segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Governos há muito tempo no poder se afastam do povo, diz Mujica

Governos há muito tempo no poder se afastam do povo, diz Mujica

Eleição no Uruguai vai para segundo turno, com perspectiva de aliança governista ser reeleita e chegar a 15 anos no poder.

Gerardo Lissardy Da BBC Mundo
 Mujica: 'Um dos problemas mais graves da política contemporânea é que frequentemente quem está no poder se distancia das grandes maiorias'  (Foto: AFP) Mujica: 'Um dos problemas mais graves da política contemporânea é que frequentemente quem está no poder se distancia das grandes maiorias' (Foto: AFP)
A eleição presidencial no Uruguai terá um segundo turno entre o ex-presidente governista Tabaré Vázquez, de esquerda, e o ex-deputado Luis Lacalle Pou, de centro-direita, segundo três pesquisas de boca de urna.
O país decide o sucessor do carismático presidente José Mujica, de 79 anos, que é barrado pela Constituição de candidatar-se à reeleição. Os resultados oficiais ainda não foram divulgados, mas ambos os candidatos já reconheceram que uma nova votação deverá ser realizada.
Ainda não está claro se a esquerda, que chegou ao poder pela primeira vez em 2005 nas mãos do próprio Vázquez, conseguirá reter uma maioria crucial no Parlamento como a que tem governado desde então.
Segundo as projeções, a Frente Ampla, de Vázquez, obteve 46% dos votos e o Partido Nacional, de Lacalle Pou, teve 32%. O Partido Colorado, de Pedro Bordaberry, obteve 13% e o Partido Independente recebeu 3% dos votos. Bordaberry anunciou apoio a Lacalle Pou.
Mujica conversou com a BBC Mundo sobre a disputa no Uruguai e sobre o Brasil, onde a presidente Dilma Rousseff (PT) foi reeleita no domingo em uma vitória apertada sobre Aécio Neves (PSDB):
BBC Mundo - O Brasil terá 16 anos de governos do PT e, no Uruguai, serão 15 anos da Frente Ampla caso Vázquez seja eleito. Os riscos de permanecer no governo durante tanto tempo, sobretudo em relação à corrupção, são maiores do que nunca?
Mujica - Um dos problemas mais graves da política contemporânea é que frequentemente quem está no poder se distancia demasiadamente da maneira de viver das grandes maiorias. E acaba vendo a realidade a partir de onde estão.
É preciso se voltar à fonte do que é republicano. Os eleitos para um governo são funcionários em trânsito, não são reis, não são sangue azul.
BBC Mundo - Que decisões espera do Brasil?
Mujica -
Decisões muito mais francas e abertas de estabelecer acordos com outras partes do mundo que nos permitam melhorar o perfil de todo o Mercosul e, provavelmente, também flexibilizar a situação dos países menores: Paraguai e Uruguai.
BBC Mundo - A oposição brasileira diz que a Argentina e a Venezuela não permitem que o Brasil saia em busca de acordos comerciais com outros países. O sr. concorda com essa visão?
Mujica - É importante a permanência do governo atual (no Brasil) porque não é um experimento e tem uma ideia clara do que pensa. Se olharmos os número de comércio exterior de Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai e somarmos, veremos que o grande comprador que a região tem chama-se República Popular da China.
Não podemos desistir de tal mercado. Mas eles também têm que lembrar que quem compra muito quer vender. Portanto, devemos ter uma política de aliados que nos permita jogar com isso.
BBC Mundo - Você é reconhecido por seu estilo de vida, sua forma de governar e uma série de medidas sociais como a lei da maconha ou a legalização do aborto. Até onde Vázquez representa seu estilo?
Mujica - Os governos são únicos. Com certeza, um novo governo de Tabaré (que foi presidente de 2005 a 2010) tem a vantagem de experiência acumulada. E lembre-se de que a profissão de presidente não existe, nem a formação. Há apenas o que se pratica. E a partir desse ponto de vista, uma segunda Presidência de Tabaré vai permiti-lo ver as coisas com mais rapidez e clareza.
Mas, com certeza, será diferente porque a força política a que pertencemos é de gente de livre pensamento, é múltipla e dentro da mesma orientação global há diferenças. Não creio que os presidentes sejam iguais. Mas a questão é que sirvam ao país.

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