Milhares de pessoas manifestaram-se frente ao Palácio Nacional e
pediram a demissão do Presidente mexicano. Violência e corrupção na
origem do descontentamento.
O México e, mais propriamente, o seu
Presidente, Enrique Peña Nieto, enfrentam uma das maiores crises dos
últimos anos, num clima de incessante contestação. Milhares de pessoas
manifestaram-se nesta quinta-feira à noite em frente ao Palácio
Nacional, no coração da capital, e chegou a haver confrontos violentos
com a polícia.
Esta quinta-feira, dia que assinalava os 104 anos da Revolução Mexicana, dezenas de milhares de pessoas enlutadas desfilaram pelas ruas da capital do país, pedindo justiça pelos 43. “Levaram-nos vivos, devolvam-nos vivos", gritavam os manifestantes.
Foi quando as três marchas convocadas chegaram à Praça da Independência que os protestos se tornaram violentos. Um grupo mais reduzido tentou alcançar a porta do Palácio Nacional, a sede do Governo mexicano, enquanto atirava cocktails Molotov. As forças de segurança ripostaram fazendo uso de gás lacrimogénio e jactos de água, descreveram os correspondentes da AFP. Cerca de trinta pessoas ficaram detidas, revelaram as autoridades.
A ira dos manifestantes tinha um alvo muito definido: o Presidente Peña Nieto. Um boneco que simbolizava o chefe de Estado foi queimado durante os protestos e a sua demissão foi pedida por muitos. “Fora Peña! Não há mais medo, o México acordou”, gritava-se.
“Há uma indignação justificada e difusa, fruto de uma acumulação de agravos, desde o desgaste com a corrupção até ao desencanto de muitos eleitores que desejavam que o PRI [Partido Revolucionário Institucional, no poder] conseguisse controlar a hemorragia de violência”, explica ao El País o historiador Enrique Krauze. Apesar de reunir vários sectores da sociedade, “a resposta social não está articulada e nem há sequer um líder”, observa Krauze, para quem o Presidente ainda pode “mudar de direcção”.
As raízes do descontentamento
Em poucos meses, Peña Nieto parece ter ido do céu ao inferno, pelo menos aos olhos da opinião pública. Em Fevereiro a revista Time punha-o na capa com o título Saving Mexico (A Salvar o México) e elogiava as reformas introduzidas pela sua administração desde que foi eleito em 2012 e que estariam a “mudar a narrativa de uma nação manchada pelo narcotráfico”.
Os 43 de Iguala poderiam ser apenas mais uns na história da violência da última década, em que morreram mais de cem mil pessoas. No entanto, os contornos que foram sendo conhecidos e a aparente resposta tardia e pouco eficaz das autoridades não têm deixado a contestação morrer. Os jovens foram vistos pela última vez numa esquadra da polícia em Iguala e há fortes indícios de que tenham sido entregues pelas próprias forças de segurança aos Guerreros Unidos. As relações demasiado próximas entre as redes criminosas e as autoridades ficaram patentes na detenção do autarca de Iguala, José Abarca Velázquez, e da sua mulher, suspeitos de estarem por trás do rapto dos estudantes.
A esta convivência entre o lícito e o ilícito junta-se a resposta que tem sido dada pelas autoridades – frequentemente através da mão pesada do Exército – ao narcotráfico, muitas vezes considerada muito dura e abusiva para os cidadãos comuns. Em Junho, foram mortas 22 pessoas numa pequena cidade no estado do México (centro), no âmbito de um ataque a uma rede de raptos. Por esclarecer ficou, porém, se as vítimas teriam tido efectivamente algum envolvimento criminoso. Um relatório recente da Amnistia Internacional alerta para a prática generalizada de tortura por parte das forças de segurança mexicanas.
Nos últimos dias um novo escândalo veio colocar Peña Nieto ainda mais na mira do descontentamento popular. Foi descoberto que a mansão que a mulher do Presidente, a actriz Angelica Rivera, comprou uma propriedade da empresa subsidiária do Grupo Higa – uma construtora que venceu vários concursos quando Nieto era governador do estado do México. Para proteger a “integridade” da família presidencial, Rivera anunciou esta semana que iria vender casa.
