Joaquim Barbosa é filho de uma evangélica
Joaquim
Barbosa parece nunca ter se acomodado ao que parecia ser o caminho
natural para ele. O hoje ministro do Supremo Tribunal Federal, aos 58
anos aparece com destaque na mídia em meio ao histórico julgamento do
mensalão.
Filho de
um pedreiro, cresceu ouvindo que nas festas de aniversário de famílias
mais abastadas deveria ficar sempre no fundo do salão. Mas Joaquim,
quando criança, preferia não ir às festas a ter de se submeter à
humilhação de ficar separado dos colegas.
Dario
Alegria, um primo distante de Joaquim, diz que naqueles tempos os
garotos negros da cidade eram vítimas de forte preconceito. “Mas o
Joaquim quebrou toda essa lógica, ele era diferente, nunca levava
desaforo para casa e não aceitava humilhação”, acredita.
O pai de
Joaquim morreu há dois anos. Ele atribui muito do seu perfil à
influência de Benedita, sua mãe, evangélica da Assembleia de Deus há 45
anos.
Criado em
Paracatu, interior de Minas Gerais, desde criança, Joaquim trabalhou
com o pai. Por vezes ajudando a fazer tijolo, em outras entregando lenha
num caminhão velho da família.
Joaquim
Rath, um amigo de infância do ministro, lembra que na casa da família
Barbosa não havia sofá, geladeira nem televisão. Só uma mesa com
cadeiras. Ele morava com os pais e mais sete irmãos “Mas com o Joaquim
não tinha essa história de negro humilde e pobre, e ele não se
subordinava aos ricos e brancos”, lembra.
Em 1971, a
família foi tentar a vida em Brasília, a 250 quilômetros de Paracatu.
Na capital federal, Joaquim se formou em Direito. Depois, foi aprovado
no concurso para oficial de chancelaria do Itamaraty e posteriormente em
outro, para procurador da República.
Fez
doutorado na Sorbonne, em Paris, foi professor visitante na Universidade
Colúmbia, em Nova York, e na Universidade da Califórnia. Barbosa fala
quatro idiomas além do português: inglês, alemão, italiano e francês.
O tio,
José Barbosa, de 78 anos, lembra que o menino tinha alguns hábitos
estranhos: lia tudo o que encontrava, escrevia no ar, cantava em outros
idiomas e gostava de andar com o peito estufado, imitando gente
importante. “Todos viam que o Joaquim seria alguém quando crescesse”,
afirma.
O
ministro Joaquim é relator do processo do mensalão. Nos últimos dias
condenou por crime de corrupção ativa José Dirceu, José Genoino e
Delúbio Soares, que formavam a cúpula do Partido dos Trabalhadores (PT).
Em novembro vai assumir a presidência do STF. Na internet já existe
uma campanha para que seja presidente da República.
“O
ministro incorpora uma espécie de herói do século XXI. Precisávamos de
uma pessoa com o perfil dele para romper com os rapapés aristocráticos,
pois chegamos ao limite da tolerância com a calhordice no poder”, diz o
antropólogo Roberto DaMatta.
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