terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Condutor diz que ouviu sobre falha em estação antes de batida de trens

Condutor diz que ouviu sobre falha em estação antes de batida de trens

Maquinista foi alertado sobre problema em parada à frente, diz delegado.
Supervia diz desconhecer o problema citado; 229 pessoas ficaram feridas.

Do G1 Rio
O maquinista Carlos Henrique da Silva França, de 41 anos (Foto: Matheus Rodrigues/ G1)Carlos Henrique conduzia o trem atingido
(Foto: Matheus Rodrigues/ G1)
O delegado Matheus Almeida, que investiga o acidente entre trens que deixou 229 feridos nesta segunda-feira (5), afirmou nesta terça (6) que o sistema de rádio da Supervia informou a um dos maquinistas de que havia um problema a partir da estação de Austin, três à frente da Juscelino, no ramal Japeri. A informação foi dada após o condutor do trem que estava parado, Carlos Henrique da Silva frança, de 41 anos, prestar depoimento na 53ª DP.
Ao G1, a assessoria de imprensa da Supervia disse não ter ocorrido nenhum problema específico na estação de Austin e esclareceu que foi comunicado alerta de que a velocidade dos trens estava reduzida por causa da chuva e condições climáticas na Baixada Fluminense, atingida por um temporal.
Depoimento adiado
O depoimento do maquinista levou cerca de duas horas na delegacia de Mesquita. Ele conduzia o trem que estava parado no momento da batida e deixou o local sem falar com a imprensa. Segundo o delegado, o outro maquinista, que provocou a colisão e não teve o nome divulgado, disse que está "abalado emocionalmente" e não foi à delegacia.
Ainda de acordo com o delegado, o fato de o maquinista ter pulado do trem em movimento antes do choque entre os trens não indica algum tipo de falha na conduta.
VALE ESTA: Arte do acidente com trens da Supervia em Mesquita (Foto: Arte G1)
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O coordenador de tráfego da Supervia, que também não teve a identidade revelada, foi outro que não prestou depoimento, devido a um trabalho externo de perícia. Ambos serão intimados e comparecer nesta quarta-feira (7).
Até as 14h, 35 pessoas haviam sido ouvidas pela polícia. O inquérito pode indiciar os responsáveis por lesão corporal culposa por acidente ferroviário.
Nesta terça, o delegado vai pedir uma perícia complementar à da Agetransp para averiguar problemas na parte mecânica do trem, a fim de descobrir problemas que possam levar às causas do acidente.
O acidente
Duzentas e vinte e nove pessoas ficaram feridas durante um acidente entre dois trens do ramal de Japeri da Supervia, segundo novo balanço divulgado no fim da manhã desta terça. Deste total, somente cinco pacientes continuam internados, em estado estável.


Setenta e uma das vítimas foram socorridas para os hospitais estaduais Getúlio Vargas, Albert Schweitzer, Adão Pereira Nunes, Adão Pereira Nunes, as unidades estaduais de Pronto Atendimento Mesquita e Nova Iguaçu II. A maior parte dos feridos — 158 — foi levada para o Hospital Geral de Nova Iguaçu (HGNI/Posse). É lá que estão as cinco pessoas que permanecem internadas, sendo submetidas a novos exames.
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, 71 pessoas deram entrada às unidades da rede estadual e todos os pacientes foram avaliados, medicados e receberam alta. 

De acordo com a direção do Hospital da Posse, médicos que estavam de folga foram convocados para reforçar o atendimento. Mesmo assim, a quantidade de pessoas feridas era muito grande e tiveram pessoas que precisaram ser atendidas no corredor da unidade. Os feridos com menor gravidade foram atendidos e liberados ainda na madrugada. Outros passaram por cirurgia e continuam internados.
Patrícia Silva deixou o hospital da Posse com uma luxação no pé (Foto: Alba Valéria Mendonça/ G1)
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Patrícia Silva deixou o hospital da Posse com uma
luxação no pé (Foto: Alba Valéria Mendonça/ G1)
Patrícia Silva, que deixou o hospital da Posse com uma luxação no pé, disse que teve muita sorte no acidente. Ela estava no vagão das mulheres do trem que bateu e descarrilou.
"Foi Deus que ajudou. O trem já estava dando problemas desde a Saída da Central. Ele saiu todo apagado, lotado e parou várias vezes no meio do caminho. Basta ver que uma viagem normal de 50 minutos demorou duas horas. Quando bateu no outro trem que estava parado foi gritaria, correria, muito desespero. Fui lançada do fundo para a frente do vagão. Vou processar a Supervia que em momento algum prestou socorro aos passageiros. Somos tratados como gado e as viagens são feitas nos piores trens", disse a passageira que considerou muito bom o atendimento no hospital diante do número de feridos que chegou à unidade.
O aposentado Feliciano Reis, de 70 anos, que sofreu uma entorse, contou que o acidente só não foi muito mais grave porque o trem parado não estava travado. Ele lamentou que no meio de tantos feridos bandidos pulavam a grade da estação para roubar os pertences das vítimas.
"Mais uma vez foi Deus que me salvou. Vim para o hospital na quarta ambulância. Tinha muita gente deitada nos trilhos e na estação. Muita gente muito machucada, se contorcendo de dor e sendo roubado. Levaram minha mochila com os três remédios que tomo para o coração e meu celular. Chovia, as pessoas gritava de dor, foi horrível. Ninguém da Supevia apareceu na estação ou veio ao hospital nos apoiar." Contou ele que estava no último vagão do trem parado.
Circulação dos trens
Após o acidente entre dois trens no ramal Japeri da Supervia na noite da segunda-feira (5), a circulação das composições acontece com intervalos irregulares no fim da manhã desta terça (6).

