quinta-feira, 4 de setembro de 2014


Para especialista, somente investimento não gera boa qualidade de ensino.
'Escola em Tempo Integral' aparece como uma opção viável para alunos.

Fonte: G1
Crédito: Reprodução/TV GazetaEspecialista fala sobre os investimentos em Educação
Um de grande debate durante o período eleitoral, os investimentos em educação e planos para a solução de problemas que envolvem o ensino e a aprendizagem de alunos estão entre os desafios que o próximo governante do Espírito Santo vai precisar enfrentar. Especialistas apontam que, entre as necessidades apresentadas pela rede pública estadual, está a evasão escolar, a precariedade da estrutura física e a questão de gestão da falta de acompanhamento dos investimentos feitos nesse setor. Para mostrar parte desse problemas, a 'Caravana do ESTV' foi até o município de Cachoeiro de Itapemirim, na região Sul, onde está localizada a escola que foi considerara a pior da rede estadual três anos atrás, pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

A unidade de ensino Fundamental e Médio Lions Sebastião de Paiva Vidaurre registrou a pior média entre os alunos do 9º ano do ensino fundamental, com 1,6 ponto, em 2011. De acordo com os estudantes que acompanharam a trajetória da escola, as condições de funcionamento do local faziam com que o interesse pelos estudos diminuísse. Segundo eles, a precariedade era visível nas paredes, no chão e até no quadro negro. Após apresentar um baixo índice, a escola passou por uma reforma.

O diretor Alexandre Esquincalha explicou que apenas com algumas pequenas alterações, já foi possível perceber a diferença na atitude dos jovens, que passaram a se interessar mais pelo conhecimento. "A biblioteca tinha muito livro empilhado, no chão, espalhados. Nós demos uma arrumada na biblioteca. Só pelo fato de a gente ter conseguido separar, os alunos já começaram a pegar livros", declarou.

Além disso, a interação entre o corpo docente e os estudantes passou a ser de mais acolhimento e parceria, como apontou a aluna Priscila Zerboni. "Os professores não interagiam muito com a gente. Era dever, caderno, livro, quadro, era só isso. Agora já está bem diferente, existem projetos novos para a escola", contou a jovem.

Desta forma, a escola procura apagar a marca de ter conquistado a última posição no Ideb. E ela não é a única que precisa passar por alterações para conseguir obter bons resultados e garantir a educação de quem frequenta a rede pública. De acordo com o Plano de Desenvolvimento, a cada 10 alunos, somente três vão bem quando o assunto é Língua Portuguesa. "Eles têm dificuldade na leitura e na hora de produzir um texto. Então, isso tudo é perceptível", disse a professora Mary Zéa Viana. Além disso, apenas 14% dos estudantes tem bom desempenho com a disciplina de matemática. "São coisas bem básicas da matemática que eles não têm aprendido", completou a também professora Kátia Altoé.

Para a coordenadora do Laboratório de Gestão da Educação Básica da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Cleonara Maria Schwartz, é preciso dar atenção especial a esses dados. "Esses números, de uma certa forma, são alarmantes. Eles mostram um grande desafio para a Educação no estado, o que a gente precisa fazer enquanto ação para atingir uma meta de melhorias de aprendizagem como um todo, no processo do ensino fundamental ao ensino médio", explicou a especialista.

'Escola em Tempo Integral'

Para tentar diminuir esses índices, uma das opções já utilizadas pela rede estadual de ensino é o programa 'Escola em Tempo Integral', que permite aos estudantes passar a maior parte do dia nas unidades de ensino, participando de diversas atividades. De acordo com o Plano de Desenvolvimento, um dos objetos a serem alcançados até 2020 é garantir que 25% dos alunos do ensino médio do estado tenham essa oportunidade.

Em uma outra unidade de educação de Cachoeiro de Itapemirim, os estudantes chegam às 7h e ficam até as 16h. Nesse período, há ensaio de dança, teatro, aulas de judô, e uma horta para cuidar. Os participantes ainda têm garantido o transporte e o almoço. Porém, apenas uma turma é beneficiada com essa ação. De acordo com a professora Lívia Mendes, uma das maiores dificuldades encontradas na instalação do 'Tempo Integral' foi convencer os pais da importância que esta ação poderia ter para a vida dos envolvidos. "Às vezes a família, por necessidade financeira, prefere tirar o aluno do contraturno para colocá-lo para trabalhar", esclareceu a educadora.

