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A
Rússia lamenta o fato do encontro bilateral sobre o assunto tão
importante ter sido cancelado. Segundo o vice-ministro das Relações
Exteriores, Guennadi Gatilov, a "elaboração de parâmetros da solução
política seria exclusivamente útil precisamente nessa altura em que
sobre o país paira ameaça de intervenção militar".
Mas
os EUA deram a entender não precisarem de "conselheiros". Já sabem de
antemão resposta, procurando ajustar certas condicionantes para a sua
realização: ocorreu um ataque químico, a culpa logo se atribui a Bashar
Assad. Os analistas têm declinado tal hipótese, os peritos da ONU mal
procederam ao estudo da questão, mas os EUA se apressam a assegurar
terem provas suficientes para punir o regime sírio, comenta o perito do
Instituto Nacional de Pesquisas Estratégicas, Azhdar Kurtov:
"Múltiplos
fatos que são, talvez, silenciados no Ocidente, mostram que a
provocação planejada com antecedência coincidiu com a visita de peritos
da ONU e com a reviravolta na confrontação civil que de delineou na
Síria no ano em curso. O fato de as autoridades sírias terem mudado a
situação a seu favor e neutralizado os rebeldes armados parece não
agradar aos que tinham orquestrado a rebelião, obrigando-os a dar um
novo passo. Ao violar o direito internacional, contraindo o bom senso,
os EUA decidiram passar ao emprego da força."
Reagindo
à ameaça, Damasco se dispõe a repelir a agressão. O Exército sírio está
bem treinado e armado, contando com os meios de defesa antiaérea e
anti-naval. Por isso, não restam dúvidas de que a resistência será muito
eficiente e dura. Por outro lado, Damasco não conseguirá conter a
intrusão da coalizão ocidental muito mais forte, confessa o perito Boris
Dolgov:
"A
coalizão da qual fazem parte os EUA, a Grã-Bretanha, a França e a
Turquia é efetivamente mais forte, superando as forças do Exército
sírio. Mas este Exército não é idêntico ao da Líbia. No caso de
agressão, poderá fazer frente ao adversário condignamente. Além disso, a
Síria será apoiada pelo Irã, por movimento Hezbollah e vários
agrupamentos palestinos. Assim sendo, a intervenção poderá provocar um
conflito de larga escala no Oriente Médio."
E
mais tarde, surgirá a pergunta: a que se deve chamar de "vitória"? A
futura demissão de Bashar Assad? O desaparecimento de um Estado
soberano? Até que ponto tal cenário irá agradar Israel o qual será a
primeira vítima de caos e de descalabro regional? Quem irá consolar os
pais de um soldado americano morto, trazido à casa num caixão de zinco?
No Iraque, ao menos, esteve em disputa o petróleo, mas que motivação irá
prometer a Casa Branca e seus aliados pela guerra na Síria?
Neste
contexto, Moscou apela a Washington e a todos os membros da comunidade
mundial para revelarem um bom senso, respeitando o direito
internacional. O MRE da Rússia aponta a necessidade de convocar a
conferência Genebra-2 na esperança de os EUA poderem cumprir seus
compromissos relativos à preparação desse fórum.