A decisão de uma prefeitura nos arredores de Paris de distribuir mochilas escolares azuis para os meninos e rosa para meninas provocou polêmica na França.
Nas bolsas distribuídas pela prefeitura de Puteaux, governada pela
prefeita Joëlle Ceccaldi-Raynaud, há também um kit para construir robôs,
para os meninos, e miçangas para fazer bijuterias para as meninas.
A distinção causou polêmica no momento em que o governo implementa
na rede educacional um programa para promover a igualdade entre homens e
mulheres, e lutar contra os estereótipos.
O "abecedário da igualdade entre meninas e meninos", do Ministério
da Educação, visa a transmitir às crianças nas escolas a ideia de que
não existem atividades, inclusive recreativas, específicas para cada
sexo.
O objetivo do programa, segundo o governo, é fazer com que as
crianças não se agarrem a estereótipos, uma postura que pode
influenciar, inclusive, a escolha de suas profissões posteriormente.
Críticas
A notícia ganhou destaque na imprensa francesa no início do calendário letivo, que começou nesta semana no país.
Vários políticos criticaram a medida da prefeita Ceccaldi-Raynaud,
do partido de centro-direita UMP (do ex-presidente Nicolas Sarkozy).
"É o ápice dos estereótipos", afirmou o adjunto da prefeita socialista de Paris, Jean-François Martins.
"Por que só essas duas cores? É um pouco besta e algo de tempos
antigos", criticou o vereador de Puteaux Christophe Grébert, do partido
centrista Modem.
O vereador também criticou os gastos com as mochilas e com a festa
organizada pela prefeitura para distribuir os artigos escolares: 300 mil
euros (R$ 600 mil).
"Essas mochilas são uma provocação, no momento em que a questão dos
estereótipos sexistas nas escolas está sendo discutida publicamente",
afirmou a blogueira Marie Donzel em seu site Ladies & Gentleman.
Para a nova ministra da Educação, Najat Vallaud-Belkacem - a
primeira mulher a exercer esse cargo na França -, "o papel do município é
promover a igualdade entre homens e mulheres".
A ministra, no entanto, felicitou a iniciativa da distribuição de
mochilas no atual período de crise econômica e ressaltou que a polêmica
sobre o caso "é algo estéril".
Polêmica
Em entrevista ao jornal Le Figaro, a prefeita de Puteaux afirmou
"assumir totalmente" a distribuição das mochilas azuis e rosas e disse
que seu único objetivo foi o de "dar uma ajuda aos pais no início do ano
letivo", evitando gastos suplementares.
Segundo a prefeita, a iniciativa existe há anos. "Lamento por essas polêmicas que não levam a nada", declarou.
Em entrevistas à TVs francesas, pais de alunos agradeceram a
distribuição das mochilas e disseram "não ver problema algum" nelas.
O rosa e o azul foram justamente as cores utilizadas pelos
movimentos que se opunham à aprovação da lei contra o casamento gay na
França.
No início deste ano, pais de alunos do primeiro ciclo do ensino
fundamental chegaram a impedir que seus filhos fossem à escola devido a
rumores – difundidos nas redes sociais por grupos ligados à extrema
direita – sobre o "abecedário da igualdade".
Os rumores afirmavam que o governo estaria promovendo a
homossexualidade e que as crianças teriam cursos de educação sexual já
na escola maternal.
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