Mas a diretora escolar Adriana David Nogueira Viana explicou que os estudantes também precisaram ser conquistados pela ideia. "Eles tinham que permanecer, mas permanecer felizes. Eles não tinham que ficar aqui obrigados, tinham que querer estar aqui", contou. Para alcançar esse objetivo, eles ouviram o que os estudantes tinham a dizer, colocando parte dos desejos deles nas atividades realizadas. Segundo a cientista Social Márcia Barros, essa é uma boa fórmula para se alcançar tais resultados. "Como você faz para capturar esse jovem? Você tem que respeitar a cultura local. Se os meninos gostam de funk, ok", disse.

Nas aulas de dança, a professora Simoni Scarpi conta que deu liberdade para que os participantes escolhessem qual estilo seguir. "Deixamos que eles trouxessem a proposta deles de dança para, depois, a escola lançar a dela", falou. A primeira opção escolhida foi o hip hop e, em seguida, o funk. A partir da boa receptividade, outras caminhos foram se abrindo. Atualmente, até aula de Tango, dança tradicional da Argentina, comanda cada passo dos alunos durante os ensaios.

Para quem já está podendo usufruir desta oportunidade, os resultados tem sido bem avaliados. O estudante Murilo Salardane explicou que ficar mais tempo na escola já se tornou um prazer. "Não é chato não. A gente tem um dinamismo diferente, um modo diferente de ver as disciplinas", declarou.

Para a especialista Cleonara, mesmo sendo um consenso no que se refere à educação, a 'Educação em Tempo Integral'  apresenta um outro "gargalo" e muitas limitações para a sua implantação, como a estrutura física. "A escola acaba realizando alguns critérios e deixando uma grande parcela, principalmente de crianças e jovens, fora dessa escola de ensino integral. Pessoas em situação de risco social que deveriam estar lá o dia inteiro, mas ficam fora por falta de estrutura, número de salas de aula, profissionais, outros espaços como quadra e biblioteca", apontou.

Situação que também é destacada pela diretora escolar. "Tem que ter um espaço físico agradável, uma sala confortável, laboratórios bons com equipamentos bons. Isso tem que ser propício a eles, e temos que ter mais salas também, porque, como eu te disse, a procura é grande", falou.

Investimento

Outra questão apontada pela especialista em educação, Cleonara Maria Schwartz, se refere aos investimentos nesta área. Ela explicou que os recursos destinados para as escolas aumentou, incluindo a oferta de material e a capacitação de muitos professores. Mas ela fez um alerta. "Investimento financeiro não quer dizer impacto positivo, porque os resultados das avaliações têm demonstrado que há municípios que recebem royalties muito altos de investimento na área de educação, mas a educação do município, de acordo com as avaliações sistêmicas, está muito aquém do que o esperado", disse.

Para Cleonora, é preciso chegar próximo a essas demandas que são apresentadas, por meio do acompanhamento que deve envolver secretarias, governo estadual, órgãos responsáveis e, em outras instâncias, regular e acompanhar se o direito à Educação está incluindo a todos. Dessa forma, se garantiria um ensino básico de qualidade e para encaminhar candidatos mais bem preparados para as faculdades.

Segundo ela, atualmente os alunos chegam na faculdade porque "o processo seletivo de ingresso seleciona, dentre um número de inscritos, aqueles que mais se destacam, ou seja, a média é baixa. O vestibular não avalia o Ensino Médio diretamente, até porque ele recebe um inscrito. Mas, a partir do momento que você tem uma constância ao longos do anos de dificuldades, como essas de leitura e escrita e que entram na universidade, isso é indicador de que a trajetória educacional não foi boa. É reflexo da qualidade da educação básica", concluiu.

Nenhum comentário:


Fornecido Por Cotação do Euro