terça-feira, 4 de agosto de 2015

Mais de 2000 migrantes já morreram este ano no Mediterrâneo

Mais de 2000 migrantes já morreram este ano no Mediterrâneo

Morre-se de sede, morre-se no mar em embarcações sem condições para navegar, a tentar chegar às costas da Europa, onde perto de 200 mil imigrantes já desembarcaram este ano.
Imigrante acabado de ser salvo no Mediterrâneo pelo navio dos Médicos Sem Fronteiras Darrin Zammit Lupi/REUTERS
Mais de 2000 pessoas morreram já este ano no Mediterrâneo, às portas da Europa, sobretudo as que tentam cruzar os cerca de 500 km que separam a Sicília, em Itália, das costas da Líbia, nas contas da Organização Internacional das Migrações (OIM).
A rota do Mediterrâneo Central é a mais perigosa de todas. Embora tanto a Grécia como Itália tenham registado este ano um enorme afluxo de migrantes (cerca de 97 mil e 90.500, respectivamente, na contabilidade da OIM; cada organização tem números um pouco diferentes), o número de mortes diverge bastante. O motivo é que quem tenta a viagem de África para Itália tem de fazer uma travessia marítima ainda considerável, e os contrabandistas de pessoas colocam-nos em embarcações sem condições para navegar, meros botes de borracha, com furos, sem motor. Por isso, estão registadas 1930 mortes de imigrantes que tentavam chegar a Itália e cerca de 60 dos que tinham como objectivo as ilhas gregas, através de uma pequena travessia por mar, a partir da Turquia, diz a OIM.
Embora o reforço da operação Tritão no Mediterrâneo tenha permitido salvar mais pessoas – o mês com mais mortes foi Abril, com 1265, após um grande naufrágio –, a morte de imigrantes continua a dar-se quase diariamente, sobretudo no Canal da Sicília.
A última tragédia aconteceu no fim-de-semana, quando o navio dos Médicos Sem Fronteiras Bourbon Argos chegou a Palermo com cinco corpos recuperados já sem vida numa embarcação onde viajam 107 outras pessoas. Estas pessoas morreram de desidratação porque toda a água que tinham foi usada, ao longo de uma viagem de 13 horas, desde a Líbia, para arrefecer o motor avariado do bote em que tinham sido colocados.
Actualmente, a maioria dos que procuram esta rota são africanos – sírios e afegão fazem o caminho de fuga à guerra por terra, para chegar à Turquia e finalmente à Grécia. Nas ilhas gregas, descobrem outro inferno: “O que encontrámos é uma ausência de quem assuma a responsabilidade, de qualquer mecanismo de coordenação, de tomada de decisão”, afirmou Vincent Cochetel, director para a Europa do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, após uma visita na semana passada à Grécia, onde os refugiados se amontoam sem serem processados.
Não é na Grécia ou em Itália que estas pessoas querem ficar – chegaram 188 mil, já este ano, segundo a OIM, que em breve serão 200 mil, pois as boas condições meteorológicas do mês de Agosto acelerarão ainda mais este movimento migratório. O seu destino desejado são outros países mais a Norte – um deles é a Alemanha, onde já foram feitos mais de 300 mil pedidos de asilo desde o início do ano, e se estima que até ao fim de 2015 ultrapassem os 450 mil.
Calais, no Norte de França, é um local onde estes imigrantes ficam bloqueados, porque pretendem chegar às ilhas britânicas e ali efectivamente encontram uma barreira ainda mais intransponível que o Mediterrâneo. Isto sem falar nos pontos de tensão que se estão a multiplicar na Europa central e nos Balcãs, onde os migrantes que chegam à Grécia tentam continuar viagem para pedir asilo, cruzando a Sérvia, Hungria, República Checa, Polónia… locais onde não são bem recebidos.
Mesmo na Alemanha, o apoio ao acolhimento de refugiados está a diminuir. Uma sondagem da televisão pública ZDF da semana passada revelava que 77% dos alemães acha que a política de asilo devia mudar. E os fogos-postos em abrigos de refugiados multiplicam-se: mais de 200 foram atacados desde o início do ano, diz a emissora Deutsche Welle.

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