segunda-feira, 15 de junho de 2015

Atentado suicida de britânico de 17 anos no Iraque deixa cidade natal em choque

Atentado suicida de britânico de 17 anos no Iraque deixa cidade natal em choque

Família e conhecidos descrevem adolescente como 'gentil' e 'inocente' e dizem que ele não mostrava sinais de radicalização; pais acreditam que ele foi 'aliciado' pela internet.

Da BBC
O 'Estado Islâmico' postou no Twitter fotos de Talha Asmal se preparando para o ataque suicida (Foto: BBC/ Reproduçã/ Twitter)O 'Estado Islâmico' postou no Twitter fotos de Talha Asmal se preparando para o ataque suicida (Foto: BBC/ Reproduçã/ Twitter)
Líderes comunitários de Dewsbury, no condado de West Yorkshire, na Inglaterra, cidade natal de um adolescente tido com o mais novo britânico a participar de um atentado suicida a bomba, se disseram chocados com o ataque.
O vereador de Dewsbury Masood Ahmed disse que Talha Asmal, de 17 anos, não era diferente de outros adolescentes e que a cidade está "arrasada".
Acredita-se que Asmal tenha se tornado o mais novo homem-bomba britânico, ao cometer um ataque em uma refinaria ao sul de Baiji, no Iraque. Ele era um dos quatro homens-bomba que realizaram os ataques que mataram ao menos 11 pessoas na cidade ao norte de Bagdá no sábado.
Até então, o mais novo homem-bomba britânico era Hasib Hussein, da mesma cidade, que aos 18 anos se explodiu em um ônibus como parte dos atentados terroristas de 7 de julho de 2005 realizados no sistema de transporte público em Londres.
A família de Asmal disse que ele foi aliciado na internet, descrevendo o ocorrido como "uma tragédia".
Informações nas redes sociais ligadas ao grupo autodenominado "Estado Islâmico" dizem que Asmal, usando o nome Abu Yusuf al-Britani, participou do ataque de sábado.
"A comunidade está arrasada e chocada com as notícias", disse Ahmed, que é do Partido Trabalhista.
À rádio BBC 5, ele disse que "não havia sinais" de que Asmal havia sido aliciado por extremistas online - como sua família acredita que tenha ocorrido.
"Ele não era diferente de nenhum adolescente em termos de ser amoroso, cuidadoso, ingênuo e inocente. Ele adorava esportes e estava indo OK na escola", disse Ahmed.
Lorraine Barker, diretora executiva da escola em que Asmal estudava, disse ao jornal Times que ele era "muito quieto e reservado".
"Ele não chamava nenhuma atenção para ele mesmo, era só um aluno meticuloso", disse.
Ela disse que funcionários e alunos ficaram "completamente em choque" quando ele viajou para o Oriente Médio.
Em um comunicado divulgado no domingo, a família disse que ele era "um adolescente amoroso, gentil, afetuoso e afável".
"Ele nunca nutriu nenhum sentimento ruim contra alguém nem demostrou qualquer tipo de visão violenta, extremista ou radical", disseram.
"A idade tenra e a ingenuidade de Talha aparentemente foram exploradas por pessoas desconhecidas que, se escondendo atrás da anonimidade da internet, ficaram seus amigos e se engajaram em um processo calculado e deliberado para atrai-lo."
"Estamos todos, naturalmente, profundamente arrasados e com o coração partido pela tragédia que parece ter se abatido sobre nós."
Para Tom Symond, analista da BBC para Assuntos Internos, o fluxo de jovens homens e mulheres britânicos para zonas de guerra na Síria e no Iraque continua a ser o maior desafio do esforço contraterrorista britânico.
Autoridades estimam que mais de 700 cidadãos britânicos tenham feito o trajeto, alguns adotando o nome de "al-Britani" para representar suas origens. Metade voltou para o Reino Unido, e, segundo Symond, são vistos como potencial risco à segurança do país.
Um levantamento feito pela BBC indica que mais de 30 jovens britânicos ainda estejam em zonas de guerra - o número que pode chegar a 50.
Mas a pesquisa indica que um terço é desconhecido da polícia e dos serviços de segurança, o que torna seu trabalho de mapear extremistas e priorizar aqueles que representam riscos maiores muito mais difícil.
'Não são vítimas'
Shahid Malik, ex-parlamentar e amigo da família de Asmal, disse que foi "perturbador" ver como Talha parecia relaxado nas fotos que o "Estado Islâmico" afirma terem sido tiradas logo antes de sua missão suicida.
"Ele parecia em paz. Parece que está pronto para ir e encontrar o criador. É uma indicação clara do sucesso que aliciadores do 'Estado Islâmico' têm tido em envenenar e fazer lavagem cerebral em Talha e garotos como ele", disse.
Malik comparou o caso de Asmal - e outros semelhantes - ao de vítimas de abuso sexual.
"Muitas vezes os pais não têm ideia do que está acontecendo e os próprios meninos não se veem como vítimas - e mesmo a sociedade não os vê assim."
"Eu conheço a família. São amantes da paz, uma família linda - não fariam mal a uma mosca."
"Eles estão completamente consternados e arrasados. O mundo deles foi despedaçado além do compreensível."
Ele acrescentou que o caso de Asmal pode servir de alerta.
"As mesquitas precisam confrontar essa ideologia do mal de frente. Os jovens precisam ser ensinados sobre o que é aceitável e o que não é a respeito da ideologia do 'Estado Islâmico'".
'Pregadores do ódio'
O "Estado Islâmico" capturou grandes faixas de território no leste da Síria e no norte e oeste do Iraque.
Pelo menos 700 pessoas do Reino Unido viajaram para apoiar e lutar com organizações jihadistas da área - a maioria se uniu aos "Estado Islâmico".
Asmal viajou para a Síria com outro adolescente de sua região, Hassan Munshi.
Em um pronunciamento, o Ministério do Interior disse: "Desde 2011, treinamos mais de 160 mil pessoas trabalhando na linha de frente do nosso setor público para identificar e prevenir extremismo, detivemos cerca de 100 pregadores do ódio - mais do que qualquer governo - e, com sucesso, tiramos do ar mais de 90 mil páginas relacionados a terrorismo da internet."
"Também removemos ou recusamos 30 passaportes em 2013 e 2014 em casos de pessoas que foram consideradas em risco de viajar para a Síria ou Iraque."
Britânicos envolvidos com terrorismo no exterior:
- Abdul Waheed Majid, de Crawley, em West Sussex, foi o primeiro britânico a fazer um ataque suicida, em Alepo, na Síria, em fevereiro de 2014
- Ibrahim al-Mazwagi, de 21 anos, foi supostamente o primeiro britânico morto lutando na Síria. O estudante da Universidade de Hertfordshire foi baleado e morreu em fevereiro de 2013
- Abdullah Deghayes viajou para a Síria com seu irmão de 16 anos em janeiro de 2014. Ele foi morto três meses depois, logo após completar 18 anos

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