No começo da manhã, passageiros aguardavam os trens na estação de Presidente Juscelino, em Mesquita, na Baixada Fluminense, onde ocorreu o acidente. Já os ramais de Deodoro, Santa Cruz, Belford Roxo e Saracuruna operavam normalmente.
Ainda nesta manhã, técnicos da SuperVia trabalhavam para liberar um dos trilhos, já que apenas um estava operando por volta do mesmo horário. Para que os trens circulassem em ambas as direções, os técnicos precisavam parar as composições próximo da estação onde ocorreu o acidente para passar uma composição de cada vez pelo trilho que está operando.

Vítima de acidente reclama de roubo
A babá Maiara Barbosa de Moura, de 25 anos, foi atendida no Hospital da Posse e contou que depois do acidente ainda teve o celular roubado. "Quando cai, dois rapazes me ajudaram a subir para a plataforma e a pegar minha bolsa e meus sapatos. Mas aí apareceu um outro rapaz e roubou o celular da minha mão", contou a babá que sofreu escoriações na barriga e um corte na mão.
Mariana teve escoriações após acidente de trem em Mesquita (Foto: Alba Valéria Mandonça / G1)Mariana teve escoriações após acidente de trem em Mesquita (Foto: Alba Valéria Mandonça / G1)
Ela foi até a unidade por conta própria, pois as ambulâncias se ocupavam dos feridos mais graves. Ela disse que estava perto da porta  do trem que estava parado na estação. Com a batida ela caiu ano espaço entre o trem e a plataformas acabou resgatada por dois passageiros. "Não tinha ninguém da Supervia para ajudar. Os menos machucados ajudavam os mais feridos", disse a babá.
A Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários e Metroviários e de Rodovias do Estado do Rio de Janeiro (Agetransp) abriu um boletim de ocorrência para apurar as causas do acidente. A agência informou que técnicos foram para o local para começar a investigação e para avaliar a qualidade do atendimento aos feridos e aos usuários do sistema pela concessionária Supervia. Os procedimentos adotados pela concessionária para o restabelecimento da operação no ramal também serão avaliados, informou a Agetransp.
Linha passa por mais de 20 estações
A Linha Japeri da Supervia tem início na Central do Brasil e termina em Japeri, na Baixada Fluminense. Ao todo, há 21 estações nessa linha. São elas: Central do Brasil, Maracanã, Silva Freire, Estação Olímpica de Engenho de Dentro, Cascadura, Madureira, Deodoro, Ricardo de Albuquerque, Anchieta, Olinda, Nilópolis, Edson Passos, Mesquita, Presidente Juscelino, Nova Iguaçu, Comendador Soares, Austin, Queimados, Engenho da Pedreira e Japeri.
Ana Cláudia Pereira da Silva de Oliveira, de 53 anos, que trabalha no Engenho de Dentro, no Subúrbio, estava no meio do vagão feminino quando, segundo disse, já chegando à estação de Presidente Juscelino, houve um estrondo muito forte e uma colisão violenta, que chegou a amassar as barras de ferro em que os passageiros se seguravam.
A luz se apagou e ela disse que houve muito pânico, gritos e correria. Muita gente perdeu bolsas e celulares, de acordo com ela, e, quando conseguiu ser retirada do vagão por pessoas que estavam do lado de fora do trem ajudando os passageiros, pôde ver que muitos passageiros estavam machucados com cortes na cabeças, nas costas, e nos pés.
“Eu tive sorte, mas também estou machucada. Bati a cabeça e as costas e estou com muita dor. Estou indo para a UPA para examinarem”, contou ela, por volta das 21h30, num ponto de ônibus, à espera da condução para ir à clínica. Ana Cláudia disse que o trem estava muito cheio e que deveriam ser 20h30 quando o trem bateu em outra composição.
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