Carvoarias serão vistoriadas no Pará e Maranhão
A produção de
carvão ilegal que abastece fabricantes de ferro-gusa responde por pelo
menos 20% do desmatamento em toda a região do polo de Carajás, no Pará. A
informação é da Secretaria Extraordinária de Coordenação do Programa
Municípios Verdes, que enviou equipes para vistoriar carvoarias que
abastecem os fornos das indústrias do estado e do Maranhão.
Segundo o secretário
Justiniano de Queiroz Netto, cerca de 25% do carvão vegetal produzido no
Pará cruza a divisa em direção ao Maranhão, onde abastece as empresas
de ferro-gusa de Açailândia. Inicialmente, 150 carvoarias serão
vistoriadas. “Acredito que metade delas será fechada por operação
irregular. Elas dizem usar madeira oriunda de áreas de plano de manejo,
mas usam de mata nativa”, acusa Queiroz Netto.
No Pará, em ação do
Ministério Público Federal (MPF) e Ibama, as três principais
siderúrgicas — Sidepar, Cosipar e Ibérica — foram responsabilizadas pelo
desmatamento de 44.800 hectares de floresta. Na investigação, ficou
provado que elas usaram em seus fornos 1,475 milhão de metros cúbicos de
carvão retirados ilegalmente da floresta.
Pelo termo de
ajustamento de conduta (TAC) aprovado pela Justiça, para se livrar da
multa de R$ 144 milhões, elas têm até 2014 para criar um plano
sustentável de operação, com uso de carvão feito de áreas de
reflorestamento, com eucalipto. Até lá, elas assumiram o compromisso de
fiscalizar as carvoarias listadas como fornecedoras, que também serão
investigadas pelos órgãos ambientais do Pará. Das 115 carvoarias
fornecedoras das indústrias que assinaram o TAC, 74 foram vistoriadas
até agora e oito endereços simplesmente não foram encontrados.
Para evitar que as
guseiras do Maranhão continuem a fomentar o desmatamento do lado do
Pará, elas terão que se cadastrar no estado, comprovar a reposição
florestal efetuada exclusivamente no Pará, apresentar plano de
suprimento sustentável e provar a implementação de florestas específicas
para a reposição da madeira utilizada. Também deverão demonstrar a
adoção de procedimentos de controle interno que assegurem a aquisição de
carvão vegetal somente de origem legal e sustentável. O procurador do
MPF Daniel Avelino Azeredo deu prazo até 2014 para que a produção de
gusa se torne sustentável.
Em e-mail encaminhado ao
Globo, o Instituto Aço Brasil. que representa 12 siderúrgicas, entre
elas Gerdau, Usiminas e Votorantim Siderúrgica, se disse surpreso com a
informação sobre a situação no polo de Carajás. Informou que as
indústrias brasileiras de aço associadas a ele consumiram 24,7 milhões
de toneladas de ferro-gusa, 90% produção própria, a partir de carvão
mineral ou de carvão vegetal de florestas plantadas e que compra de
terceiros apenas 10% do total consumido.
Ontem, ativistas do
Greenpeace interceptaram o navio “Clipper Hope”, de bandeira das
Bahamas, que estava fundeado na baía de São Marcos e se preparava para
atracar no porto de Itaqui, no Maranhão, onde receberia um carregamento
de 31 mil toneladas de ferro-gusa produzida pela Viena Siderúrgica. Às
9h30, o veleiro da ONG, “Rainbow Warrior”, aproximou-se do navio e dois
militantes subiram na corrente da âncora, afixando uma cartaz onde se lê
“Dilma, desliga essa motosserra”. Um helicóptero da polícia sobrevoou o
local, mas nada fez. Até a noite de ontem, os ativistas mantinham-se
presos à corrente, impedindo o atracamento do navio.
Fonte: Agência O Globo
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