Para especialista, somente investimento não gera boa qualidade de ensino.
'Escola em Tempo Integral' aparece como uma opção viável para alunos.
Fonte: G1
Crédito: Reprodução/TV GazetaEspecialista fala sobre os investimentos em Educação
Um
de grande debate durante o período eleitoral, os investimentos em
educação e planos para a solução de problemas que envolvem o ensino e a
aprendizagem de alunos estão entre os desafios que o próximo governante
do Espírito Santo vai precisar enfrentar. Especialistas apontam que,
entre as necessidades apresentadas pela rede pública estadual, está a
evasão escolar, a precariedade da estrutura física e a questão de gestão
da falta de acompanhamento dos investimentos feitos nesse setor. Para
mostrar parte desse problemas, a 'Caravana do ESTV' foi até o município
de Cachoeiro de Itapemirim, na região Sul, onde está localizada a escola
que foi considerara a pior da rede estadual três anos atrás, pelo
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
A
unidade de ensino Fundamental e Médio Lions Sebastião de Paiva Vidaurre
registrou a pior média entre os alunos do 9º ano do ensino fundamental,
com 1,6 ponto, em 2011. De acordo com os estudantes que acompanharam a
trajetória da escola, as condições de funcionamento do local faziam com
que o interesse pelos estudos diminuísse. Segundo eles, a precariedade
era visível nas paredes, no chão e até no quadro negro. Após apresentar
um baixo índice, a escola passou por uma reforma.
O
diretor Alexandre Esquincalha explicou que apenas com algumas pequenas
alterações, já foi possível perceber a diferença na atitude dos jovens,
que passaram a se interessar mais pelo conhecimento. "A biblioteca tinha
muito livro empilhado, no chão, espalhados. Nós demos uma arrumada na
biblioteca. Só pelo fato de a gente ter conseguido separar, os alunos já
começaram a pegar livros", declarou.
Além
disso, a interação entre o corpo docente e os estudantes passou a ser de
mais acolhimento e parceria, como apontou a aluna Priscila Zerboni. "Os
professores não interagiam muito com a gente. Era dever, caderno,
livro, quadro, era só isso. Agora já está bem diferente, existem
projetos novos para a escola", contou a jovem.
Desta
forma, a escola procura apagar a marca de ter conquistado a última
posição no Ideb. E ela não é a única que precisa passar por alterações
para conseguir obter bons resultados e garantir a educação de quem
frequenta a rede pública. De acordo com o Plano de Desenvolvimento, a
cada 10 alunos, somente três vão bem quando o assunto é Língua
Portuguesa. "Eles têm dificuldade na leitura e na hora de produzir um
texto. Então, isso tudo é perceptível", disse a professora Mary Zéa
Viana. Além disso, apenas 14% dos estudantes tem bom desempenho com a
disciplina de matemática. "São coisas bem básicas da matemática que eles
não têm aprendido", completou a também professora Kátia Altoé.
Para
a coordenadora do Laboratório de Gestão da Educação Básica da
Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Cleonara Maria Schwartz, é
preciso dar atenção especial a esses dados. "Esses números, de uma
certa forma, são alarmantes. Eles mostram um grande desafio para a
Educação no estado, o que a gente precisa fazer enquanto ação para
atingir uma meta de melhorias de aprendizagem como um todo, no processo
do ensino fundamental ao ensino médio", explicou a especialista.
'Escola em Tempo Integral'
Para
tentar diminuir esses índices, uma das opções já utilizadas pela rede
estadual de ensino é o programa 'Escola em Tempo Integral', que permite
aos estudantes passar a maior parte do dia nas unidades de ensino,
participando de diversas atividades. De acordo com o Plano de
Desenvolvimento, um dos objetos a serem alcançados até 2020 é garantir
que 25% dos alunos do ensino médio do estado tenham essa oportunidade.
