O voto distrital aproxima o eleitor do seu representante no Congresso, melhora a fiscalização sobre os deputados e diminui a corrupção
Fabio PortelaO modelo brasileiro de votação para a Câmara dos Deputados faz duas vítimas a cada pleito: a lógica e o eleitor. A lógica, porque regras obtusas permitem, por exemplo, que votos dados a um candidato sejam usados para eleger outro. O eleitor, porque a ineficiência do processo faz com que, semanas depois de ir às urnas, ele mal lembre em quem votou (o que joga por terra o propósito essencial da eleição: selecionar representantes dos cidadãos no Congresso). A fim de corrigir essas distorções, um grupo de empresários e estudantes de São Paulo está propondo a adoção do voto distrital no Brasil. O modelo parte da divisão do país em distritos (no caso do Brasil, 513 — o mesmo número de cadeiras na Câmara), que elegeriam, cada um, o seu representante. Com base num estudo coordenado pelo estatístico Orjan Olsen, um dos maiores especialistas em opinião pública do país, os organizadores do movimento “Eu voto distrital” prepararam uma série de simulações que mostram como seria o Brasil sob esse novo modelo de votação (simulação). Uma delas revela que, se o sistema já estivesse em vigor na eleição de 2010, o partido que mais perderia com ele seria o PT — o que explica o fato de a sigla ser desde já a inimiga número 1 da proposta, como deixou claro o seu projeto de reforma apresentado há duas semanas pelo deputado Henrique Fontana, uma empulhação que cria a estrovenga chamada “proporcional misto”. Essa barbaridade saída da cabeça de José Dirceu, o poderoso chefão, equivale a afastar ainda mais o cidadão das decisões políticas. O voto distrital é uma alternativa para romper o ciclo vicioso da política brasileira, que tem início num sistema anacrônico, passa pela apatia do eleitor em relação ao Congresso e termina na perpetuação da incompetência e da corrupção. Se, no fim desta reportagem, você também ficar convencido de que o distrital é a melhor opção para o país, acesse o endereço eletrônico http://www.euvotodistrital.org.br/, para assinar a petição que será enviada aos parlamentares em Brasília, propondo a mudança.
Escolher fica mais fácil
Na eleição para deputado federal, analisar o perfil de cada um dos
candidatos que se apresentam é uma missão quase impossível. Em São
Paulo, na última eleição, havia 1 131 nomes concorrendo a uma vaga na
Câmara. Se um eleitor dedicasse uma hora para estudar o currículo de
cada candidato, precisaria de 47 dias ininterruptos para concluir a
análise. A miríade de políticos que surge na TV pedindo votos com a
velocidade de disparos de metralhadora mais confunde do que esclarece.
No sistema de voto distrital, esse problema desaparece, já que cada
partido pode apresentar apenas um candidato por distrito. Ou seja: na
pior das hipóteses, o eleitor terá de comparar as propostas de 27
concorrentes — o número de legendas registradas hoje no Brasil. A
tendência, no entanto, é que o número de candidatos competitivos seja
ainda menor, equivalente ao de candidatos a prefeito. Com um horizonte
de escolhas mais restrito, fica mais fácil para o eleitor tomar uma
decisão bem pensada.
Com reportagem de Paula Lopes
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