Na ONU, Dilma diz que 'não se firma soberania sobre outra soberania'
A presidente voltou a apresentar "seu protesto" e a "exigir" do governo dos Estados Unidos "explicações, desculpas e garantias de que tais procedimentos não se repetirão"
por Agência Estado
A presidente Dilma Rousseff fez um contundente discurso na abertura da
68º Assembleia da ONU, no qual expressou sua "indignação" e "repúdio" à
espionagem feita pela inteligência norte-americana ao seu governo, à
empresas e cidadãos do Brasil e do mundo. Ela voltou a apresentar "seu
protesto" e a "exigir" do governo dos Estados Unidos "explicações,
desculpas e garantias de que tais procedimentos não se repetirão".
A fala de Dilma deixou claro o objetivo não só de apresentar sua queixa
ao mundo sobre o assunto, mas também voltar a despertar o sentimento
nacionalista do público brasileiro. Segundo avaliação do Palácio do
Planalto, a população gostou da maneira como foi repudiada por ela a
atitude norte-americana, que resultou no cancelamento da viagem à
Washington prevista para outubro.
Além deste fato, que será usado a seu favor em sua campanha à reeleição
em 2014, a presidente aproveitou ainda a tribuna internacional para
fazer um balanço de seu governo. Foi quando, mais uma vez, dirigiu-se ao
público brasileiro. Dessa vez, fez menções aos protestos que se
iniciaram em junho, afirmando que seu governo não só "não reprimiu" a
voz das ruas, mas ouviu e compreendeu. "Ouvimos e compreendemos porque
nós viemos das ruas", disse a presidente, acrescentando que "a rua é o
nosso chão, a nossa base".
Neste balanço dos sucessos obtidos em seu governo, a presidente lembrou
que "passada a fase mais aguda da crise, a situação da economia mundial
continua frágil, com níveis de desemprego inaceitáveis", mas ressalvou
que o Brasil "está recuperando o crescimento, apesar do impacto da crise
internacional nos últimos anos". Pouco antes, vangloriou-se do combate à
pobreza , à fome e à desigualdade promovido por seu governo, com a
ampliação do Bolsa Família, que ajudou a proporcionar redução drástica
da mortalidade infantil.
Dilma Rousseff fez um contundente discurso na abertura da 68º Assembleia da ONU (Foto: Associated Press)
Mas o foco do discurso de Dilma foi mesmo o protesto contra a ação de
espionagem norte-americana e a tentativa de mobilizar os demais países
no sentido de que seja feito um "marco civil multilateral para a
governança e uso da internet e de medidas que garantam a proteção dos
dados por que ela trafegam". Dilma pediu que "o espaço cibernético não
seja usado como arma de guerra, por meio da espionagem, da sabotagem,
dos ataques contra sistemas e infraestrutura de outros países".
Por três vezes, declarou que a espionagem feita pela inteligência
norte-americana é "um caso grave de violação dos direitos humanos e das
liberdades civis". Defendeu também a necessidade de um marco civil
multilateral para proteger a internet das intromissões alheias. Depois
de declarar que "as tecnologias de telecomunicação e informação não
podem ser o novo campo de batalha entre os Estados", salientou que "este
é o momento de criarmos as condições para evitar que o espaço
cibernético seja instrumentalizado como arma de guerra, por meio de
espionagem, da sabotagem, dos ataques contra sistemas e infraestrutura
de outros países". Por isso, pediu que a ONU "desempenhasse papel de
liderança no esforço de regular o comportamento dos Estados frente a
essas tecnologias".
Após o discurso, Dilma deixou o plenário da ONU satisfeita com o tom
adotado. Tanto que dispensou o comboio oficial que a aguardava e saiu a
pé pelas ruas de Nova York, em busca de um restaurante para almoçar com
seus principais auxiliares e sua filha, Paula, que a acompanha na
viagem. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, resumiu o estado de
espírito da comitiva. "O Obama falou assim, meio como o senhor da guerra
e ela falou mais de uma agenda mais social, falou da questão da
internet e de temas da política externa e sustentabilidade ambiental.
Nós saímos a pé na rua e Obama saiu com aparato proporcional ao seu
discurso", afirmou Mercadante, ao chegar ao hotel, após o almoço.
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