Nas últimas
semanas foram-se acumulando os ingredientes que dão origem a uma
tempestade perfeita desfavorável ao líder mexicano. Ao caso dos 43
estudantes desaparecidos – símbolos da violência que ainda grassa no
país – juntam-se as polémicas em torno da mansão da mulher de Peña
Nieto, que põe a nu as relações entre o Presidente e uma construtora que
terá sido favorecida em concursos públicos.
O desaparecimento dos 43 “normalistas”, designação dada aos alunos do magistério, tem estado na origem de várias acções de protesto. Os jovens, raptados no final de Setembro em Iguala (a 190 quilómetros da Cidade do México), terão morrido às mãos de membros dos Guerreros Unidos, um cartel do narcotráfico.Esta quinta-feira, dia que assinalava os 104 anos da Revolução Mexicana, dezenas de milhares de pessoas enlutadas desfilaram pelas ruas da capital do país, pedindo justiça pelos 43. “Levaram-nos vivos, devolvam-nos vivos", gritavam os manifestantes.
Foi quando as três marchas convocadas chegaram à Praça da Independência que os protestos se tornaram violentos. Um grupo mais reduzido tentou alcançar a porta do Palácio Nacional, a sede do Governo mexicano, enquanto atirava cocktails Molotov. As forças de segurança ripostaram fazendo uso de gás lacrimogénio e jactos de água, descreveram os correspondentes da AFP. Cerca de trinta pessoas ficaram detidas, revelaram as autoridades.
A ira dos manifestantes tinha um alvo muito definido: o Presidente Peña Nieto. Um boneco que simbolizava o chefe de Estado foi queimado durante os protestos e a sua demissão foi pedida por muitos. “Fora Peña! Não há mais medo, o México acordou”, gritava-se.
“Há uma indignação justificada e difusa, fruto de uma acumulação de agravos, desde o desgaste com a corrupção até ao desencanto de muitos eleitores que desejavam que o PRI [Partido Revolucionário Institucional, no poder] conseguisse controlar a hemorragia de violência”, explica ao El País o historiador Enrique Krauze. Apesar de reunir vários sectores da sociedade, “a resposta social não está articulada e nem há sequer um líder”, observa Krauze, para quem o Presidente ainda pode “mudar de direcção”.
As raízes do descontentamento
Em poucos meses, Peña Nieto parece ter ido do céu ao inferno, pelo menos aos olhos da opinião pública. Em Fevereiro a revista Time punha-o na capa com o título Saving Mexico (A Salvar o México) e elogiava as reformas introduzidas pela sua administração desde que foi eleito em 2012 e que estariam a “mudar a narrativa de uma nação manchada pelo narcotráfico”.
Os 43 de Iguala poderiam ser apenas mais uns na história da violência da última década, em que morreram mais de cem mil pessoas. No entanto, os contornos que foram sendo conhecidos e a aparente resposta tardia e pouco eficaz das autoridades não têm deixado a contestação morrer. Os jovens foram vistos pela última vez numa esquadra da polícia em Iguala e há fortes indícios de que tenham sido entregues pelas próprias forças de segurança aos Guerreros Unidos. As relações demasiado próximas entre as redes criminosas e as autoridades ficaram patentes na detenção do autarca de Iguala, José Abarca Velázquez, e da sua mulher, suspeitos de estarem por trás do rapto dos estudantes.
A esta convivência entre o lícito e o ilícito junta-se a resposta que tem sido dada pelas autoridades – frequentemente através da mão pesada do Exército – ao narcotráfico, muitas vezes considerada muito dura e abusiva para os cidadãos comuns. Em Junho, foram mortas 22 pessoas numa pequena cidade no estado do México (centro), no âmbito de um ataque a uma rede de raptos. Por esclarecer ficou, porém, se as vítimas teriam tido efectivamente algum envolvimento criminoso. Um relatório recente da Amnistia Internacional alerta para a prática generalizada de tortura por parte das forças de segurança mexicanas.
Nos últimos dias um novo escândalo veio colocar Peña Nieto ainda mais na mira do descontentamento popular. Foi descoberto que a mansão que a mulher do Presidente, a actriz Angelica Rivera, comprou uma propriedade da empresa subsidiária do Grupo Higa – uma construtora que venceu vários concursos quando Nieto era governador do estado do México. Para proteger a “integridade” da família presidencial, Rivera anunciou esta semana que iria vender casa.
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