Intervenções com
pirotecnia eram comuns dentro da Boate Kiss, onde um incêndio matou mais
de 230 pessoas na madrugada do último domingo em Santa Maria (RS).
Fotos de eventos na casa noturna mostram que sinalizadores eram usados
por equipes de entretenimento e para homenagear frequentadores que
comemoravam aniversário no local.
Segundo o Corpo de Bombeiros, a
boate não solicitou autorização para o uso de artefatos pirotécnicos.
"Se tivesse havido solicitação para uso de fogos de artifício na boate
Kiss, o Corpo de Bombeiros não teria autorizado. Os artefatos
pirotécnicos utilizados na boate não têm amparo técnico para uso no
local", informou a corporação em nota.
O estudante do curso de
Sistemas de Informação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Guilherme Nascimento Monte, 20 anos, conta que o uso da pirotecnia era
frequente na boate. Segundo ele, o artefato costumava ser preso em
garrafas de bebidas alcoólicas. "Era bem comum. O pessoal que colocava
lista de aniversário, se chegasse a 20 convidados, ganhava uma garrafa
de espumante, e o sinalizador ia dentro. Depois, o pessoal saía
caminhando com aquilo".
Segundo
Guilherme, que frequentava a casa noturna de duas a três vezes por mês,
o aniversariante podia circular livremente pela boate com o artefato
aceso. "Tu ficavas responsável por aqueles sinalizadores. Até quando
fiquei sabendo do incêndio, pensei que tinha acontecido porque alguém
havia derrubado uma dessas garrafas", diz.
"Quando eu via aquilo,
eu saia de perto. Na festa de Ano-Novo, todo mundo que pedia espumante
ganhava duas garrafas, ambas com sinalizador", conta ele, afirmando que
amigos relataram que a prática também é comum em outras casas noturnas
da cidade.
Guilherme perdeu oito amigos no incêndio da Boate Kiss.
"E um deles, o Daniel Rosa, tinha um filhinho de três anos. Recém tinha
se separado e saiu com um amigo de trabalho. Ele quase nunca saía",
diz.
Para o estudante, os responsáveis pela tragédia estão
tentando se esquivar da culpa. "Acho que está muito empurra-empurra,
cada parte empurra para outra. Acho que não podiam ter usado fogos
dentro da boate, acho que o dono da Kiss foi muito responsável, tem a
prefeitura, dinheiro dos empresários para esconder essa questão do
alvará, tem muito corrupção por trás disso."
Guilherme, no
entanto, espera que a repercussão do caso aponte as causas e possíveis
responsáveis pelo incêndio. "Também acredito muito em Justiça, porque
está todo mundo mobilizado. Por mais que tentem esconder alguma coisa,
não vão conseguir", diz.
Uso de fogos em apresentações
Uma
das empresas de entretenimento que atuava na Boate Kiss com
intervenções pirotécnicas comunicou nesta quarta-feira que não vai mais
utilizar o artefato em suas apresentações. A Fuel Entretenimento disse
que "repensou" o uso de fogos em lugares fechados. "Ainda que sempre
tenha trabalhado com uma atenção especial à segurança, sentimos a
necessidade de repensar as atividades realizadas", informou a empresa em
nota.
"A Fuel, uma empresa nascida em Santa Maria, sente e
lamenta a perda de diversos amigos, irmãos e de todos, muitos dos quais
por vezes estiveram conosco, nos permitindo fazer parte de suas
vidas.Apoiamos ainda às diversas empresas que estão tomando a correta
atitude de por de lado estes materiais", disse a empresa no comunicado.
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