quarta-feira, 20 de maio de 2015

A biblioteca de Bin Laden mostra mais que a sua obsessão com os Estados Unidos

A biblioteca de Bin Laden mostra mais que a sua obsessão com os Estados Unidos

Gabinete do director dos serviços secretos dos Estados Unidos divulgou centenas de documentos apreendidos na biblioteca do líder da Al-Qaeda pelas forças norte-americanas.
A colecção, denominada como “a biblioteca de Bin Laden”, está dividida em várias categorias AFP
Os documentos apreendidos pelas forças norte-americanas no complexo ocupado por Osama Bin Laden em Abbottabad, no Paquistão, são reveladores da obsessão do líder da Al-Qaeda com a sua campanha de terror e destruição dos Estados Unidos e outras potências ocidentais e do seu menor interesse por projectos jihadistas ou causas como a criação de um Estado Islâmico.
Uma parte do “tesouro” recuperado após o raide militar de Maio de 2011 que resultou na morte de Bin Laden foi desclassificado e tornado público esta quinta-feira pelo gabinete do director dos serviços secretos dos Estados Unidos. "Académicos, jornalistas, historiadores e público em geral têm agora oportunidade de ler os documentos e compreender um pouco melhor Bin Laden", explicou o presidente da comissão de Serviços Secretos da Câmara de Representantes, o congressista californiano Devin Nunes.
A colecção, denominada como “a biblioteca de Bin Laden”, está dividida em várias categorias: correspondência privada, relatórios operacionais, registos de contabilidade e até fichas de inscrição na Al-Qaeda, que mostram como, mesmo isolado no Paquistão, Bin Laden nunca deixou de controlar as actividades da sua organização terrorista e de planear novos ataques contra a América.
Cartas trocadas entre Osama Bin Laden e os responsáveis pela Al-Qaeda na Península Arábica revelam que a estratégia defendida pelo líder terrorista era concentrar toda a atenção na América. “O nosso foco deve ser em atacar a América e os seus interesses pelo mundo, especialmente nos países produtores de petróleo, para agitar a opinião pública e forçar a retirada [das tropas norte-americanas] do Afeganistão e do Iraque”, lê-se na tradução de uma das cartas, com data de Julho de 2010.
Os fuzileiros americanos que assaltaram o complexo de Bin Laden também recolheram vários recortes de jornais e revistas norte-americanos relativos ao terrorismo e às actividades da Al-Qaeda — desde artigos no Los Angeles Times, na Time e na Newsweek, a publicações mais especializadas como a Foreign Policy, o Journal of International Security Affairs ou a Military Review — e dezenas de livros de instruções e manuais técnicos de computadores, impressoras e programas de software.
O líder da Al-Qaeda também leu relatórios e outras publicações editadas por universidades, fundações e think-tanks britânicos e norte-americanos, e organizações internacionais. A sua biblioteca também incluía vários livros de História e relações internacionais, de análise política e económica e até um volume do conhecido filósofo norte-americano de esquerda, Noam Chomsky, Ilusões Necessárias, sobre a manipulação da opinião pública nas sociedades democráticas.
A esmagadora maioria dos documentos hoje divulgados são de língua inglesa, mas também há documentos em francês, nomeadamente um manuscrito nunca publicado e intitulado Foi a França que causou a Grande Depressão?”. Os analistas dos serviços secretos dos EUA especulam que esse material indica que Bin Laden poderia estar a orquestrar um ataque contra os mercados financeiros em França, de forma a provocar um colapso económico na Europa que arrastasse os EUA e o resto do mundo. Mas, nos documentos em francês, constam ainda relatórios sobre o sector da defesa e a indústria de armamento gaulesa, ou o sistema nuclear e os recursos aquáticos em França.
O restante material que pode ser considerado como directamente relacionado com o alegado estudo do fenómeno do terrorismo ou a preparação de atentados inclui uma panóplia de mapas (por exemplo, com a localização das unidades nucleares ou dos lança mísseis do Irão). Entre os volumes retirados das prateleiras de Bin Laden estavam também um Corão e várias obras dedicadas ao islão e matérias religiosas, entre os quais um guia com os perfis de todos os bispos da Igreja de Inglaterra.

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