Por Celso Lungaretti
Tenho
coração de revolucionário mas, para informar corretamente os meus
leitores, deixo as paixões de lado e analiso os acontecimentos com
distanciamento crítico.
Então, embora até preferisse
estar errado, vejo a cada momento confirmar-se o que escrevi em
outubro/2008, quando a União se colocou ao lado do torturador Brilhante
Ustra e contra os procuradores que pretendiam entregar-lhe a conta das
despesas que as execuções e torturas do DOI-Codi acarretaram para os
cofres públicos:
"...as tentativas de contornar-se a Lei da Anistia, doravante, terão como adversária a União, que oficializou sua posição de endosso à impunidade dos carrascos.
Então, fica cada vez mais evidenciado que não se fará justiça sem suprimir-se mais este entulho autoritário. A anistia de 1979 tem de ser revogada, em nome das vítimas da ditadura mais brutal que o Brasil já conheceu e de nosso auto-respeito como Nação".
Tratava-se
da primeira vez em que a Advocacia Geral da União era chamada a opinar
em processos instaurados contra os torturadores na Justiça; definiu,
portanto, um paradigma.
Tais processos eram
consequência da palavra de ordem que os ministros Tarso Genro e Paulo
Vannuchi lançaram depois de serem derrotados por Nelson Jobim na luta
travada no seio do Ministério de Lula.
Ou
seja, como o Executivo se posicionou pela manutenção da anistia de
1979 e o Legislativo não queria mexer nesse vespeiro, Genro e Vannucci
saíram pela tangente, apontando um terceiro caminho: o Judiciário.
Fiz o papel de
estraga-prazeres, pois não gosto de ver os companheiros iludidos por
miragens. Adverti que, com o Executivo contra e o Legislativo fingindo
que a encrenca não era com ele, nada conseguiríamos nos tribunais, em
termos de punição prisional ou pecuniária. Dito e feito.
A pá de cal foi a inacreditável decisão do Supremo Tribunal Federal, concedendo aos tiranos e seus esbirros o direito de anistiarem a si próprios.
A pá de cal foi a inacreditável decisão do Supremo Tribunal Federal, concedendo aos tiranos e seus esbirros o direito de anistiarem a si próprios.
Mesmo assim, ainda há quem insista até hoje em seguir os atalhos que não levam a lugar nenhum.
Caso das ações do Ministério Público Federal contra os assassinos seriais do Araguaia.
O advogado-geral da União, Luís
Inácio Adams, acaba de antecipar qual será seu parecer, ao afirmar que
tais ações "não são adequadas porque estão violando entendimento do
STF" e, portanto, "não devem render frutos".
Só não vê quem não quer: mesmo que consigamos vitórias nas instâncias inferiores, o castelo de cartas desabará no Supremo.
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