Israel e Hamas acusados de crimes de guerra durante conflito em Gaza
Governo israelita e militantes palestinianos rejeitam as
conclusões da investigação encomendada pela ONU. Destruição atingiu
escala "sem precedentes".
Uma investigação das Nações Unidas concluiu
que as forças israelitas e palestinianas podem ter cometido crimes de
guerra durante o conflito em Gaza no Verão do ano passado. O relatório
revelado esta segunda-feira refere níveis de destruição e sofrimento
“sem precedentes”.
O painel de investigadores independentes
– mandatados pelo Conselho dos Direitos Humanos da ONU – “conseguiu
juntar informação substancial que aponta para violações graves do
direito humanitário internacional e das leis internacionais sobre
direitos humanos por Israel e pelos grupos armados palestinianos”. “Em
alguns casos, estas violações podem consistir em crimes de guerra”,
acrescentam.
No que respeita a Israel, os autores do
relatório responsabilizam a cúpula militar pela estratégia ofensiva,
dando o exemplo dos “ataques das Forças de Defesa Israelitas [IDF, na
sigla inglesa] a edifícios residenciais, a utilização de artilharia e
outras armas explosivas com efeitos de grande alcance em áreas altamente
povoadas, a destruição de bairros inteiros em Gaza e o recurso regular a
munições reais, sobretudo em situações de controlo de multidão na
Cisjordânia”.O Governo israelita questionou as conclusões da investigação, garantindo que as suas forças actuaram “de acordo com os padrões internacionais mais elevados” – para contrariar as acusações presentes no relatório da ONU, o Ministério dos Negócios Estrangeiros deu como exemplo um outro documento, de Março, publicado pelo Jewish Institute for National Security Affairs, um grupo de interesse norte-americano pró-Israel, que corrobora a versão de Telavive.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, qualificou o documento como “enviesado” e atirou acusações aos seus autores. “A equipa que o redigiu está sob uma comissão que faz tudo excepto proteger os direitos humanos.”
Israel recusou participar na comissão de investigação da ONU à intervenção militar em Gaza, acusando o painel de ter uma presunção de culpa à partida contra as IDF. O líder da missão, William Schabas, foi mesmo substituído depois de a sua isenção ter sido posta em causa pelo envolvimento anterior com a Organização de Libertação Palestiniana (OLP).
Sem nomear concretamente o Hamas (com referência apenas para “grupos armados palestinianos”), os autores do relatório dizem ter “graves preocupações em relação à natureza inerentemente indiscriminada da maioria dos projécteis dirigidos a Israel por estes grupos armados e ao disparo sobre civis”. Há ainda a revelação de “execuções extrajudiciais de alegados ‘colaboradores’”.
O dirigente do Hamas, Ghazi Hamad, rejeitou as conclusões do relatório, afirmando, segundo o The Guardian, que os bombardeamentos realizados pelo grupo foram dirigidos a objectivos militares e não civis. A Autoridade Palestiniana pretende utilizar as acusações presentes no documento para apresentar um caso contra Israel junto do Tribunal Penal Internacional, ainda esta semana, segundo a imprensa israelita.
Durante 50 dias, as IDF levaram a cabo operações terrestres em Gaza, em resposta aos bombardeamentos pelos militantes do Hamas – o grupo armado palestiniano que controla a Faixa de Gaza. A ONU estima que, do lado palestiniano, tenham morrido 2251 pessoas, das quais 1462 eram civis, enquanto Israel sofreu 67 baixas militares e seis civis.
As acusações de crimes de guerra no conflito israelo-palestiniano não são novas. Na sequência da ofensiva israelita em Gaza no final de 2008, a ONU publicou um relatório em que acusava os dois lados de violações da mesma magnitude.
A invasão israelita do último ano parece, contudo, ter tido proporções mais elevadas, pelo menos na leitura da chefe da comissão, a juíza norte-americana Mary McGowan Davis. “A extensão da devastação e do sofrimento humano em Gaza não teve precedentes e irá ter um impacto nas próximas gerações.”
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