação ao Brasil tem sustentado a alta do dólar nos últimos dias, que já sobe 5,45% no mês.
“O câmbio está refletindo a preocupação em relação a um possível ‘downgrade’ do rating do Brasil. As medidas de ajuste fiscal anunciadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foram positivas, mas o que estamos vendo é o risco do Congresso barrar essas medidas, o que torna mais difícil a tarefa de colocar a dívida pública em uma dinâmica mais sustentável”, afirmou o estrategista do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno, à Agência Valor.
Ainda de acordo com o Valor Online, outro fator que tem preocupado os investidores é a queda da aprovação do governo da presidente Dilma e o risco de governabilidade. Embora os investidores não vejam um risco concreto de um impeachment da presidente, a discussão já está nas mesas dos operadores. Algumas instituições já calculam um risco de 30% de uma saída da presidente Dilma.
Atuações do Banco Central no câmbio
Analistas consultados pela Agência Reuters ressaltaram que o avanço do dólar elevou a pressão para que o Banco Central esclareça se pretende permitir a pressão sobre a moeda ou se adotará medidas para limitar a volatilidade do câmbio.
“Mesmo no nosso cenário mais pessimista, estávamos considerando o dólar a R$ 2,72 agora em fevereiro”, disse à Reuters a economista da CM Capital Markets, Jéssica Strasbourg, acrescentando que precisará recalcular suas projeções, que apontavam que a moeda norte-americana terminaria o ano a R$ 3,11.
O BC vem atuando diariamente no câmbio desde agosto de 2013 para oferecer proteção cambial. O atual molde do programa de atuações diárias está marcado para durar “pelo menos” até 31 de março, o que deve alimentar a incerteza do mercado nas próximas semanas sobre uma possível extensão da intervenção.
Nesta manhã, o BC deu continuidade às rações diárias, vendendo a oferta total de até 2 mil swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares, pelas atuações diárias. Foram vendidos 600 contratos para 1º de dezembro de 2015 e 1,4 mil contratos para 1º de fevereiro de 2016, com volume correspondente a US$ 97,8 milhões.
O BC também vendeu a oferta integral de até 13 mil swaps para rolagem dos contratos que vencem em 2 de março, equivalentes a US$ 10,438 bilhões. Ao todo, a autoridade monetária já rolou cerca de 42% do lote total.
(Com informações das Agências Reuters e Valor Online)
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