Falta de legislação federal dificulta combate à homofobia
Até o momento, nenhum projeto de lei que criminalize preconceito e discriminação por causa de orientação sexual ou identidade de gênero conseguiu ser aprovado nas duas casas do Congresso Nacional.
Fonte: Agência Brasil
Crédito: Ilustração
A
ausência de leis federais que protejam a população LGBT (lésbicas,
gays, bissexuais, travestis e transexuais) é um dos principais
obstáculos para o combate à homofobia e à transfobia. Até o momento,
nenhum projeto de lei que criminalize preconceito e discriminação por
causa de orientação sexual ou identidade de gênero conseguiu ser
aprovado nas duas casas do Congresso Nacional.
"A
gente perdeu o PL 122, eu acho que o grande problema da homofobia são
as barbáries cometidas em nome dela, os crimes, as violências, desde a
psicológica até a violência física. Isso tudo só vai ter jeito no dia em
que criminalizarem a homofobia. A gente perdeu feio quando o PLC 122
foi emperrado”, disse Yone Lindgren, coordenadora de política nacional
da Articulação Brasileira de Lésbicas (ABL).
A
proposta original do Projeto de Lei 122 nasceu em 2001, pela então
deputada Iara Bernardi (PT-SP). Após cinco anos, foi aprovado pela
Câmara dos Deputados, mas, ao chegar ao Senado Federal, o projeto não
avançou. Para a relatora a bancada conservadora impediu a tramitação do
projeto. “No Senado, essas forças religiosas muito conservadoras
conseguiram paralisar o projeto”, disse.
O
projeto altera a Lei do Racismo, que prevê a punição para casos de
discriminação ou preconceito devido a raça, cor, etnia, religião ou
nacionalidade. Para esses crimes, a pena pode chegar a cinco anos de
prisão. Se a nova proposta fosse aprovada, seriam incluídos gênero,
sexo, orientação sexual e identidade sexual.
“Temos
um problema muito sério nesse país que é a ausência de uma legislação
federal que proteja os direitos dessa população, então é uma população
ainda invisível aos olhos do Congresso Nacional”, afirmou a coordenadora
de Políticas para a Diversidade Sexual, da Secretaria de Justiça do
estado de São Paulo, Heloísa Gama Alves.
No
estado de São Paulo, existe uma lei administrativa, de 2001, que pune a
discriminação por homofobia, mas ainda é pouco conhecida. A lei abrange
toda a população LGBT. Algumas situações corriqueiras ainda geram
discriminação, segundo Heloísa, como a manifestação de afeto entre
casais homossexuais em bares, restaurante e comércios. “A lei coíbe esse
tipo de conduta e uma série de situações de constrangimento e situações
vexatórias”.
Só neste ano, a secretaria de
Justiça já instaurou 25 processos administrativos por homofobia. No
entanto, Heloísa ressalta que por falta de dados, muitas denúncias nem
viram processo. “Nem toda denúncia vira processo, em algumas faltam
dados e indícios de que realmente houve a discriminação e a gente não
consegue instaurar o processo”. Os casos variam de violações cometidas
pela própria família da vítima até aquelas ocorridas no ambiente de
trabalho e em lugares públicos e de lazer.
Neste
domingo (17), é lembrado o Dia Internacional contra a Homofobia, em
referência à data de retirada da homossexualidade da classificação
internacional de doenças (CID), pela Organização Mundial da Saúde (OMS),
em 1990. A lei paulista é um dos avanços alcançados desde então.
Yone
descobriu-se lésbica aos 14 anos, quando se apaixonou por uma colega da
escola. Aos 22 anos, entrou para o movimento homossexual e, com outras
ativistas, fundou o grupo Somos Rio de Janeiro, que lutava pela
diversidade sexual. Para ela, algumas conquistas importantíssimas para
gays e lésbicas foram alcançadas recentemente, como a união estável para
casais homossexuais, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em
2011, que assegurou direitos como herança e comunhão parcial de bens a
casais do mesmo sexo.
“Tinha muita briga quando
morria alguém do casal, vinha a família querendo tomar tudo de quem era
companheiro, de quem havia construído junto. Então essa conquista nossa
no Supremo foi muito importante, deu o direito de a gente reivindicar o
que construiu junto com o outro”, disse.
Hoje,
aos 59 anos, Yvone conta que adotou quatro filhos e acredita que a
adoção e a inseminação artificial para lésbicas também foram conquistas
importantes, pois muitas mulheres homossexuais que querem ser mães, não
querem ter relação sexual com um homem para engravidar.
A
história de sua filha mais velha, hoje com 29 anos, teve um final
feliz, mas tinha tudo para se tornar mais um caso de discriminação e
frustração. “A Paula veio para a minha vida já com 16 anos, quando ela
foi expulsa de casa por ser lésbica”. Hoje, ela se encontra com a mãe
biológica, mas sua referência de lar e de família são ao lado de Yone.
Apesar
da conquista histórica para homossexuais, organizações e militantes da
causa ainda lutam para que a transexualidade e a travestilidade,
referentes aos transexuais e travestis, também sejam excluídas da
classificação internacional de doenças, na qual ainda são consideradas
transtornos da identidade sexual.
A transexual
Daniela Andrade foi reconhecida legalmente pelo Estado brasileiro como
mulher após uma ação judicial. Ela critica o tratamento dado a travestis
e transexuais nos meio de comunicação. “Essa população só aparece na
mídia como criminosa, como doente mental, como o homem que virou mulher,
aquela coisa exótica”, destaca. Esse tipo de estereótipo, segundo ela,
dificulta a conscientização.
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