terça-feira, 5 de novembro de 2013

Em sessão especial, Alepa homenageia 15 pessoas com a Comenda Mãe Doca



Um momento especial para a história do Poder Legislativo do Estado do Pará, o reconhecimento da laicidade brasileira, prevista em lei, e de homenagens para os cultos afro-religiosos. Assim se pode definir a Sessão Especial ocorrida na Assembleia Legislativa do Estado, na manhã de ontem, segunda-feira, 04-05-13, às 10 horas, quando mais de 200 sacerdotes e sacerdotisas das mais variadas nações e tribos afros se fizeram presentes para participar da entrega da Comenda Mãe Doca a quinze personalidades apontadas pelas bancadas dos partidos, incluindo a bancada evangélica, na pessoa do deputado Raimundo Santos. A Comenda Mãe Doca com entrega durante sessão especial é um trabalho do mandato da deputada Bernadete ten Caten, líder da bancada do Partido dos Trabalhadores no legislativo paraense, e que falou estar muito feliz com as presenças de tantos companheiros de parlamento na sessão que foi presidida pelo deputado Márcio Miranda, presidente da Casa.
Inicialmente, os trabalhos foram presididos pelo deputado Carlos Bordalo, haja vista que a deputada Bernadete do PT fez a saudação ao público presente no plenário da Alepa. Na oportunidade, a parlamentar petista destacou que “as pessoas do movimento é que construíram esta sessão” e parabenizou a todos, especialmente as pessoas indicadas pelas bancadas, mas teceu críticas à sociedade e ao sistema, pois, “infelizmente subimos nesta tribuna para relembrar que, se hoje é um dia de festas neste legislativo, é, também, um momento para reflexão e para denúncias, pois ainda enfrentamos muita intolerância religiosa e discriminação”.
Bernadete lembrou que esta é a terceira edição da entrega da Comenda Mãe Doca e que isso ainda é alvo de muita resistência, embora a Lei 10.639, que institui na grade curricular da educação de base a disciplina sobre os cultos afro-religiosos, esteja em vigor há exatos dez anos. Ela disse ser esta a hora cerca de as autoridades, os governos, colocarem a lei em prática, não obstante o fato de já haver registros, no Pará, de unidades educacionais onde esse ensino já integra a grade curricular.
Ao terminar sua saudação, Bernadete voltou à mesa, agora já presidida pelo deputado Márcio Miranda, o qual destacou a importância da sessão e sua alegria em poder presidir esse feito, diante de tantas pessoas maravilhosas que não são diferentes de ninguém da sociedade, apenas têm uma doutrina diferenciada, mas que está arraigada na cultura brasileira.
Em seguida, Márcio Miranda convidou o senhor Osias Gomes da Silva, presidente da Associação Espírita-Umbandista da Região de Marabá, comendador indicado pela deputada Bernadete, para fazer a oração afro-religiosa de abertura, que emocionou bastante aos presentes, especialmente após ele também ter introduzido a Ave-Maria e o Pai-Nosso. Depois das orações, o presidente da sessão convidou a deputada Bernadete para fazerem a entrega da Comenda Mãe Doca, instituída pelo Decreto Legislativo Nº 05/2009, de autoria da parlamentar petista, para destacar pessoas pelo seu trabalho e esforço em promover, proteger e difundir a cultura afro-religiosa brasileira. Por tal serviço, foram condecorados os sacerdotes e sacerdotisas Valdinei Mendonça da Silva, Armando Durval Soares de Brito Neto, Paulo Clecival Abreu Silva, Elicéia Furtado Barra, Osias Gomes da Silva, Rita de Cássia Souza Azevedo Santos, José Aloísio Esteves Brasil, Zuíla Andrade Nunes Victória, Adenilza Chaves da Conceição, Raimundo Nonato de Andrade, Ana Rita de Silva Guimarães, Raimunda Célia Tavares de Azevedo, Maria Isabel dos Santos Cardoso, Edvan Alves Oliveira e Zulmira Gomes Barroso Igreja.
A cada personalidade chamada para a honraria, o plenário da casa, tomado por pais e mães de santos vestidos a caráter, rompia em aplausos.
Encerrada a entrega das comandas, coube à sacerdotisa “Mãe Nalva” falar em nome dos novos comendadores, oportunidade em que saudou a todos os presentes, agradeceu à deputada Bernadete pela honraria, assim como, ao deputado Márcio Miranda e aos demais parlamentares presentes. Frisou que o decreto legislativo de autoria de Bernadete que possibilitou a sessão “deu visibilidade aos cultos afro-religiosos” e destacou, também, os avanços, como a indicação de pessoas pela bancada evangélica, o que ela considera como um grande avanço no reconhecimento da religião afro, uma vez “que somos pessoas normais, que votam, mas que temos o direito de escolher a religião que professamos e que queremos seguir com independência e com reconhecimento e o respeito da sociedade, mostrando que realmente vivemos num país laico”.
Mãe Nalva também sugeriu aos parlamentares presentes, a possibilidade de, nas próximas edições da Comenda Mãe Doca, as escolhas serem feitas por meio de assembleias entre todas as organizações afro-religiosas. Depois, para a reportagem, ela esclareceu que não houve nenhum caso de desagrado quanto às entidades selecionadas, mas justificou que há pessoas que já estão muito idosas, que já trabalharam muito pela difusão das religiões afro, as quais “já estão indo embora. Por isso, essas pessoas são prioridade e necessitam ser logo homenageadas”.
Além dos deputados Márcio Miranda e Bernadete ten Caten, se fizeram presentes na sessão especial da entrega da Comenda Mãe Doca, os deputados Carlos Bordalo, Edmilson Rodrigues, Gabriel Guerreiro, Edilson Moura, José Megale e o deputado federal Zé Geraldo, do PT. A sessão especial foi encerrada com hinos afro-religiosos ao som de batuque, além da execução do Hino do Pará, que emocionou a dezenas de pessoas presentes no plenário. “A missão deste parlamento está cumprida. Todos nós podemos festejar”, concluiu Márcio Miranda.

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