Execuções são necessárias contra narcotráfico, diz Indonésia
O governo brasileiro manifestou "profunda consternação" pela execução de Rodrigo Gularte, um "fato grave" na relação bilateral
A Indonésia defendeu nesta quarta-feira a execução de oito réus, entre
eles o brasileiro Rodrigo Gularte, como uma medida necessária na luta
contra o narcotráfico, respondendo às críticas da Austrália e do Brasil,
que pediram clemência para seus cidadãos condenados à pena capital.
O procurador-geral, Muhammad Prasetyo, disse que as execuções não
significam que a Indonésia considera os países de origem dos réus como
inimigos, mas têm como objetivo dissuadir futuros criminosos.
"Estamos em uma guerra contra crimes horríveis de narcotráfico que
ameaçam a sobrevivência de nossa nação", disse Praseyto em Cilacap,
região próxima à prisão onde os réus foram fuzilados, segundo a emissora
local "Metro".
Além de Gularte, foram executados na madrugada de hoje, na ilha de
Nusakambangan, os australianos Andrew Chan, Myuran Sukumaran, três
nigerianos, um ganês e um indonésio.
O governo brasileiro manifestou sua "profunda consternação" pela
execução do brasileiro Rodrigo Gularte, atitude considerada um "fato
grave" na relação bilateral, deteriorada desde janeiro após o
fuzilamento de Marco Archer Cardoso Moreira, condenado à pena capital
pelo mesmo crime.
Desde então, a presidente Dilma Rousseff chamou o embaixador brasileiro
em Jacarta para consultas, que ainda não retornou ao posto. Depois, se
recusou a receber as credenciais do novo chanceler da Indonésia no
Brasil.
O primeiro-ministro da Austrália, Tony Abbott, anunciou a retirada do
embaixador em Jacarta, Paul Grigson, após as execuções, classificadas
como "cruéis e desnecessárias" e que colocam as relações bilaterais
entre os dois países em "um momento obscuro".
"Condenamos o que ocorreu e não podemos agir como se nada tivesse
acontecido. Por isso, uma vez que todas as cortesias tenham sido dadas
às famílias de Chan e Sukumaran, nosso embaixador deixará Jacarta para
consultas", disse Abbott em entrevista coletiva.
Abbott destacou que a Indonésia é muito importante para a Austrália,
mas indicou que as relações sofreram um abalo após o fuzilamento,
impacto sentido já nas últimas semanas após a suspensão dos contatos
ministeriais, que seguirão interrompidos por tempo indeterminado.
A Indonésia também recebeu críticas da Anistia Internacional, que
classificou as execuções como "reprováveis". Segundo a organização,
vários presos não tiveram acesso a advogados competentes e intérpretes
durante a detenção e a fase inicial do julgamento.
Sobre o Gularte, a AI criticou o fato de o brasileiro ter sido fuzilado mesmo diagnosticado como esquizofrênico.
O governo indonésio, por outro lado, minimizou as críticas e pediu respeito à legislação do país.
"Nossa lei deve ser respeitada. Nós respeitamos a soberania das leis em outros países", disse o presidente Joko Widodo.
A ministra das Relações Exteriores, Retno Marsudi, se mostrou confiante
em manter "as boas e importantes" relações com a Austrália, enquanto o
vice-presidente, Jusuf Kalla, alertou que Canberra seria mais
prejudicada no caso de um conflito diplomático.
"Importamos mais da Austrália. Portanto, se eles congelarem as relações
comerciais, sairão perdendo", disse Kalla em declarações divulgadas
pelo Jakarta Post.
As reprovações do Brasil e a Austrália contrastam com o agradecimento
das Filipinas após o adiamento da execução de Mary Jane no último
momento, solicitada por Manila depois de a mulher que supostamente
recrutou a condenada ter se entregado à polícia ontem.
"É um alívio que a execução não tenha ocorrido nesta noite. Nossas
preces foram atendidas", disse o porta-voz do ministério das Relações
Exteriores das Filipinas, Charles José, segundo o site Rappler.
Os filipinos apresentaram Mary Jane como uma vítima do tráfico de
pessoas, apresentando Maria Cristina Sérgio como responsável por
recrutá-la para viajar para a Indonésia levando 2,6 quilos de heroína na
bagagem.
No entanto, Widodo esclareceu que a sentença imposta à Mary Jane não foi alterada.
"Há uma cara das Filipinas que expõe um caso de tráfico de pessoas.
Isso é um adiamento (da execução), não uma anulação", disse o
presidente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário