Ex-presidente da Petrobras reafirma que Pasadena foi bom negócio à época
Paola Lima
Gabrielli diz que hoje “pensaria duas vezes” antes de investir na construção de Abreu e Lima (PE)
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O ex-presidente da Petrobras José
Sérgio Gabrielli voltou a afirmar que a compra da refinaria de Pasadena,
nos Estados Unidos, em 2006, foi um bom negócio. Em depoimento à CPI
Mista da Petrobras, nesta quarta-feira (25), Gabrielli repetiu o que já
havia dito em sua última visita ao Congresso, em maio, ao ser ouvida
pela CPI da Petrobras exclusiva do Senado.
– Foi bom negócio no momento. O preço
pela capacidade de refino foi de US$ 5,54 mil, um pouco mais da metade
do preço médio de aquisição de refinarias americanas naquele período.
Compramos uma refinaria barata, abaixo do preço de mercado – declarou,
admitindo que hoje não tomaria a mesma decisão de compra, uma vez que
tanto o mercado brasileiro quanto o americano mudaram daquela época para
cá.
Gabrielli também voltou a corrigir os
valores apresentados como sendo de compra da refinaria no Texas. Segundo
ele, Pasadena custou US$ 1,23 bilhão, somando-se a compra da refinaria,
da comercializadora de derivados de petróleo e as custas judiciais. Ele
explicou que, para atuar no mercado norte-americano (o que era parte da
estratégia da Petrobras à época), era preciso comprar não apenas a
refinaria, mas também uma comercializadora para intermediar as compras e
vendas.
O ex-executivo da estatal reafirmou
ainda que a aquisição de Pasadena foi tomada por consenso e de forma
colegiada pelos membros do Conselho de Administração, que tinha então à
frente a atual presidente Dilma Rousseff, em atendimento à estratégia da
empresa de buscar refino no exterior.
Outro ponto tratado pelo ex-presidente foi a ausência de descrição das cláusulas put option
(referente à saída da empresa de uma das suas sócias) e Marlim – que
garantia rentabilidade mínima ao sócio – no resumo do contrato entre a
Petrobras e a Astra Oil analisado pelo Conselho de Administração.
Questionado pelo deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) sobre eventuais falhas
técnicas e jurídicas no contrato, Gabrielli garantiu que o documento foi
perfeitamente legal e que a omissão das cláusulas foi apenas uma opção
da diretoria nacional, em razão das características próprias de
transações como aquela.
Abreu e Lima
Gabrielli também refutou as suspeitas
de superfaturamento nas obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
Em resposta ao deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), ele admitiu que os
custos da refinaria, orçados inicialmente em US$ 2 bilhões e hoje
estimados em quase US$ 20 bilhões, não são “econômicos” e que ele
pensaria duas vezes antes de construi-la, mas negou a exigência de
corrupção ou incompetência no processo.
José Sérgio Gabrielli esclareceu que o
valor de US$ 2 bilhões foi estimado numa fase bem inicial do projeto,
quando a discussão ainda é conceitual e os valores não são detalhados.
Só depois de desenvolvida a parte de engenharia, com especificação de
equipamentos, identificação das questões tributárias e dos valores
necessários para investimentos, é possível fechar uma estimativa real.
Nesse processo, acrescentou, ocorre uma variação de menos 30% a mais 50%
do orçamento.
– A refinaria é fundamental para o
Nordeste, para a expansão do Centro-Oeste, do Norte e do Centro-Oeste, a
localização dela era importante, era importante aumentar a produção de
diesel. Agora, evidentemente que os valores de Abreu e Lima não são
valores que estejam nas faixas mais econômicas de uma refinaria, não é
possível dizer isso. Portanto, provavelmente, eu pensaria duas vezes
antes de fazer esse investimento – afirmou.
Ele ressaltou, porém, que Abreu e Lima é
necessária pois desde 1980 o país não constrói nenhuma refinaria e
corria o risco de passar por um “apagão de refino”.
Mesmas respostas
Para o deputado Mendonça Filho
(DEM-PE), presente na oitiva, a vinda de Gabrielli à CPI Mista não
acrescentou nada de novo ao que os parlamentares já sabiam.
– O depoimento não acrescentou muito,
apenas reforçou a convicção de que a operação de aquisição de Pasadena
foi uma operação danosa ao patrimônio público, principalmente à
Petrobras, que houve parecer jurídico alertando, inclusive, com relação a
uma das cláusulas mais danosas, a put option, que não foi considerada – lamentou.
O senador Humberto Costa (PT-PE)
concordou que não houve novidades no depoimento do ex-presidente da
Petrobras. Mas argumentou que isso é natural, já que esta é a quarta vez
que ele vem ao Congresso falar do mesmo assunto.
– As perguntas são as mesmas, as
respostas e os esclarecimentos não podem ser diferentes dos que já foram
dados. As críticas da oposição não variam e o que nós observamos, como
sempre, é uma tentativa de requentar alguns temas que já foram
explicados à exaustão e de fazer um embate político cujo objetivo é
claramente eleitoral – criticou.
Requerimentos
Antes de encerrar a reunião, o
vice-presidente da CPI Mista, senador Gim (PTB-DF), convocou novo
encontro para a próxima quarta-feira (2), para apreciação dos mais de
400 requerimentos já apresentados à comissão. Entre os pedidos há
convites para depoimentos, solicitação de quebra de sigilo bancário e
pedidos de informações.
Agência Senado
(Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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