Sobrinha-neta de Tarsila do Amaral diz estar "aliviada" por saber que peças resistiram ao incêndio
Tarsilinha lamenta destruição de parte do acervo de Jeab Boghici, mas comemora preservação de 'Pont Neuf', 'O Sono' e 'Sol Poente'
Luís Barrucho
Detalhe da obra 'O Sono', de Tarsila do Amaral: peça foi salva do incêndio no apartamento do marchand Jean Boghici
(Reprodução)
"Seria uma perda irreparável para a arte brasileira e para o país. Das
250 obras produzidas pela Tarsila, apenas 15 são do período
antropofágico, considerado o de maior prestígio de sua carreira", disse
Tarsilinha
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"Estou aliviada, mas ao mesmo tempo triste pelas obras que se perderam, uma vez que a coleção do Jean tem valor inestimável para o país", disse Tarsila, mais conhecida como Tarsilinha.
De Tarsila, Boghici era dono dos quadros Pont Neuf (1923), O Sono (1928) e Sol Poente (1929), sendo as duas últimas datadas da fase antropofágica, da qual saíram as melhores produções da artista brasileira, entre as quais o Abaporu (1928), atualmente no Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires (Malba).
"Tarsila pintou Sol Poente com base em uma paisagem observada da fazenda de café onde morava, em Itupeva, no interior de São Paulo", afirmou Tarsilinha. "Já em O Sono, ela tentou descrever o início do sono, o começo da passagem para o estágio de latência", acrescentou.
"Caso essas duas obras tivessem sido atingidas pelo incêndio, seria uma perda irreparável para a arte brasileira e para o país. Das 250 obras produzidas pela Tarsila, apenas 15 são do período antropofágico, considerado o de maior prestígio de sua carreira", disse.
Produzidas durante a época em que Tarsila estava casada com o escritor Oswald de Andrade (1890-1954), realizador da Semana de Arte Moderna de 1922, as obras poderiam valer, hoje, acima de 10 milhões de dólares, apontam especialistas.
Nascido na Romênia, o colecionador Jean Boghici, de 84 anos, chegou ao Brasil em 1949, onde se estabeleceu no Rio de Janeiro e tornou-se referência no mercado de arte da cidade. Atualmente, era dono de uma galeria em Ipanema.
Incêndio - O incêndio, que começou na noite de segunda-feira consumiu rapidamente grande parte do acervo do marchand. A coleção reunia obras de Di Cavalcanti, Alfredo Volpi, Rubens Gerchman e Antonio Dias, entre outros artistas.
Moradores do local contaram que os bombeiros chegaram rapidamente ao local do incêndio, mas houve demora para posicionar a escada magirus de forma a ter acesso ao 12º andar. Depois de cerca de duas horas de combate às chamas, o fogo foi extinto. Mas o edifício só foi liberado até o 9º andar.
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