quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Delator da Lava Jato cita participação de políticos em propinas

Delator da Lava Jato cita participação de políticos em propinas

Carlos Rocha, que trabalhava para Youssef, disse que propina do esquema teria sido entregue para senadores Renan Calheiros, Randolfe e Aécio Neves.


Uma nova delação premiada fruto da Operação Lava Jato, agora de um entregador de dinheiro que trabalhava para o doleiro Youssef, cita os nomes dos senadores Aécio Neves, presidente do PSDB; Renan Calheiros, presidente do Senado, que é do PMDB; e Randolfe Rodrigues, do Partido Rede, como destinatários de propina. Assim como quatro outros políticos, então do PP, o Partido Progressista, e do Solidariedade. Todos negam.
O depoimento é de Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como "Ceará". De acordo com a investigação, ele era funcionário de Alberto Youssef responsável pela entrega de propina.
No trecho da delação, publicado nesta quarta-feira (30), pelo jornal "Folha de S. Paulo", Carlos Alexandre afirmou que levou R$ 300 mil em 2013 a um diretor da UTC Engenharia, no Rio de Janeiro, chamado Miranda. E que Miranda teria dito que o dinheiro iria para o senador Aécio Neves, do PSDB, de Minas Gerais. Miranda seria o diretor comercial da UTC no Rio, Antonio Carlos D'Agosto Miranda.
A TV Globo confirmou os termos da delação de Carlos Alexandre, que foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal.
Carlos Alexandre disse que estranhou o fato de Miranda estar ansioso pelo recebimento do dinheiro, que o diretor sequer conferiu os valores e ainda comentou: "Ainda bem que esse dinheiro chegou, porque eu não aguentava mais a pessoa me cobrando tanto".
Segundo Carlos Alexandre, ele perguntou: ‘quem era a pessoa’ e na versão do delator, Miranda respondeu na hora: "Aécio Neves"
De acordo com o depoimento, o delator questionou: "E o Aécio Neves não é da oposição?" O diretor da UTC teria dito: "Aqui a gente dá dinheiro pra todo mundo: situação, oposição, pessoal de cima do muro, pessoal do meio de campo, todo mundo".
Carlos Alexandre declarou que ficou surpreso porque nunca tinha ouvido falar em Aécio Neves no esquema criminoso relacionado a Alberto Youssef.
Em nota ao Jornal Nacional, a assessoria do senador Aécio Neves disse que a citação ao nome dele é falsa e absurda, que, além de não ter nenhuma comprovação, já foi desmentida pela UTC e por Alberto Youssef. O senador acrescenta que trata-se de um tentativa de confundir a opinião pública em um escândalo que pertence ao governo e ao PT.
Em uma rede social, Aécio Neves disse que "a falsidade da acusação pode ser constatada também pela total ausência de lógica: o senador não exerce influência nas empresas do governo federal com as quais a empresa atuava".
A delação do funcionário de Alberto Youssef também cita outros dois senadores:
o presidente do senado, Renan Calheiros, do PMDB, e Randolfe Rodrigues, que hoje é filiado à Rede Sustentabilidade, mas que na época do depoimento, julho deste ano, estava no PSOL. A referência aos senadores teria sido feita por Youssef, durante uma conversa entre os dois, sobre a possibilidade de criação de uma CPI para investigar a Petrobras.
Segundo o delator, Youssef disse: "Ceará, todo mundo come bola." Uma gíria para propina. Foi nessa ocasião, de acordo com o depoimento, que Alberto Youssef afirmou que iria disponibilizar R$ 2 milhões para Renan Calheiros para evitar a instalação da CPI.
"Mas Renan Calheiros não é da situação?",  perguntou Carlos Alexandre.
"Ceará, tem que ter dinheiro pra resolver”, disse Alberto Youssef, segundo o delator.
De acordo com o depoimento, a conversa continua com Carlos Alexandre mencionando que havia gente séria no Congresso e citou especificamente o senador Randolfe Rodrigues.
Segundo a delação, ao se referir a Randolfe, Youssef disse: "Para esse aí já foram pagos R$ 200 mil."
"Você tem certeza, aquele do oclinho, do PSOL?”, perguntou Carlos Alexandre.
“Absoluta, Ceará", respondeu Youssef.
Carlos Alexandre também disse que entregou "dinheiro na mão" para Pedro Corrêa e João Pizzolatti, que foram deputados pelo PP, e, Luiz Argôlo, que foi deputado pelo Solidariedade.
O delator afirmou que Pizzolatti gostava de pegar o dinheiro pessoalmente para não ‘pagar a taxa de entrega’ e que entre os políticos, Mário Negromonte, então deputado pelo PP e que foi ministro das Cidades, era "o mais achacador".
O delator Carlos Alexandre Rocha declarou que confirma o que disse na delação premiada.
A assessoria de Renan Calheiros afirmou que o senador não conhece Alberto Youssef e nega todas as acusações.
O senador Randolfe Rodrigues classificou como descabida a citação ao seu nome e afirmou que não conhece nem o delator nem Alberto Youssef.
A defesa do ex-deputado Luiz Argôlo negou que ele tenha recebido propina e disse que os negócios entre o ex-parlamentar e Youssef foram legais.
A defesa do ex-deputado João Pizzolatti também negou que o ex-parlamentar tenha recebido propina de Youssef ou de pessoas ligadas a ele.
O ex-ministro Mário Negromonte considerou a situação absurda e disse que se trata de um criminoso tentando se livrar do crime fazendo acusações sem provas.
A defesa do doleiro Alberto Youssef não quis comentar.
A UTC afirmou que a declaração de Carlos Alexandre não tem fundamento e negou que o diretor Antônio Carlos Miranda tenha recebido dinheiro distribuído por Youssef.
O Jornal Nacional não conseguiu contato com os advogados do ex-deputado Pedro Corrêa.

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