Ministra de Dilma atira vinho à cara do senador que lhe chamou namoradeira
Kátia Abreu e José Serra envolveram-se, em Brasília, em cena digna de telenovela e são agora o centro das atenções do país
Os
media brasileiros distraíram-se por um instante do país real: a
tragédia ambiental da mina de Mariana, que contaminou área equivalente à
distância entre Porto e Faro; o vírus Zika, que causou surto de casos
de microcefalia em recém-nascidos no nordeste do país; e o impeachment à
presidente Dilma Rousseff, do PT, que ameaça paralisar a economia. Tudo
por causa de um jantar de fim de ano que reuniu a elite política de
Brasília na casa do senador Eunício Oliveira, do PMDB, partido que se
divide entre o apoio e a crítica ao governo.
A
cena, segundo os relatos, foi própria de telenovela: todos os
personagens confluíram aos jardins da mansão de Oliveira, tanto o
vice-presidente da República Michel Temer, do PMDB, o mais apaparicado
da noite na condição de suposto substituto de Dilma Rousseff no cargo,
como Aécio Neves, do PSDB, o candidato derrotado nas eleições de há um
ano, passando por Kátia Abreu, a poderosa Ministra da Agricultura, do
PMDB, e José Serra, influente senador do PSDB.
Kátia
conversava, de forma descontraída, com senadores, entre os quais estava
Ronaldo Caiado, do oposicionista DEM, que é médico ortopedista. Quando
Caiado contava que um dia precisou aplicar uma injeção na ministra,
Serra aproximou-se e disse "Kátia, dizem por aí que você é muito
namoradeira...". Com um sorriso amarelo, o presidente do senado, Renan
Calheiros, do PMDB, tentou amenizar. "José, a ministra casou este
ano..." Mas o caldo, ainda antes do vinho, estava entornado.
Kátia
olhou para Serra e disparou "você é deselegante, descortês, arrogante,
prepotente, é por isso que nunca chegará à presidência da República".
Ainda Serra digeria as palavras e já a ministra atirava a taça de vinho à
sua cara, para espanto dos presentes.
"Toda
a mulher sabe o que um comentário destes significa, que ódio me deu",
reagiu Kátia, através da sua conta no Twitter, já o caso era público.
"Foi com intenção de elogio, desculpei-me, sempre tive respeito por
ela", defendeu-se Serra.
Kátia Abreu,
de 53 anos, ficou viúva quando tinha apenas 25. Sem formação na área,
viu-se obrigada a gerir a enorme fazenda do marido no estado do
Tocantins. E em menos de 20 anos já presidia à poderosa Confederação de
Agricultura e Pecuária, representante de um milhão de produtores, além
de liderar na Câmara dos Deputados a famosa Bancada do Boi, de defesa
dos interesses latifundiários. Pelo meio, tornou-se o alvo dos
ecologistas que a apelidam de "Miss Desmatamento". Ao longo dos últimos
anos, desenvolveu amizade - improvável para muitos - com Dilma Rousseff,
à qual se mantém fiel mesmo após o processo de impeachment.
Serra,
de 73 anos, foi líder estudantil, prefeito de São Paulo, governador do
estado homónimo e candidato derrotado à presidência duas vezes: perdeu
para Lula, em 2006, e para Dilma Rousseff, em 2010, quando Kátia Abreu
quase concorreu como sua candidata a "vice". Hoje, Serra e Kátia estão
em polos opostos: ele é um dos principais defensores da destituição da
presidente e ministro garantido em eventual governo Temer.
Mas,
segundo Kátia, o episódio da taça não tem nada a ver com impeachment.
"Era o que faltava brigar com colegas por isso, eu até fiz campanha para
ele em 2010". Não: o que terá motivado a ministra é o chamado "espírito
do tempo" no Brasil.
O principal
movimento político do país em 2015, para a maioria dos analistas, foi a
chamada "Primavera das Mulheres", que tomou formas diferentes, nas ruas
ou nas redes sociais, mas teve como objetivo central combater o sexismo
enraizado no país. O movimento começou quando uma concorrente de 12 anos
de um reality show culinário foi alvo de assédio sexual nas redes
sociais. Na noite de quarta-feira, teve o seu episódio mais mediático
nos jardins de uma mansão de Brasília.
São Paulo
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