Ex-comandante da UPP nega ter coagido testemunhas no caso Amarildo
O major disse estranhar que a moradora que acusou o traficante Catatau do sumiço de Amarildo tenha mudado sua versão, depois de denunciar à polícia o desaparecimento do filho mais velho
Da Reportagem
Ex-comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, o
major Edson Santos negou ter coagido duas testemunhas a denunciarem
traficantes da favela pelo assassinato do pedreiro Amarildo Souza,
desaparecido há dois meses. O major disse estranhar que a moradora que
acusou o traficante Catatau do sumiço de Amarildo tenha mudado sua
versão, depois de denunciar à polícia o desaparecimento do filho mais
velho.
"Nunca houve nenhuma oferta à testemunha, nego todas essas acusações.
Acho muito estranho que ela mude a versão um dia depois que registrou o
sumiço do filho mais velho. Estou aguentando tudo isso, não sei o que
está acontecendo. Não coagi ninguém", disse o major, por telefone.
Em julho, a mulher afirmou em depoimento ao Ministério Público que
Catatau a expulsou da Rocinha e ameaçava matar seu filho mais novo, como
havia feito com Amarildo. O rapaz, de 16 anos, estava sob custódia no
Hospital Municipal Miguel Couto desde maio, quando foi baleado, durante
uma blitz. Na terça-feira passada, 10 de setembro, a mulher foi à 15ª DP
(Gávea) e denunciou que o filho mais velho, de 22 anos, havia
desaparecido depois de ter sido cooptado por Catatau, no dia 5, "para
transportar uma carga de entorpecentes da Rocinha para a comunidade do
Caju", como diz o Registro de Ocorrência (RO).
Amarildo Souza está desaparecido há dois meses (Foto: ONG Rio de Paz)
Na quarta-feira, 11 de setembro, ela e o filho menor, que teve alta do
hospital, voltaram à delegacia e disseram que foram coagidos a acusar
Catatau pelo major Edson Santos e por um policial civil, que teriam
oferecido dinheiro e presentes e prometido pagar o aluguel de uma casa
fora da Rocinha. Mãe e filho fizeram a denúncia aos delegados Rivaldo
Barbosa, da Delegacia de Homicídios (DH), e Orlando Zaccone, da 15ª DP, e
aos promotores Homero das Neves e Marisa Paiva.
Segundo o major Edson Santos, a testemunha mencionou a participação de
traficantes no sumiço de Amarildo pela primeira vez no hospital onde
acompanhava filho e foi orientada por policiais que faziam a custódia do
menor a prestar depoimento ao Ministério Público, o que ela fez dias
depois. Em nota, a Polícia Civil disse que as investigações do
desaparecimento de Amarildo ainda estão em curso e o conteúdo dos
depoimentos não será revelado.
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