Em
uma outra unidade de educação de Cachoeiro de Itapemirim, os estudantes
chegam às 7h e ficam até as 16h. Nesse período, há ensaio de dança,
teatro, aulas de judô, e uma horta para cuidar. Os participantes ainda
têm garantido o transporte e o almoço. Porém, apenas uma turma é
beneficiada com essa ação. De acordo com a professora Lívia Mendes, uma
das maiores dificuldades encontradas na instalação do 'Tempo Integral'
foi convencer os pais da importância que esta ação poderia ter para a
vida dos envolvidos. "Às vezes a família, por necessidade financeira,
prefere tirar o aluno do contraturno para colocá-lo para trabalhar",
esclareceu a educadora.
Mas a diretora escolar
Adriana David Nogueira Viana explicou que os estudantes também
precisaram ser conquistados pela ideia. "Eles tinham que permanecer, mas
permanecer felizes. Eles não tinham que ficar aqui obrigados, tinham
que querer estar aqui", contou. Para alcançar esse objetivo, eles
ouviram o que os estudantes tinham a dizer, colocando parte dos desejos
deles nas atividades realizadas. Segundo a cientista Social Márcia
Barros, essa é uma boa fórmula para se alcançar tais resultados. "Como
você faz para capturar esse jovem? Você tem que respeitar a cultura
local. Se os meninos gostam de funk, ok", disse.
Nas
aulas de dança, a professora Simoni Scarpi conta que deu liberdade para
que os participantes escolhessem qual estilo seguir. "Deixamos que eles
trouxessem a proposta deles de dança para, depois, a escola lançar a
dela", falou. A primeira opção escolhida foi o hip hop e, em seguida, o
funk. A partir da boa receptividade, outras caminhos foram se abrindo.
Atualmente, até aula de Tango, dança tradicional da Argentina, comanda
cada passo dos alunos durante os ensaios.
Para
quem já está podendo usufruir desta oportunidade, os resultados tem sido
bem avaliados. O estudante Murilo Salardane explicou que ficar mais
tempo na escola já se tornou um prazer. "Não é chato não. A gente tem um
dinamismo diferente, um modo diferente de ver as disciplinas",
declarou.
Para a especialista Cleonara, mesmo
sendo um consenso no que se refere à educação, a 'Educação em Tempo
Integral' apresenta um outro "gargalo" e muitas limitações para a sua
implantação, como a estrutura física. "A escola acaba realizando alguns
critérios e deixando uma grande parcela, principalmente de crianças e
jovens, fora dessa escola de ensino integral. Pessoas em situação de
risco social que deveriam estar lá o dia inteiro, mas ficam fora por
falta de estrutura, número de salas de aula, profissionais, outros
espaços como quadra e biblioteca", apontou.
Situação
que também é destacada pela diretora escolar. "Tem que ter um espaço
físico agradável, uma sala confortável, laboratórios bons com
equipamentos bons. Isso tem que ser propício a eles, e temos que ter
mais salas também, porque, como eu te disse, a procura é grande", falou.
Investimento
Outra
questão apontada pela especialista em educação, Cleonara Maria
Schwartz, se refere aos investimentos nesta área. Ela explicou que os
recursos destinados para as escolas aumentou, incluindo a oferta de
material e a capacitação de muitos professores. Mas ela fez um alerta.
"Investimento financeiro não quer dizer impacto positivo, porque os
resultados das avaliações têm demonstrado que há municípios que recebem
royalties muito altos de investimento na área de educação, mas a
educação do município, de acordo com as avaliações sistêmicas, está
muito aquém do que o esperado", disse.
Para
Cleonora, é preciso chegar próximo a essas demandas que são
apresentadas, por meio do acompanhamento que deve envolver secretarias,
governo estadual, órgãos responsáveis e, em outras instâncias, regular e
acompanhar se o direito à Educação está incluindo a todos. Dessa forma,
se garantiria um ensino básico de qualidade e para encaminhar
candidatos mais bem preparados para as faculdades.
Segundo
ela, atualmente os alunos chegam na faculdade porque "o processo
seletivo de ingresso seleciona, dentre um número de inscritos, aqueles
que mais se destacam, ou seja, a média é baixa. O vestibular não avalia o
Ensino Médio diretamente, até porque ele recebe um inscrito. Mas, a
partir do momento que você tem uma constância ao longos do anos de
dificuldades, como essas de leitura e escrita e que entram na
universidade, isso é indicador de que a trajetória educacional não foi
boa. É reflexo da qualidade da educação básica", concluiu.
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