iG São PauloMaioria do público de evento, que teve recorde de participação, deixou mobilização política em segundo plano
Mais de quatro milhões de pessoas, segundo os organizadores, enfrentaram a chuva deste domingo para participar da 15ª edição da Parada do Orgulho Gay de São Paulo sob o lema "Amai-vos uns aos outros. Basta de homofobia".
"Pelas informações que tivemos da Polícia Militar batemos mais um recorde de participação. Apesar da chuva tivemos entre 4 milhões e 4 milhões e meio de pessoas", disse Leandro Rodrigues, da Associação da Parada LGBT de São Paulo. O recorde anterior foi em 2009, quando 3,5 milhões foram ao desfile. Em 2010 o público foi de 3,3 milhões.
Como de costume, a parada teve muita alegria, fantasias criativas, plumas, purpurina, vinho barato vendido em garrafas plásticas, vodca com energético, Lady Gaga e demonstrações públicas de afeto. A mobilização política por temas de interesse dos homossexuais ficou em segundo plano.
Enquanto líderes do movimento gay como Toni Reis, da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), e o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), destacaram fatos relevantes ocorridos no último ano como a decisão do Supremo Tribunal Federal de reconhecer a união civil homossexual, os episódios de violência contra gays (foram 260 assassinatos em 2010), o veto ao kit anti-homofobia e a tramitação de projetos importantes no Congresso, a grande maioria dos participantes queria saber mesmo era de diversão.
A reportagem do iG entrevistou cerca de 30 pessoas sobre o PL 122. Apenas quatro entrevistados sabiam do que se tratava. "Eu vim para uma balada gay, meu querido. Não estou nem aí pra esse negócio de política", respondeu a travesti Isabelle Vendramini, 19 anos.
O Projeto de Lei da Câmara 122/2006, que transforma em crime a homofobia e está em tramitação no Senado, é o hoje o maior motivo das divergências entre defensores dos direitos homossexuais e setores conservadores e tem colocado em lados opostos duas numerosas parcelas da sociedade, gays e evangélicos.
"Não gosto de crente, não. Nem converso com esse povo", disse Isabelle.
A "carnavalização" da parada em um momento decisivo para o movimento foi alvo de manifestações entre os participantes mais engajados do desfile e também na internet. "A parada é uma festa mas também é um evento para reivindicar e reiterar nossos direitos. A informação está aí, até na novela das oito. Nunca a causa 'G' esteve tão em evidência", disse a cantora e artista performática Dillah Dilluz. "Mas é claro que não pode ser em clima de funeral, né, meu amor? Tem que ter muita cor, muita luz, muita alegria, porque esse é o nosso jeito", completou Dillah.
Para o americano Jason Cocker, que mora em Nova York e aproveitou a temporada de férias no Brasil para ir à parada, o caráter festivo do evento paulistano é apenas um reflexo do modo de ser brasileiro. "Aqui vocês carnavalizam tudo e a sociedade parece ser bem mais tolerante do que nos Estados Unidos. A parada de Nova York é mais séria porque serve para lembrar dos mortos, dos mártires. Alguns participantes estiveram em Stonewall", disse ele.
Stonewall é o nome do bar onde um grupo de gays e lésbicas se revoltou contra a repressão policial no dia 28 de junho de 1969, dando início a uma série de distúrbios que marcam o início do movimento pelos direitos homossexuais.
Ao saber que 260 homossexuais foram assassinados no Brasil no ano passado, Cocker ficou chocado. "Meu Deus! Espero que pelo menos os assassinos estejam na cadeia", reagiu.
Quando o deputado Jean Wyllys discursou no últimno trio elétrico do desfile, alguns participantes chegaram a reclamar aos gritos de "Toca Lady Gaga".
Assinaturas
Dirigentes do centro acadêmico da faculdade de Ciências Sociais da USP coletavam adesões ao abaixo assinado que a ABGLT organiza com objetivo de pressionar o Congresso pela aprovação do PL 122. "As pessoas estão aderindo. Em menos de meia hora conseguimos umas 40 assinaturas. Mas tem gente que não sabe nem o que é homofobia", disse Renan Quinalha.
Militantes do PSTU levaram bonecos da presidenta Dilma Rousseff, que determinou a retirada do kit anti-homofobia das escolas, e do deputado ultraconservador Jair Bolsonaro (PP-RJ). "O movimento gay está tomando o caminho errado ao se aliar ao governo. Dilma trocou o kit anti-homofobia pela defesa do Palocci", disse Babi Borges, do PSTU.
Fantasiado de Adão, o supervisor Oliveira, de 25 anos, resumiu o sentimento de muitos. "Estamos aqui para mostrar para todo mundo que somos gays e temos muito orgulho disso. A parada não é para fazer proselitismo político".
A parada começou por volta das 13h, uma hora depois do horário previsto com milhares de casais valsando ao som de Danúbio Azul. A maioria dos milhões de participantes era formada por gays de todas as partes do Brasil mas também havia muitos héteros simpatizantes da causa ou apenas curiosos de todas as faixas etárias.
Gupos geralmente vistos como contrários aos homossexuais como evangélicos, punks e skinheads foram à avenida Paulista para defender a tolerância e a diversidade. A prefeitura estima que o evento, o maior do mundo, gere uma renda de R$ 175 milhões para a cidade este ano.
Ocorrências
Às 18h15, quando o último trio já havia desligado o som na Praça Roosevelt, a Polícia Militar contabilizava apenas um caso de furto e três de posse de drogas. "Sem dúvida está bem mais tranquilo do que no ano passado. Acho que a chuva atrapalhou. Muita gente foi embora quando a chuva apertou", disse o tenente-coronel Sidney Alves.
Ao contrário de outros eventos, a Polícia Militar não fará uma avaliação de público da parada para evitar divergências com os organizadores.
Fonte do rss
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