Delator da Lava Jato cita participação de políticos em propinas
Carlos Rocha, que trabalhava para Youssef, disse que propina do esquema teria sido entregue para senadores Renan Calheiros, Randolfe e Aécio Neves.
O depoimento é de Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como "Ceará". De acordo com a investigação, ele era funcionário de Alberto Youssef responsável pela entrega de propina.
No trecho da delação, publicado nesta quarta-feira (30), pelo jornal "Folha de S. Paulo", Carlos Alexandre afirmou que levou R$ 300 mil em 2013 a um diretor da UTC Engenharia, no Rio de Janeiro, chamado Miranda. E que Miranda teria dito que o dinheiro iria para o senador Aécio Neves, do PSDB, de Minas Gerais. Miranda seria o diretor comercial da UTC no Rio, Antonio Carlos D'Agosto Miranda.
A TV Globo confirmou os termos da delação de Carlos Alexandre, que foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal.
Carlos Alexandre disse que estranhou o fato de Miranda estar ansioso pelo recebimento do dinheiro, que o diretor sequer conferiu os valores e ainda comentou: "Ainda bem que esse dinheiro chegou, porque eu não aguentava mais a pessoa me cobrando tanto".
Segundo Carlos Alexandre, ele perguntou: ‘quem era a pessoa’ e na versão do delator, Miranda respondeu na hora: "Aécio Neves"
De acordo com o depoimento, o delator questionou: "E o Aécio Neves não é da oposição?" O diretor da UTC teria dito: "Aqui a gente dá dinheiro pra todo mundo: situação, oposição, pessoal de cima do muro, pessoal do meio de campo, todo mundo".
Carlos Alexandre declarou que ficou surpreso porque nunca tinha ouvido falar em Aécio Neves no esquema criminoso relacionado a Alberto Youssef.
Em nota ao Jornal Nacional, a assessoria do senador Aécio Neves disse que a citação ao nome dele é falsa e absurda, que, além de não ter nenhuma comprovação, já foi desmentida pela UTC e por Alberto Youssef. O senador acrescenta que trata-se de um tentativa de confundir a opinião pública em um escândalo que pertence ao governo e ao PT.
Em uma rede social, Aécio Neves disse que "a falsidade da acusação pode ser constatada também pela total ausência de lógica: o senador não exerce influência nas empresas do governo federal com as quais a empresa atuava".
A delação do funcionário de Alberto Youssef também cita outros dois senadores:
o presidente do senado, Renan Calheiros, do PMDB, e Randolfe Rodrigues, que hoje é filiado à Rede Sustentabilidade, mas que na época do depoimento, julho deste ano, estava no PSOL. A referência aos senadores teria sido feita por Youssef, durante uma conversa entre os dois, sobre a possibilidade de criação de uma CPI para investigar a Petrobras.
Segundo o delator, Youssef disse: "Ceará, todo mundo come bola." Uma gíria para propina. Foi nessa ocasião, de acordo com o depoimento, que Alberto Youssef afirmou que iria disponibilizar R$ 2 milhões para Renan Calheiros para evitar a instalação da CPI.
"Mas Renan Calheiros não é da situação?", perguntou Carlos Alexandre.
"Ceará, tem que ter dinheiro pra resolver”, disse Alberto Youssef, segundo o delator.
De acordo com o depoimento, a conversa continua com Carlos Alexandre mencionando que havia gente séria no Congresso e citou especificamente o senador Randolfe Rodrigues.
Segundo a delação, ao se referir a Randolfe, Youssef disse: "Para esse aí já foram pagos R$ 200 mil."
"Você tem certeza, aquele do oclinho, do PSOL?”, perguntou Carlos Alexandre.
“Absoluta, Ceará", respondeu Youssef.
Carlos Alexandre também disse que entregou "dinheiro na mão" para Pedro Corrêa e João Pizzolatti, que foram deputados pelo PP, e, Luiz Argôlo, que foi deputado pelo Solidariedade.
O delator afirmou que Pizzolatti gostava de pegar o dinheiro pessoalmente para não ‘pagar a taxa de entrega’ e que entre os políticos, Mário Negromonte, então deputado pelo PP e que foi ministro das Cidades, era "o mais achacador".
O delator Carlos Alexandre Rocha declarou que confirma o que disse na delação premiada.
A assessoria de Renan Calheiros afirmou que o senador não conhece Alberto Youssef e nega todas as acusações.
O senador Randolfe Rodrigues classificou como descabida a citação ao seu nome e afirmou que não conhece nem o delator nem Alberto Youssef.
A defesa do ex-deputado Luiz Argôlo negou que ele tenha recebido propina e disse que os negócios entre o ex-parlamentar e Youssef foram legais.
A defesa do ex-deputado João Pizzolatti também negou que o ex-parlamentar tenha recebido propina de Youssef ou de pessoas ligadas a ele.
O ex-ministro Mário Negromonte considerou a situação absurda e disse que se trata de um criminoso tentando se livrar do crime fazendo acusações sem provas.
A defesa do doleiro Alberto Youssef não quis comentar.
A UTC afirmou que a declaração de Carlos Alexandre não tem fundamento e negou que o diretor Antônio Carlos Miranda tenha recebido dinheiro distribuído por Youssef.
O Jornal Nacional não conseguiu contato com os advogados do ex-deputado Pedro Corrêa.
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