segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Empresas oferecem dinheiro para que médicos usem suas próteses

Empresas oferecem dinheiro para que médicos usem suas próteses

Máfia das próteses foi denunciada pelo Fantástico.
Uma testemunha diz que tem médico que ganha até R$ 100 mil.

Uma denúncia feita pelo Fantástico mostra a máfia das próteses. As empresas que vendem próteses oferecem dinheiro para que médicos usem seus produtos. Até cirurgias desnecessárias eram feitas, só para faturar mais, colocando em risco a vida dos pacientes.
Os médicos cobram por matérias que não foram usados e chegam a quebrar equipamentos de propósito. Uma testemunha contou que tem médico que ganha até R$ 100 mil com o esquema. A reportagem é de Giovanni Grizotti.
Para flagrar o esquema, a equipe do Fantástico participou de congressos de medicina e montou um consultório para gravar as ofertas feitas por distribuidores e fabricantes de próteses, um mercado que movimenta por ano R$ 12 bilhões no Brasil.
As comissões repassadas a médicos e dentistas para que indiquem as próteses das empresas podem chegar a 30%. É o que propõe o diretor da Total Medic, de São Paulo.
Por dez anos, uma mulher trabalhou em quatro distribuidores de próteses do Rio Grande do Sul. Ela conta que em um só mês um médico chega a faturar R$ 100 mil em comissões. “É feito um levantamento mensal em nome do médico. Quantas cirurgias foram feitas e quantas foram feitas o uso do material tal, e ali a gente faz o levantamento. Em cima disso, a gente tira o percentual dele. O médico chega a faturar de R$ 5 mil a R$ 50 mil, R$ 60 mil, R$ 100 mil”.
Os médicos chegam a cobrar por material não colocado nas cirurgias. É o que propõe os representantes da distribuidora Strehl, de Santa Catarina. Isso só vale para materiais que não aparecem nos exames.
Outra tática para superfaturar cirurgias é motivo de piada para os vendedores. Eles danificam uma prótese de propósito para poder cobrar duas vezes. O rendimento é dividido meio a meio.
Para justificar o pagamento de comissões, algumas empresas assinam contratos de consultoria com os médicos. É o caso da Orcimed, de São Paulo. Esse mecanismo evita problemas com a Receita Federal, uma vez que a comissão é declarada como pagamento por consultorias, que na verdade não acontecem. Assim, o único problema seria de ordem ética.
Em uma conversa, dois meses depois, o gerente da Orcimed se diz preocupado. “Vai estourar tudo. A gente sabe que a questão da Receita Federal e a Polícia Federal em cima. Ontem a gente teve informação que provavelmente em meados de janeiro o Fantástico faça uma reportagem com duas especialidades mostrando como funciona esse mercado”. Quando a equipe do Fantástico se apresentou e informou que o gerente vai aparecer na reportagem, ele correu desesperadamente e negou tudo.
O golpe que se destaca como o mais escandaloso no mercado negro das próteses é o de indicar uma cirurgia sem necessidade, só para ganhar dinheiro. É o que denuncia o cirurgião Alberto Kaemmerer, que durante 14 anos foi diretor de um grande hospital de Porto Alegre. “A cirurgia mal indicada acresce um risco de morte”. O hospital precisou criar um grupo técnico para revisar os pedidos de cirurgia. Pelo menos 35% eram rejeitados, porque a operação era desnecessária.
Os diretores da empresa Strehl não foram encontrados para falar sobre as denúncias. A Orcimed afirmou que cobrar comissões se tornou normal no mercado. Disse ainda que sofre boicote de médicos por não aceitar a prática do superfaturamento e que, por isso, deixou de fornecer material para diversas cirurgias. A Total Medic disse que respeita as tabelas dos planos de saúde, não paga comissões e que o diretor comercial foi desligado da empresa.

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