PARA ESTIMULAR CONSUMO, RN SERVE CARNE DE JUMENTO A AUTORIDADES.
Um almoço com direito a picanha na brasa e filé ao molho madeira será
servido a autoridades de Apodi (341 km de Natal) e região ao meio-dia
desta quinta-feira (13). A diferença do cardápio é que não haverá carne
de boi, mas de jumento.
A ideia de oferecer o almoço é do promotor Silvio Brito. Desde novembro,
o representante do Ministério Público iniciou um trabalho com as
polícias rodoviárias federal e estadual para recolher os jumentos que
circulavam soltos pelas rodovias do Estado.
Abandonados por se tornarem obsoletos no sertão –normalmente
substituídos por motos--, os jumentos se tornaram um problema de
trânsito no sertão nordestino, causando acidentes e mortes.
Em menos de seis meses, 600 jumentos já foram apreendidos e estão
confinados em uma fazenda. O problema é que a manutenção deles, além de
ter um custo, deve se tornar inviável em breve por falta de espaço. Até o
fim do ano devem ser mais de 2.000 no local, a levar em conta o ritmo
de cerca de 40 apreensões por semana.
Diante do cenário, o promotor buscou ajuda de especialistas e garante
que a melhor solução encontrada é o abate para consumo do jumento. Para
os pratos a serem servidos nesta quinta, dois jumentos foram abatidos.
"Queremos mostrar às pessoas que a carne do jumento pode ser uma
importante fonte nutricional, com elevado teor de proteína, baixo teor
de gordura, macia e com gosto idêntico a do boi. Só que ela hoje é
totalmente desprezada por questões culturais", disse.
Entre as autoridades que devem ir ao almoço estão juízes, promotores,
prefeitos, vereadores, jornalistas, professores e até o padre de Apodi. O
público mais seleto é para dar confiança à população.
"O almoço é para que todos fiquem sabendo que a carna é própria para
consumo. Até o padre, sensibilizado com a situação, virá para
desmistificar a questão religiosa", disse.
Durante o almoço, que acontecerá em um restaurante particular de Apodi,
serão servidos pratos com dois tipos de carne para os degustantes.
"Vamos fazer uma degustação comparativa, colocando lado a lado e assim
vermos quem consegue identificar a diferença entre boi e jumento.
Acredito que ninguém vai", apostou.
A depender da aceitação, o promotor visualiza a possibilidade de servir a
carne para detentos e, com um trabalho educativo, até inserir na
merenda escolar. "Dependendo da receptividade, vamos trabalhar para ver
como a gente consegue inserir esse alimento a outros públicos, mas sem
obrigar ninguém a nada", disse.
Segundo veterinária e o professor de inspeção Jean Berg da Universidade
Federal Rural do Semi-Árido, a carne do jumento é saudável e segura como
qualquer carne para consumo humano.
"A carne do jumento e dos de equídeos já é consumida em vários países do
mundo. O Brasil exporta carne desses animais, com matadouros no Paraná e
Minas. Do ponto de vista de sanidade, são os mesmos riscos de comer
qualquer outra carne: o animal tem que ser saudável, passar por
avaliação veterinária antes e durante o abate", afirmou.
Críticas
A degustação, porém, teve reações negativas de ambientalistas. A ONG DNA
(Defesa da Natureza e dos Animais) divulgou manifesto, esta semana,
contestando a ideia de transformar o jumento em alimento.
A entidade questiona se a legislação sanitária e para abate dos animais
está sendo atendida e afirma que os jumentos precisam de dois anos para
procriar, sendo uma cria a cada 12 meses. "Se só existir abate, em
poucos anos eles estarão extintos", afirmou.
Fonte: Carlos Madeiro/http://noticias.uol.com.br/
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