MOVIMENTOS SOCIAIS NÃO PARTICIPARÃO DE JULGAMENTO DOS FAZENDEIROS ACUSADOS DA CHACINA DE MORADA NOVA
Os movimentos sociais e os familiares de JOSÉ PINHEIRO LIMA (DEDÉ), CLEONICE CAMPOS LIMA (esposa) e SAMUEL
CAMPOS LIMA (filho menor de 15 anos), decidiram não participar do
julgamento dos fazendeiros João David de Melo e Evandro Marcolino
Caixeta, que será realizado no fórum de Marabá na próxima quarta-feira,
06 de abril, presidido pelo Juiz Murilo Lemos Simão. Os dois fazendeiros
são acusados de serem os mandantes do assassinato do sindicalista DEDÉ,
sua esposa e filho, no dia 10 de junho de 2001. O motivo do tripulo
assassinato foi devido o sindicalista ter coordenado um grupo de
famílias que no ano 2000, ocupou a Fazenda São Raimundo, de propriedade
de João Davi. No local, o fazendeiro criava gado em parceria com Evandro
Marcolino. A fazenda foi classificada pelo INCRA como improdutiva e
desapropriada.
A
decisão dos Movimentos Sociais e dos familiares de não participarem do
julgamento, é uma forma de protesto contra o Tribunal de Justiça que
decidiu pela realização do julgamento em Marabá. O Ministério Público e
os advogados assistentes de acuação da CPT e da SDDH, ingressaram com um
Pedido de Desaforamento do processo perante o Tribunal requerendo a
transferência do julgamento de Marabá para Belém. De
acordo com o MP e a Assistência, o julgamento não poderia ocorrer em
Marabá, devido ao poder econômico dos acusados e as influencias
políticas que exercem na região. Fato que poderia influenciar na decisão
dos jurados comprometendo a imparcialidade necessária e exigida pelo
Código de Processo Penal. Em decisão publicada no dia 22/01/2016 os
desembargadores negaram o pedido e determinaram que o julgamento fosse
realizado em Marabá. Para os Movimentos Sociais e familiares, trata-se
de um retrocesso da justiça paraense, pois, dos sete casos de mandantes
julgados por crimes nos campo no na região, este será o primeiro, que o
Tribunal negou a transferência do julgamento para a capital. Para os
Movimentos Sociais e familiares a possibilidade de condenação dos
fazendeiros em Marabá é mínima.
A influência dos fazendeiros ficou clara no curso do processo, a
principal testemunha da acusação que incriminava os pecuaristas, foi
coptada pelos advogados dos acusados. Levada em um cartório de Marabá,
prestou um depoimento contando uma versão totalmente diferente daquela
prestada perante a autoridade policial. Há fortes indícios de que ela
tenha recebido um valor em dinheiro para mudar seu depoimento em favor
dos fazendeiros acusados.
No
dia do crime, o sindicalista se encontrava em sua casa em Morada Nova
se recuperando de uma malária que teria contraído no acampamento. Os
dois pistoleiros entraram na casa, atiraram na esposa que se encontrava
na sala, em seguida dispararam vários tiros contra DEDÉ que se
encontrava deitado em seu quarto. Samuel, que no momento brincava como
outros colegas nas proximidades, ao ouvir os tiros correu para a casa,
ao chegar em frente à residência encontrou com os dois pistoleiros que
estavam saindo de armas na mão. Um dos pistoleiros disparou um tiro
contra Samuel que morreu logo em seguida.
As
investigações feitas pela polícia civil foram falhas e incompletas. Os
dois pistoleiros executores das mortes nunca foram identificados e
presos. O julgamento ocorrerá quase 15 anos após os
crimes. Um exemplo de descaso do poder público que poderá resultar em
mais uma caso de impunidade no campo.
Marabá, 04 de abril de 2016.
FETAGARI SUDESTE/CPT MARABÁ/STR MARABÁ/ SDDH e FAMILIARES DAS VÍTIMAS.
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