Marcelo Portela BELO HORIZONTE Fabio Graner Renata Veríssimo / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse ontem que o Brasil está preparado para um agravamento da situação econômica dos Estados Unidos e de países da zona do euro. Em palestra a empresários na sede da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), ele apenas citou o embate para elevar o teto da dívida dos EUA. Tombini mencionou de forma geral os problemas vividos pela economia dos EUA, com "crescimento sistematicamente revisado para baixo", altas taxas de desemprego e política fiscal com "baixo grau de manobra", além da necessidade de aumento do teto de endividamento público. E lembrou ainda a crise de países europeus, como a Grécia.
"O Brasil está preparado caso haja uma agudização do cenário internacional, que se deteriorou ao longo deste ano, ainda que isso não seja a nossa visão central sobre o que deve ocorrer com a economia global", ressaltou o presidente do BC.
Segundo Tombini, a principal arma do País para um eventual recrudescimento desse cenário "cada vez mais complexo" é a reserva em moeda estrangeira, que chegou a US$ 345 bilhões em junho. "Isso nos dá capacidade de prover liquidez em moeda estrangeira em momento de maior estresse da economia global."
Outros fatores que, na visão do presidente do BC, favorecem o Brasil são a reversão das medidas que o governo teve que tomar em 2008 para amenizar os efeitos da crise financeira mundial, um mercado interno "robusto" e o sistema de câmbio flutuante capaz de "absorver choques externos".
Tombini ainda enalteceu as medidas adotadas pelo governo para conter a valorização do real, garantiu que o câmbio permanecerá flutuante, mas deu a entender que novas ações podem ser adotadas, caso permaneça a tendência de enfraquecimento do dólar que, segundo ele, causa "grande preocupação".
Dúvidas. O secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Carlos Márcio Cozendey, afirmou ontem que o acordo fechado em torno do aumento do limite de endividamento dos Estados Unidos ainda deixa muita margem para dúvidas. Segundo ele, o acordo afasta a incerteza de curto prazo, mas não resolve definitivamente o problema de longo prazo, de sustentabilidade da dívida american. Por isso, previu Cozendey, o debate político continuará nos próximos meses.
O secretário disse que é cedo para avaliar o impacto do acordo na economia brasileira, mas avaliou que há duas possibilidades. Uma delas é se, mesmo com o acordo, as agências de classificação de risco decidirem rebaixar a nota dos títulos da dívida dos Estados Unidos, o que pode desvalorizar ainda mais o dólar.
O pacote também tem um impacto contracionista, o que pode atrasar mais a recuperação dos EUA, além de afetar o câmbio. Para o secretário, é uma situação muito difícil porque o ajuste fiscal americano é necessário, mas não pode ser forte demais a ponto de "matar a economia". "Não sabemos o que vem até o fim do ano, quando os comitês (do Congresso) definirão os cortes."
Nenhum comentário:
Postar um comentário