terça-feira, 24 de setembro de 2013

Duas línguas diferentes


Duas línguas diferentes

dilmaOs discursos da presidente Dilma Rousseff e do presidente Barack Obama mostraram uma sensível  diferença na abordagem de uma das questões mais candentes da contemporaneidade: a emergência de uma sociedade em rede.
Não se pode culpar Dilma, nascida em 1947, e Obama, vindo ao mundo em 1961, por não concordarem ou sequer compreenderem a magnitude desse problema. Os dois apenas refletem as dificuldades de seus respectivos países e do próprio sistema internacional de Estados, hoje encarnado na Organização das Nações Unidas, em lidar com a revolução técnico-informacional.

Dilma falou em existência de “uma rede internacional de espionagem” e na criação de “mecanismos multilaterais” para prevenir espionagem na rede mundial de computadores. A presidente tratou do assunto de um ponto de vista brasileiro: reportagens que tomam como fonte documentos vazados da americana Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) mostram que a própria Dilma e órgãos estatais brasileiros foram alvo de bisbilhotice eletrônica. Elo frágil na cadeia da espionagem global, o Brasil quer frear os que podem levar vantagem nesse terreno. Daí Dilma ter defendido uma solução multilateral – ou seja, que o assunto deve ser regulado pela vontade de todos os países.
obama
Obama sequer se referiu à espionagem na rede. Sua mais importante referência à questão da intromissão indevida em outros países foi o reconhecimento, com 60 anos de atraso, da responsabilidade americana na derrubada do presidente iraniano Mohammed Mossadegh, em 1953. Na época, não existia internet e computadores ocupavam salas inteiras.

Mas há um outro aspecto no qual Dilma e Obama revelam visões diferentes e até incongruentes da realidade atual. Não há nenhum precedente na história no qual espionagem de qualquer tipo tenha sido regulamentada por negociações ou acordos multilaterais. O direito internacional, fruto profano das relações concretas entre países, baseia-se mais nas relações reais do que nas abordagens filosóficas de seus governantes.

É verdade que Dilma não pediu em momento nenhum que os EUA deixassem de espionar o Brasil. Mas sua alternativa não é menos utópica: criar uma “reserva de mercado” para o Brasil na internet. A presidente não leva em conta que todos os governos e instituições humanas estão igualmente expostos pela emergência da rede mundial. E talvez um dos mais prejudicados sejam os EUA, lançados à execração pública pela ação de um analista de segurança chamado Edward Snowden, do qual ninguém havia ouvido falar antes de abril deste ano.

Nenhum comentário:


Fornecido Por Cotação do Euro