Grupo finge ser da PF e faz arrastão em prédio de preso na Lava Jato
Edifício é onde mora o dono do 'Diário do Grande ABC', Ronan Maria Pinto.
Segundo a polícia, dois apartamentos foram assaltados em Santo André.
Segundo a Polícia Civil, dois apartamentos, um no 7º e outro no 8º andares, foram assaltados no edifício, que fica na Rua Dona Carlota, 262, na Vila Bastos, região central. O edifício de alto padrão tem um apartamento por andar.
De acordo com policiais do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra) ouvidos pela reportagem da TV Globo, a ação ocorreu entre 5h30 e 8h. Pelo menos 10 homens com roupa de agentes da PF disseram a funcionários que fariam uma diligência no apartamento do empresário.
Para a polícia, o porteiro disse que os assaltantes o ameaçaram de prisão por obstrução da justiça caso não abrisse o portão. Por isso ele deixou a quadrilha entrar em dois carros de polícia falsos: um Freemont preto e um Citroën branco.
Ao entrar no prédio, o grupo rendeu o porteiro e outros funcionários. Depois, renderam um casal e chegaram a entrar no apartamento deles, mas não levaram nada. Após isso, aproveitaram que um morador desceu para reclamar por não ter recebido seu jornal e o renderam.
Além do apartamento desta vítima, os assaltantes também roubaram outro (segundo os investigadores, nenhum deles era de Ronan). Os criminosos levaram joias e dinheiro. As vítimas foram ouvidas por investigadores no próprio edifício, pois estavam apavoradas. Segundo o delegado Giuliano Travain, assistente do 1º Distrito Policial de Santo André, os moradores ainda não apresentaram o levantamento do que foi roubado.
O G1 esteve no prédio e verificou que havia quatro câmeras de segurança perto do portão. “A portaria é blindada, possui sistema de monitoramento por imagens, mas o HD que contém as gravações foi subtraído também”, disse o delegado Travain. O policial acrescentou que sempre que houver dúvida quanto a veracidade de uma operação policial, a corporação deve ser acionada.
A PF informou, em nota, que seus agentes "sempre cumprem mandados judiciais portanto suas carteiras funcionais". "Em caso de dúvida, solicitar a identificação do chefe da equipe, com apresentação da carteira funcional e também o mandado judicial que está sendo cumprido. Pedir para ver os dois documentos, informando que não será avisado ao andar aonde os policiais se dirigem, apenas para conferência e abertura do portão."
O comunicado acrescenta que a PF “não foi oficialmente informada da ocorrência e de seus detalhes" e que "não se trata de crime de atribuição da Polícia Federal (por ser um roubo comum, com o uso de materiais com o nome da Polícia Federal sendo utilizados para facilitar esse crime)". O comunicado acrescenta, porém, que a corporação "poderá atuar em colaboração com a Polícia e a Justiça estaduais, caso seja solicitado".
O empresário Ronan Maria Pinto, dono do Diário do Grande ABC (Foto: Joedson Alves/Estadão Conteúdo)
Lava JatoRonan foi preso em 1º de abril, durante a 27ª fase da Lava Jato, batizada de Carbono 14. Além dele, o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, conhecido como Silvinho, também foi alvo da operação. No dia 5, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância, decidiu converter a prisão temporária do empresário em preventiva - ou seja, por tempo indeterminado.
Para Moro, manter Ronan preso traz "riscos à investigação, à instrução criminal e à ordem pública". Segundo as investigações, ele teria recebido R$ 6 milhões em troca da não publicação de supostas informações que ligariam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ex-ministros José Dirceu e Gilberto Carvalho à morte do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT).
As investigações apontaram indícios de que Ronan conseguiu o dinheiro ameaçando publicar as informações no jornal Diário do Grande ABC, do qual é dono. A quantia que recebeu, conforme o MPF, foi repassada por meio de um empréstimo feito pelo pecuarista José Carlos Bumlai, junto ao Banco Schahin.
Bumlai reconheceu em depoimento que fez um empréstimo de R$ 12 milhões a pedido do PT e disse que a quantia nunca foi paga ao banco. O dinheiro seria para pagar dívidas de campanha.
O MPF diz que a dívida do pecuarista foi, na verdade, um pagamento de propina da Schahin, cuja empresa de engenharia pertence ao grupo fechou um contrato no valor de US,1,6 bilhão para o aluguel de navios-sonda para a Petrobras.
Do montante do empréstimo, metade foi repassada à empresa Remar e que, posteriormente, teria chegado a Ronan Maria Pinto. O MPF sustenta que essa intermediação foi feita para garantir que os recursos não fossem encaminhados diretamente ao empresário.
Ronan nega que tenha feito algum tipo de chantagem. Em depoimento prestado à Polícia Federal na segunda-feira (4), o empresário disse que, de fato, pegou R$ 6 milhões da Remar, mas afirmou que o dinheiro era para pagar a compra de uma nova frota para a empresa de ônibus da qual também é proprietário.
A questão envolvendo o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira também passa pelo suposto esquema de chantagem. Ele é suspeito de ter sido o principal intermediador entre Ronan Maria Pinto e o PT. Ao contrário de Ronan, Silvinho foi solto.
Ronan
Maria Pinto e Silvio Pereira, presos durante a 27ª fase da Operação
Lava Jato, chegam ao Instituto Médico Legal (IML) para fazer o exame de
corpo de delito, em Curitiba (PR) (Foto: Rodrigo Felix Leal/Futura
Press/Estadão Conteúdo)
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